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TÍLIA, SEM AÇUCAR

15-11-2019 - Armando Alves

Caro Wolfwood,

Como sabe sou propenso a peripécias caricatas que me fogem do controlo, de modo que me vejo numa situação de aflição.

Foi no decorrer da noite de ontem, logo que saí de sua casa, que a conheci. “A”! Está o amigo a pensar, e muito bem. Infelizmente dá-se o infortúnio de “a” ser casada! Facto que desconhecia até esta manhã ao ser surpreendido pelo duque de Kedaya enquanto afagava os caracóis da sua linda esposa. «Duque.» Cumprimentei acenando a cabeça numa tentativa de manter a compostura. A cara da criatura congelada numa careta confusa. Meti-me fora da cama como vim ao mundo e tentei dar continuidade à conversa. «Permita-me que lhe gabe a encantadora esposa... Casa! Digo, casa! Cheia de adornos e ornatos! É vitoriana, certo?»

Sabe aquele revólver de prata que o duque carrega sempre consigo? Aquele que nos perguntava-mos, há coisa de uma semana, se estaria sequer carregado? Bem,estava carregado por volta das oito da manhã, não tenho razões para crer que seja diferente em qualquer outra altura.

Para minha surpresa, escapei ileso pela janelaenvergando apenas a cartola como vestimenta. Atrás de mim, sons de pólvora a rebentar e madeira a estilhaçar motivavam-me as pernas. Meti-me na primeira carroça que encontrei e aticei os equídeos que a conduziam.

Por castigo, a maldita carroça transportava uma vasta quantia de sacos de ouro que tinham como destino o prestigiado banco Dois Tostões, o que me colocou na capa do jornal desta tarde. Assim que dei pela presença de tal riqueza, saltei para um dos cavalos e soltei a amarra que o prendia à carroça. O plano foi desastroso! Acarroça tombou e a carga invadiu a praça do mercado como uma onda. A multidão rugiu e atirou-se ao ouro como se... Bem como se de ouro se tratasse. Foi uma guerra suculenta travada com peixes e frutas!

Foi na taberna Três Javalis e Um Porco que fui encurralado por dois oficiais. «Senhores!» Falei com altivez. «Tudo não passa de um equívoco! Vós sabeis que sou homem de palavra, mas que se for capturado enfrentarei a forca! Dizei-me então, fareis o que está certo? Ou ireis condenar um homem inocente?»

E foi assim que acabei na prisão.

De modo que lhe ficaria grato se me trouxesse um chazinho antes da hora do enforcamento. Saber-me-ia muito bem depois deste dia ingrato.

Melhores cumprimentos,

Wolfkrow

P.S.: Tília, sem açúcar.

 

 

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