O espelho da Nação
20-06-2014 - Francisco Pereira
Na passada segunda-feira, como já debatido “ad nauseam” por toda a gente, Portugal estreou-se no mundial de empurra bolas. E não jogou contra qualquer selecção de quinta categoria, jogou contra a "Mannschaft" dos boches opressores, ali estava muito em jogo, não apenas o jogo em si, estava antes de mais o orgulho nacional, que conseguiria vingar-se através dos matraquilhos de feira popular de todas as infernais doses de austeridade, aquele jogo tinha muito de “freudiano” outro boche, não era um mero jogo de pernetas dos futebóis, era antes o jogo de um povo, pateta, contra a selecção de futebol, de outro povo que se está nas tintas.
Não discutiremos os quês e porquês do jogo, aliás de futebol apenas sabemos que se joga com uma bola redonda e que são onze de cada lado. O que nos interessa é extrapolar, da prestação daquela fonte de esperanças e desejos por cumprir que é a selecção nacional, o essencial, que a nosso ver se conta em poucas palavras, o desempenho inicial da selecção nacional, é o espelho de Portugal.
Vaidade, pedantismo, labregos quanto baste, estúrdia e asneirada, muito penteado muito gel, muito brilho e depois à primeira contrariedade tal e qual um saco cheio de nada, a coisa rebenta e o ar que dava a sensação enganosa da existência de algum substrato esvaísse e cruamente acordamos para a realidade, se aquele jogo inicial não foi uma excelente metáfora animada do que é Portugal neste momento, confessamos não saber o que mais poderá ser.
Os alemães fizeram de Portugal gato-sapato, venderam-nos as suas patranhas, sobre produtividade, empreendedores e demais patranhas neo liberais para entreter imbecis e nós habituados que estamos a trabalhar para o número de circo engolimos o isco.
Aquele jogo, resumiu 871 anos de história nacional, os sacrifícios, para nada, os brilharetes e as lantejoulas, o trabalhar para o bonito e para o fácil, o correr os riscos que só aproveitam a outros, e finalmente o acabar na mais miserável das condições, sim são já quase 900 anos a acumular patranhas correndo atrás da gansa dos ovos de ouro, sendo que o ouro é esbanjado, a gansa vendida e as penas leva-as o vento, a nós, resta-nos, como quase sempre, o fado e a saudade.
Somos concretamente um país de cretinos, aquele jogo foi bem revelador disso. Disfarça-se a falta de rigor, planeamento e capacidade de trabalho com arraiais e festarolas para a emigração, gasta-se tinta em autógrafos e carradas de gel para as cabeleiras, onde os outros são equipa nós somos cada um por si, onde os outros são sacrifício e abnegação, civismo e intelecto, nós somos parvoeira geral, labregos e selvajaria individualista.
Os outros povos são melhores que nós, sinceramente temos dúvidas, no entanto parecem aproveitar muito melhor aquilo que tem em seu proveito, Portugal é essencialmente excelente numa coisa, a esbanjar, nada mais que isso, a malbaratar e a desperdiçar, sempre servidos por chefias miseráveis, sempre oprimidos por súcias de ineptos que vivem do parasitismo sórdido que nos vai reduzindo à mais absoluta miséria, mas haja futebol.
Francisco Pereira
Voltar |