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III - AS CARBONÁRIAS PORTUGUESAS
A Estrutura da Carbonária

01-02-2019 - Pedro Pereira

A sua sede denominava-se, A Barraca; o espaço que rodeava a mesma, a Floresta ou o Bosque. A loja; a Venda ou Taverna e o seu espaço interior, a Choça. Os Chefes das Choças eram Mestres da Barraca.

Os seus membros chamavam-se de Benigno Primo ou Bom Primo e encontravam-se divididos em quatro graus: Rachador, Aspirante, Mestre e Mestre Sublime.

A estrela de cinco pontas representava o Bom Primo.

De Rachador a Mestre, mediava um espaço de seis meses com provas dadas. Reconheciam-se entre si por cumprimentos especiais com o chapéu, sinais, toques e palavras. Os rachadores usavam uma folha de carvalho na lapela, os mestres, cintos com as cores do seu grau em aspa, e punhal. Os mestres sublimes usavam, além do cinto, colar de moiré com as cores carbonárias do último grau, tendo pendente um pedaço de carvão cortado em aspa.

O símbolo solar com 32 raios, era o símbolo superior da Ordem, usado exclusivamente pelo Grão-Mestre em sessões solenes.

Esta associação era estruturada da seguinte forma: Canteiros, Choças, Barracas, Vendas e Alta Venda. Em lugares onde fosse impossível constituir núcleos, eram iniciados um ou dois indivíduos denominados Vedetas.

Era-lhes imposto como principais obrigações: praticar a benevolência; socorrer os desgraçados; mostrar docilidade de espírito; não serem maliciosos para com os carbonários e enriquecer o coração de virtude.

Toda a conversa sobre religião em geral ou contra a boa moral era proibida.

Quanto à doutrina geral da Ordem Carbonária, a mesma assentava na boa primidade, isto é: os seus membros tratavam-se por primos.

Só o Grão-Mestre Sublime e a Alta Venda conheciam toda a organização sem desta serem conhecidos, o que garantia o secretismo desta organização, reforçado pela rígida hierarquia e pelo ritual iniciático que contemplava o uso de balandraus e de capuzes, caveiras, tíbias, etc..

As iniciações realizavam-se a altas horas da noite, em centros republicanos, oficinas, subterrâneos, casas habitadas e/ou desabitadas, mas preferentemente ao ar livre, em cemitérios e locais ermos florestados, ou jardins e parques florestais devidamente guardados, em que todos juravam solenemente fazer sacrifícios pela Pátria e pela República.

Os locais onde estas se realizavam, só eram conhecidos pela Alta Venda.

Os participantes trajavam balandraus negros, com orifícios para os olhos no capuz, criando um cenário de terror, de forma a atemorizar o candidato à iniciação, testando, assim, a sua coragem.

Nos tempos anteriores à República, realizaram-se incontáveis iniciações no Cemitério dos Prazeres (Lisboa) e no Jardim de S. Pedro de Alcântara (Lisboa), no tabuleiro superior, onde existem imensas árvores.

Desde a sua criação até ao seu fim, a Carbonária Portuguesa teve oito Alta Venda, tendo sido seu Grão-Mestre em todas elas, Luz de Almeida.

De todas a mais importante foi a sexta, pois foram os seus elementos que participaram decisivamente no 5 de Outubro de 1910, na ausência de Luz de Almeida, então exilado em França.

Em Conclusão

A Carbonária foi uma sociedade iniciática secreta, política, organizada de modo a poder admitir elementos de todas as classes sociais, desde as mais elevadas às mais baixas. Diferia substancialmente da Maçonaria, esta tolerante em política e religião e de carácter burguês.

Sem dúvida que a Carbonária Lusitana e a Maçonaria divergiam. Nem todos os bons primos eram maçons. A mais importante loja maçónica que fazia a ponte para a Carbonária era a Loja Montanha. Aliás, esta Oficina era constituída por destacadas figuras de republicanos, tendo chegado a estar fora da obediência do Grande Oriente Lusitano. Ressalve-se, no entanto, que foi fundada por bons primos e foi o principal veículo da Carbonária dentro do Grande Oriente Lusitano, embora muitos dos seus membros não tivessem pertencido a essa organização revolucionária, como foi o caso de França Borges.

Não obstante ter favorecido e patrocinado a Revolução Republicana, a Maçonaria não foi a sua alavanca, o braço armado, mas sim a Carbonária. A maior parte dos seus membros estava em Lisboa, muito embora milhares deles se encontrassem por todo o País, num total de mais de 40.000 membros de todas as classes sociais, estratos profissionais e, inclusivamente, a partir de uma dada altura, a ela aderissem muitos anarquistas, tendo promovido a constituição de uma artilharia civil com várias choças dedicadas ao fabrico de bombas e campos de treino de tiro, caso de Moncarapacho-Olhão, no Algarve.

Depois do Regicídio, o movimento republicano e a organização Carbonária cresceram imenso. O primeiro deles, sob a batuta do Partido Republicano, que, com os seus aderentes foi minando o aparelho do Estado, facilitando o caminho para um movimento armado (a Carbonária) que a devido tempo derrubasse a monarquia, «(…) o que foi decidido num congresso em Setúbal de onde saiu um directório favorável à luta armada contra a monarquia (…) o Carbonarismo prosseguiu, portanto, com o beneplácito do directório eleito a 25 de Abril de 1909 (…)».

Ouçamos Luz de Almeida quando nos diz: «(…) Com quem estávamos nós ligados? Com os unitários ou com os federais? (…) pouco importava. Para mim eram todos bons republicanos, contanto que fizessem a revolução, e depressa (…)».

Com a revolução triunfante, gradualmente, a Carbonária dissolve-se em bandos e clientelas políticas, sobretudo na busca de empregos, desfazendo-se, assim, o espírito igualitário e fraterno de anos de luta, muito embora tivesse garantido a integridade da República na primeira década após Revolução.

A partir dos anos 30, é geralmente considerada – aparentemente -extinta pelos historiadores. Crê-se, no entanto que este desaparecimento não foi de forma alguma radical, tanto assim que, no decorrer dos conturbados tempos da 1ª República, surgiram variados grupos e grupelhos semi secretos, actuando como corpos privados, autênticas polícias secretas, ao serviço dos variados partidos políticos e até das próprias instituições ou como associações onde, por vezes, era difícil traçar uma linha clara entre fins políticos e fins criminosos.

Assim, nasceram mais ou menos ligados aos partidos políticos, a Formiga-Branca, o Grupo dos Treze, os Lacraus, os Defensores da República, os Voluntários da República, o Grupo do 27 de Abril e outros.

Como nota curiosa, não queremos deixar de salientar que a I República ergueu-se sob a égide da Carbonária e da Maçonaria «incrustadas» no Partido Republicano, e a II República, instaurada em 25 de Abril de 1974 teve como seu primeiro 1º Ministro um maçon: Adelino da Palma Carlos.

As lutas entre estes grupos eram constantes, como no caso dos Lacraus e do Grupo do 27 de Abril, atacando a acção da Formiga Branca e dos Democráticos. Formalmente a Carbonária pode ter encerrado as suas portas, mas os seus membros sobreviveram, com a bagagem de conhecimento nela adquirido e como o conhecimento só tem uma porta de entrada, o que nele entra destina-se a ser transmitido.

Pedro Pereira

 

 

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