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Escritora diz que o seu Portugal não é o de Cavaco Silva

04-04-2014 - D.L

Premiada com o prémio da APE pelo livro “E a Noite Roda”, a jornalista e escritora Alexandra Lucas Coelho critica o presidente da República e diz que o país não é dele, mas dos “bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes”. Secretário de Estado da Cultura foi apupado.

No discurso de agradecimento pelo prémio da APE ao seu livro “E a Noite Roda”, a jornalista e escritora Alexandra Lucas Coelho criticou o Presidente da República que habitualmente faz a entrega do prémio mas que desta vez optou por se fazer representar. “Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido”.

“Fogem do cara-cara"

Acusando o presidente de fugir ao cara-cara, a escritora considerou não ser estranho “que este presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país”.

No entender da jornalista que viveu três anos e meio do Brasil e agora está de volta a Portugal, “Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa”.

E prosseguiu: “Eu gostava de dizer ao atual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do governo do seu partido. É do arquiteto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da 'total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página'”.

Para Alexandra Lucas Coelho, “este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.”

Secretário de Estado da Cultura apupado

E, para não deixar dúvidas sublinhou: “Os atuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.”

Segundo o relato de pessoas presentes à cerimónia, o secretário de Estado da Cultura, Barreto Xavier, tentou responder à escritora, que dissera “eu não devo nada a ninguém”, que tinha um dívida para com o Estado por este também subsidiar o Prémio da APE. Foi apupado pela assistência.

Ler o discurso na íntegra:

 

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