O PUNHAL INFINITO
06-03-2020 - Fernando Pacheco
O cinismo do poder
Tortura a realidade
Até ao irrazoável absoluto
Da tirania ideológica
E obriga a metafísica
Ao reduto da clandestinidade
Decapita o pensamento
Na guilhotina da impostura
E martiriza a imaginação
Até à doença mental
Da obediência democrática
Procustiana compulsiva
Profana o milagre do amor
Até à desarmonia
Da ruína sentimental
Impondo a lei disciplinar
Ao mistério reprodutivo
E o exílio penal à fantasia
Devasta o sentido cósmico
Da pura fertilidade
Até à cisão moral do juízo
E desterra os vindouros
Para o futuro do nunca
Da eugenia sanitária
Refina o embuste filosófico
Da caverna de Platão
Com a pílula neuroquímica
Até à castração genética
Nos casulos de extermínio
Do hospício do Matrix
Desnatura o Mundo
Até ao deserto crematório
E calça a bota totalitária
Da serpente informática
Para esmagar a dissidência
Nas armadilhas da rede
Atiça o desnorte tecnológico
Com a miragem digital
Da falsa ilha afortunada
E intima a vida a navegar
Na barca louca do inferno
Até ao naufrágio do terror
Neste vórtice patológico
O gene egoísta digitalizado
Até à imortalidade satânica
Anuncia a trans humanidade
Da hibridação robótica
E a eutanásia da política
Nas tripas do algoritmo mutante
Germina o minotauro cibernético
Cuja rapacidade astronómica
Escava o buraco negro
Da implosão planetária
E da clonagem universal
Na eternidade de Deus
O fim do tempo perpétuo
Oscila ainda indecidível
Na incógnita incendiária
Dos labirintos da paixão
E da vontade da alma
Incomputáveis como nós
Os algarismos desordeiros
Irredutíveis à lógica binária
Brilham na fissura abissal
Da incompletude matemática
Contra a fraude numérica
E resgatando connosco
O gene imortal biológico
Ao domínio dos autómatos
Reificam o presságio redentor
Na virtude assombrosa
Do telúrico punhal infinito
Fernando Pacheco
Alvor 29 de fevereiro de 2020
Voltar |