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MEMÓRIAS

13-12-2019 - Pedro Barroso

Todos temos na nossa vida figuras tutelares q nos foram referências em varias áreas. Professores. E nunca é demais lembra-las, pois em muito do que fazemos pensamos no modo como optamos, pensamos, sentimos, escrevemos e vivemos essa influencia indelével está lá para lá de encomendas tutelares ou adn's obrigatórios.

Porem, no ensino e na escola prolongando-se pela adolescência, a grande figura tutelar de aprendizagem foi meu pai. Aí não há equívocos e o ADN impôs-se mesmo. Os conceitos de cumprimento, seriedade, pontualidade, estudo, conhecimento, interesse pela Historia e pelo saber em geral são-lhe devidos. Era um professor e pedagogo insistente e permanente; viajar com ele era estar a aprender a cada quilómetro. Mesmo em viagens, nas férias, das comidas saltava para a economia local, o que determinava a pecuária e as culturas dominantes, dava um salto â justificação histórica de cada castelo, fazíamos contas aos kms que faltavam e deslumbrava-nos com detalhes da indústria e comercio local que depois confirmávamos nos mercados e feiras. Era um aprender permanente.

Depois, ok...No Liceu havia sempre aquela professora nouvelle vague que abusava das mini saias e nos fazia estremecer o buço adolescente, havia o Neiva que sabia sempre tudo e tinha só 18's figuras marcantes, e houve a descoberta do atletismo, o rapaz tinha jeito para as corridas curtas muito bem, sim senhor.

Mas foi sobretudo no meu 6º ano no Liceu Camões que o deslumbramento do conhecimento e da reflexão sobre a vida e toda a sua teia estrutural saltou das grades da convenção e explodiu horizontes pelo verbo, exemplo e inteligência fulgurante do mais inusitado professor de Latim que me poderia caber - Vergílio Ferreira. Sim, o escritor.

Para mim, um Nobel sonegado à nossa Literatura e um dos maiores pensadores e escritores do nosso tempo; e o pensar, o modo e o tempo, a distância das coisas e a evidência dos sentidos e razoes interiores, tudo se tornou alacremente interrogativo e estratosférico ouvindo o Mestre em dias de génio, precisamente quando - em certos dias mais envergonhados da nossa colectiva obstrução...- pedíamos clemência das latinidades e ele nos fazia voar alto nas asas da sua própria reflexão existencial.

Inesquecível. Sempre que vou a Gouveia fico a falar com ele longos minutos, lembrando tudo e levando meia dúzia de assuntos pessoais.

Depois dele Nelson Mendes foi também um professor marcante. Pela desconstrução de todo o saber clássico anquilosante e pela construção dialéctica com que nos inundou na universidade. sim, "eu, aluno a ti, professor, pergunto". E as perguntas eram incómodas, criativas, pertinentes. Adepto das pedagogias não directivas, summer hill, etc a coisa caia num caos organizado. Tudo era libertário e aparentemente deslumbrante. Um susto.

Um abanão dos antigos. Mas que foi marcante lá isso foi.

Na música, pela simplicidade e heroísmo non challant, pelo exemplo e autoridade natural, pelo sorriso e pelo emblema sem emblemas, pela tal cidade livre e sem ameias, foi do Zeca que bebi o tempo, o ritmo, a dignidade, a camaradagem. O convívio de cavaleiros andantes de terra em terra é algo inesquecível e as histórias de estrada eram sempre exemplo de abertura e espírito diligente, voluntarioso e moderno ao mesmo tempo. A sua modéstia e desapego de convenções eram irradiantes. Zeca, sempre. Inesquecível e marcante.

Nas artes plásticas foi do convívio c Mestre Martins Correia que aprendi a perceber as formas e os fundos os espaços e matérias o salto tão débil e singelo entre um traço e a sua genialidade. As cores e a luz. A força enorme que podia conter um homem frágil. A influencia foi tal que criei um heterónimo Pedro Chora quase há 30 anos brinca com os volumes e as formas em que, de algum modo, em mim prolongo, os ensinamentos dessa tertúlia de decénios, ora em Lisboa, na Brasileira, ora mais tarde no velho Central na Golegã. Onde as toalhas riscadas foram rascunhos de um ensino espontâneo e inesquecível.

Recebi recentemente de sua filha Elsa, pelos meus anos, um bronze original do Mestre, que passa a constituir-se como uma das peças mais preciosas da minha modesta, mas já significativa colecção de arte, a qual de algum modo, gosto de partilhar; e que, em datas a protocolar, tenciono abrir a visitantes de forma organizada, assim haja saúde.

A todos estes Mestres de mim, o meu obrigado. O resultado pode não ter sido grande coisa mas não foi por vossa culpa.

Os Mestres eram geniais.

O aluno é que deve ter falhado em muita coisa. Paciência.

Pedro Barroso

 

 

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