Primárias, à força, no PS
18-07-2014 - Eurico Figueiredo/Fernando Condesso
Independentemente das boas ou más razões que poderão ter presidido à decisão de António José Seguro (AJS) de avançar com primárias para a escolha do candidato a primeiro ministro pelo PS ,a notícia, em si, é muito boa. E também sinal, imperativo, dos novos tempos!
As razões para que nos seja simpática a decisão de AJS são muitas.
A primeira tem que ver com a crise de confiança do eleitorado nos actuais partidos políticos e na classe política em geral, crise que todas as sondagens confirmam que tende a agravar-se.
Não vemos outra forma de a combater senão aumentando a intervenção (e consequentemente a responsabilização) dos cidadãos nas decisões políticas e na escolha dos seus representantes na vida política.
Em carta aberta enviada, por um de nós, a AJS a 17 de Outubro de 2013, propúnhamos-lhe esta opção. O que alargaria a influência dos partidos para lá dos seus militantes, reforçaria a autonomia e capacidade de intervenção do mesmo ao permitir a coexistência da ortodoxia programática partidária e o necessário pragmatismo na governação: facilitando alianças e assim aumentado a governabilidade.
AJS só “respondeu”, favoravelmente, à nossa sugestão, em Junho de 2014… Pelas piores razões conjunturais: apego ao poder, face ao desafio feito à sua liderança por António Costa (AC).
Não encontrou outra saída para ultrapassar a pressão provocada por AC, candidato a um lugar que não estava estatutariamente disponível, nem em discussão. Apostou numa forma de democracia participativa, submetendo a primárias os candidatos a primeiro ministro do PS. Revelando, “en passant”, até que ponto os actuais partidos com apetência governativa não passam de recordações deprimentes do que já foram, ao aproveitar o momento para nos dizer que escondeu o que há anos pensava, (ou quer – nos fazer crer que pensava): a sua distanciação crítica em relação ao consulado de J. Sócrates e ao memorando que este e os partidos de direita assinaram.
Como se pode ser secretário-geral de um partido e candidato a primeiro-ministro escondendo a sua opinião em assuntos políticos capitais? Quem tem, ao fim e ao cabo, as funções de S. Geral do PS e de candidato a primeiro-ministro: o fantoche do “faz de conta”ou a pessoa de AJS, se é que esta existe? Pior: sentiu-se obrigado a omitir as suas opiniões para manter a unidade do partido…. Aproveitado o actual aperto para dizer verdades que julgava dever ocultar! A” amerta” prevaleceu sobre a necessária transparência de opinião de um líder político sobre matéria política relevante!
De um ponto de vista da ética política, a atitude de AC não prima, contudo, pela exemplaridade.
No penúltimo congresso do PS, mobilizou tropas, mas desistiu do combate que lhe disseram que iria perder. Quando, se tivesse sido derrotado, a derrota lhe daria uma maior legitimidade para o actual desafio à liderança de AJS. Assim apenas publicitou a sua tibieza, (defeito grave para um líder) desafiando alguém quando já ninguém acredita na sua capacidade de liderança ou credibilidade para futuro primeiro-ministro. Aproveitando uma parca vitória do PS para o desafiar o líder…
Mas não haverá no PS, um Homenzinho (ou uma Mulherzinha), que vista calça comprida, capaz de triangular esta luta, quanto mais não seja para memória futura?
A decisão de AJS teve, todavia, o desmérito de ter sido automaticamente desvalorizada com a opção de que, se perder a votação para candidato a primeiro-ministro, se afastar da liderança do partido, desqualificando, desta feita, o cargo de secretário-geral do mesmo. Mas tem valor em si, pela iniciativa, e de, com o tempo, vir a obrigar os partidos rivais a terem de vir a imitar o PS, por mera lógica da concorrência!
O que mais nos surpreendeu, todavia, foi o facto de insuspeitos senadores do PS virem pedir contenção no debate, que deveria ser breve para evitar o desprestígio de um PS, eventual alternativa governativa.
Será que acreditam mesmo que os actuais partidos políticos têm algum prestígio junto dos portugueses? Tiveram rapidamente a resposta: a escolha, consensual, por AJS e AC de Jorge Coelho para Petrónio da ética socialista.
Eurico Figueiredo
Fernando Condesso
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