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No calor da noite

20-06-2014 - Francisco Pereira

Roubei descaradamente o título desta croniqueta, a um grande filme de 1967 com o igualmente excelente actor Sidney Poitier, fizeram também uma série de televisão com o mesmo nome nos anos oitenta com o actor Carrol O’Connor como protagonista.

Uma da manhã, e está um calor infernal, apesar de as janelas estarem, escancaradas, não durmo, revolteio-me tal qual uma traineira num mar revolto e tal como essa pobre embarcação perdida na imensidão salgada batida pela tempestade, também eu sou acossado pelas ondas.

No meu caso as ondas são sonoras, ondas que me atacam cada vez que estou quase a pregar olho, nessa altura rebenta uma qualquer chinfrineira, a primeira que talvez devido ao sono, identifiquei, como sendo os sons de um qualquer símio enjaulado, afinal era apenas um adolescente que se divertia a jogar um jogo de vídeo, só que a criatura, urrava e guinchava, o que me levou a identificar primeira e falsamente o arraial como sendo feito por algum chimpanzé ou algum macaco que estivesse trancafiado nalguma garagem, afinal não era apenas um puto parvo aos berros por causa de um jogo.

Quase a pregar olho de novo, eis que passa um grupo de estranja, dessa que veleja incessantemente por esta terra sem fazer nenhum, a escutar a musiquinha lá da terreola aos berros, falando como se estivessem em plena avenida da Liberdade ao meio-dia, amaldiçoei algumas das pontes que servem o percurso até Portugal porque podiam ter caído e evitado a entrada deste tipo de selvagens. Ao longe alguém usava um berbequim e martelava, atentem que seriam por esta altura umas duas da manhã, excelente altura para martelar.

Duas e meia e a insónia continuava, mais um grupo excursionista de noctívagos, os fedelhos berravam a plenos pulmões, os pais gritavam, riam, e conversavam como se estivessem numa esplanada à beira mar, portuguesíssimos todos, sim porque a falta de respeito e a estupidez não escolhem raças e infelizmente os estúpidos cá na terra são mais que muitos e das mais variadas cores e feitios.

No meio de toda aquela cacofonia eu continuava sem pregar olho, por esta altura já eu amaldiçoara todos os panteões conhecidos pelo Homem, estando no processo de me amaldiçoar a mim próprio por não conseguir sossegar e adormecer. Os cães latiam como possessos de quando em vez. Na rua passam mais dois sevandijas, completamente ébrios, facto perceptível pelo seu linguarejar desconexo, aos berros mandam-se um ao outro, para aquelas partes do vernáculo, que o pejo e algum decoro, pouco, me impedem de reproduzir.

A festarola devia ter acabado porque eram já três da manhã e iam passando vários animados grupos de cretinos aos berros, como se estivéssemos em plena luz do dia. Que gente é esta? Que tipo de selvagens são estes? Será que o respeito pelo descanso dos outros caiu em desuso? Pois parece que sim. Chamar pelos representantes da Autoridade? Para quê! Não era certo que viessem e se o fizessem chegariam tarde. Aqui a questão é cultural e educacional, não é um caso de polícia.

Prova provada que enquanto sociedade estamos perfeitamente falidos de valores de civismo e respeito pelo próximo o adensar da madrugada trouxe por fim o sossego desejado, cansado finalmente adormeci. Mas ficou-me na mente a tristeza destas gentes que ao invés de estarem melhores, cada vez estão mais babuínos, mais matarruanos e absolutamente abimbalhados, e esta terra de Almeirim não é diferente de outras bem pelo contrário, por aqui até parece, coisa que há umas décadas não se passava, um certo gáudio em ser imbecil!

Francisco Pereira

 

 

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