Portugal, país pobre
18-07-2014 - Luís Alves de Fraga
A menos que se descubra petróleo ou gás natural na plataforma marítima nacional, o nosso território será sempre pobre de recursos materiais, incapaz de se autosustentar e, agora, por força dos endividamentos externos, não atrairá grandes investimentos financeiros que permitam uma reviravolta económica significativa. Teremos de viver abaixo da suficiência. Ora, isto quer dizer que terá de haver uma retracção nos gastos que os empréstimos sustentaram nos últimos doze anos. Essa retracção vai fazer-se sentir, em primeiro lugar, em todos os serviços dependentes do orçamento estatal: saúde, justiça, educação, segurança, administração interna, segurança social, administração pública, autarquias, fundações, institutos, parcerias e tantas outras formas de ligação do Estado à Nação.
Como o crescimento económico depende do investimento, a não ser que haja um novo “plano Marshall” gerado algures no estrangeiro, não se prevê que Portugal, por força da razão acima invocada, possa oferecer condições especiais para uma nova entrada de capitais. Desta forma, o futuro representará uma regressão nos padrões de vida a que o cidadão médio estava habituado; o consumismo estará só disponível para alguns estratos sociais e o crédito será caro e difícil de obter.
O novo modelo de vida passará por uma redefinição da classe média e dos objectivos da mesma, bem como por um novo tipo de funcionalismo público e autárquico, ao mesmo tempo que se terão de redireccionar os programas de ensino secundário, técnico e superior à luz de novas realidades sociais e económicas — os conceitos de escolaridade sofrerão, necessariamente, ajustamentos como consequência da viragem política que for feita, pois dependerão, mais do que nunca, de se viver numa sociedade liberalizante ou socializante, o mesmo acontecendo aos programas de saúde pública.
O tempo da abundância aparente acabou, porque cada um terá de viver com os rendimentos que for capaz de gerar, tendo em conta que o Estado será, indubitavelmente, um Estado “remediado” com clara tendência para a “pobreza”.
Os próximos anos vão ser tempos de ajustamento a novas realidades, a novos padrões e, por conseguinte, a novos comportamentos sociais. Não me chamem, por favor, profeta de desgraças, pessimista ou “Velho do Restelo”, por me limitar a antecipar um cenário ditado pelo realismo de uma visão estribada nos resultados eleitorais dos últimos trinta e oito anos, pois só uma brusca viragem à esquerda na tendência de voto poderia alterar o quadro que vos tracei.
Essa viragem, como o demonstra a prática das urnas, jamais se verificará e, assim sendo, jamais haverá uma ruptura que desregule o comportamento tido como normal do eleitorado português. O comportamento político liberalizante ou socializante dependerá, isso sim, de uma redução ou de um aumento na votação à esquerda do partido socialista, pois os sectores políticos que nessa área se situam constituirão o “tempero” que regula a actividade dos restantes.
Luís Alves de Fraga
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