Edição online quinzenal
 
Sexta-feira 10 de Maio de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

NA NIGÉRIA TODOS SÃO NEGROS

11-10-2013 - João Chamiço

A escritora nigeriana Chimamanda Adichie disse numa entrevista:

- na Nigéria eu não sabia que era negra porque toda a gente era negra, por isso eu nem sequer me interrogava sobre esse facto. Só percebi que era negra quando fui para os U.S. As pessoas achavam que eu talvez morasse na zona pobre da cidade e quando eu entrava numa loja de artigos caros, olhavam-me como quem tem a certeza de que eu não iria para comprar fosse o que fosse.

Quando entra no avião de regresso à Nigéria a escritora esquece novamente que é negra, porque na sua terra todos são negros.

Da mesma forma que um alentejano não se questiona sobre o facto de o ser senão quando sai do Alentejo para qualquer outro lugar. No Alentejo é-se alentejano e pronto, nem se pensa nisso porque tudo é normal. Regra geral todos são brancos, ainda que alguns sejam de tez muito morena queimada ao sol da planície escaldante.

Na Nigéria todos são negros, até os escritores são inevitavelmente negros. Estou a pensar que, provavelmente, Chimamanda Adichie, a escritora negra, se deparou com preconceitos diversos, nomeadamente para conseguir um alojamento fora de um hotel.

Mas, sendo escritora e “puxando desses galões” até terá “deixado de ser negra” passando a ser a Sra Dra. dona da sua enorme capacidade de comunicação. Dirão alguns: com tal inteligência “até é pena não ser branca”.

No Alentejo todos são brancos, alguns de tez muito morena queimada ao sol da planície escaldante.

(diálogo em francês)

- Boa tarde minha sra.
- Boa tarde.
- Queira dizer-me o que o trás aqui.
- Venho por causa deste anúncio, pretendia negociar o aluguer desta casa.
- Lamentamos muito, mas, de facto a casa já não está livre. Foi arrendada hoje mesmo.

No Alentejo todos são brancos e em Portugal quase todos.

No Luxemburgo também.

- Olhe minha Sra. vamos fazer uma coisa: peço-lhe que converse com os proprietários esta tarde e lhes diga que sou empregado na firma ARBED. (multinacional dos aços) e que pode inclusivamente ligar para a empresa e pedir informações sobre a minha pessoa.

- Ah mas!
- Sem mas.
-Logo à tarde, venho saber a resposta.

À tarde a casa já não estava alugada e alentejano, português branco, eu, fiquei com ela.

A curiosidade corrói-nos no momento de por estes pensamentos num papel.

E se em vez de ser um português alentejano branco a pretender a casa, esta fosse disputada por uma negra nigeriana? Deixemos a escritora agora. A qual dos dois cederiam o arrendamento?

E depois de saberem que era uma grande escritora? Fica o enigma, nunca o saberemos, mas, podemos perfeitamente dar asas à nossa imaginação.

Quando entra no avião de regresso à Nigéria a escritora esquece novamente que é negra, porque na sua terra todos são negros.

- Bom dia.
- Bom dia respondeu o homem do minimercado.

Não disse bom dia minha sra. à sra que entrou.

- Diga-me se faz favor a como vende a carne que está na vitrina.
- Aquela ali?
- Sim aquela, a única que está na vitrina!
- Ah pois é, mas olhe que aquela carne é muito cara para si. Eu tenho ali dentro outra muito mais barata. Essa costumo vendê-la à mulher de (fulano).
- Tudo bem, mas, o sr. Pode vender-me a carne ou está reservada para a mulher de (fulano)?
- Não não. Reservada não está. Claro que posso vender-lha mas, pensei que quisesse da outra mais barata.
- Não sr. quero dessa mesmo, que na minha casa também gostam de coisas boas, não é só na casa de (fulano).
- Pronto está bem.

Uma alentejana também é branca, só que morava à data, porque não dizê-lo, numa modesta casa em Almeirim ali para os lados do Pupo.

- Ó mãe, dê-me um euro para comprar uma rifa.
- Uma rifa? Que rifa? Vem já para aqui.

Na Guiné todos são negros. O professor Júlio, do liceu de Almeirim, não se lembraria de que era negro quando vivia na Guiné. Aprendeu depois de sair de África para Portugal.

Ó mãe, é o meu professor que está a vender rifas para angariar dinheiro para a viagem de estudo dos alunos.

Mudança total no semblante da progenitora. Meia envergonhada chegou mais perto, entregou um euro à filha estudante e pediu desculpas ao professor Júlio que me sorria, acostumado que está a estes episódios.

João Chamiço

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome