Hoje é o dia do meu país
14-06-2019 - Pedro Barroso
Olá, aprendi as tuas letras e palavras no regaço do ventre materno. Nascido de pais professores, aprendi a amar-te e tolerar-te os erros; relevar virtudes, decorar heroísmos e distancias; esquecer pequenez.
Era também pressuposto ignorar a perversidade dos jacobinos e ditadores. Eram no fundo, gestores comandantes provisórios, metidos a acionistas vitalícios do país; como se o patrão Salazar fosse eterno e o país a sua quinta regular.
Aprendi nas escolas o forçar da opinião, as molduras e crucifixos vigilantes, e descobri os trilhos difíceis da Liberdade outra - a de pensar e descobrir as verdades aprisionadas.
Vibrei com a paixão de um Abril libertador e o sonho renascido do olhar vertical. Deixei pelo cante e o poema tudo o que de mim achei e revelei e acreditei.
Hoje é o dia do meu país. Um dia de poeta. Um dia maior. Conheço-o de palmo a palmo; sim, digam-me um vento, uma praia, um espaço, um recanto um virar de estrada e eu, provavelmente, já lá estive. Ontem ainda, ou há 50, ou 60 anos. Fui. estive.
Conheço-te como as minhas mãos, usa dizer-se. Em palcos de ornatos dourados e luxos; outros de lona e precaridade.
Amo-te na Liberdade e na alma antiga de um povo que apesar de tudo se não deixou vergar. Tive muitos milhares e milhares juntos ali, à minha frente. Juntos conjurámos as coisas da ternura, da justiça, do sonho e do desejo.
Detesto os caminhos ínvios das justiças q continuam jacobinas e prolixas, e não deixam o Pelourinho livre para o acto pedagógico directo e justiceiro que tantas vezes nos apetecia.
Mas de toda a história e de toda a Diáspora aprendida e visitada, de toda a poesia que senti e escrevi - ou da que li nos outros, ou estudei - fica um halo.
Dos artistas fundos da minha pátria fica um cheiro. Uma tentativa imensa de resistir e insistir no Belo e na Miragem.
Hoje é o dia do meu velho Portugal. Nação imensa que vai pelo Mundo fora, sem fronteiras; na alma e na saudade de todos os que o vivem, mesmo longe, sem dogma nem limite.
A alma o sonho e a Língua. Belíssima. Difícil mas encantatória.
Portugal, ouve, senta-te aqui um minuto.
Convém dizer que te amo. Acho que nunca te tinha dito isso.
Por vezes é tempo de dizer as coisas que nunca se ousou admitir.
Fica-nos bem.
E reconciliamo-nos com a nossa gesta. Os nossos erros e infâncias eternas.
O nosso viajar secular pela dúvida. O marear extremo na tempestade da vida. A aventura imensa de sermos portugueses.
Dá-me um grande abraço. Parabéns. És um velho amigo.
Brindemos ao Futuro.
Pedro Barroso
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