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II - AS CARBONÁRIAS PORTUGUESAS

25-01-2019 - Pedro Pereira

Em 1843, foram promulgados os EstatutosGerais da Antiga e Sublime Ordem da Carbonária Lusitana, nascida em Coimbra, com uma Choça chamada Segredo. O seu «patrono» foi António de Jesus Maria da Costa, um frade carmelita, anti jesuíta e boticário, com 53 anos de idade, de nome simbólico Ganganelli, poder que lhe havia sido delegado pelo general Joaquim Pereira Marinho, que havia recebido do estrangeiro autorização para estabelecer a Carbonária em Portugal.

Este clérigo era homem dedicado a actividades políticas, dado que já tinha feito parte da Junta Governativa de Coimbra, instalada em Maio de 1846, no decorrer da primeira fase da revolta contra os Cabrais (irmãos e ministros do reino, Costa Cabral de apelido).

A CarbonáriaLusitana chegou a contar com mais de 500 membros, quase todos armados. Aliás, uma das condições de adesão à Ordem era, " possuir os carbonários ocultamente uma arma com competente cadastro".

Em 29 de Maio de 1848 é eleito o Supremo Conselho da Alta Venda (estrutura superior carbonária) situava-se na denominada Terra de Canaan, composta por Mestres Sublimes, que entre si elegiam os dignitários. Possuía esta Carbonária nessa data, as seguintes estruturas: Choça Fraternidade, Choça Liberdade , Choça 16 de Maio e a referida Choça Segredo , para além das Barracas Egualdade e União.

Pelo facto de muitos dos seus membros pertencerem em simultâneo à Maçonaria e os seus princípios se confundirem por vezes com os desta organização, as suas actividades foram esmorecendo. Pese embora a visita secreta de Mazzini a Portugal em 1851, que veio dar algum alento à organização, esta termina pacificamente.

Por volta de 1850-1851 teve sede em Lisboa uma Carbonária com o nome de Portuguesa, dividida em secções chamadas choças, ou lojas carbonárias. Esta Carbonária foi de curta duração.

Em 1853, o padre António de Jesus Maria da Costa, que havia sido expulso da Carbonária que havia criado, por desobediência prevista nos seus estatutos, ergueu de novo outra estrutura carbonária, tendo chegado a funcionar dela dependente uma Choça com o nome de Kossuth, de que foi seu presidente Abílio Roque de Sá Barreto. Porém, breve, esta estrutura se dissolveu.

Pela segunda metade do século XIX, nasce a MaçonariaAcadémica, a partir de um núcleo de estudantes conimbricenses, que se reuniam secretamente nas margens do Mondego nas chamadas lojas revolucionárias, independentes da Maçonaria regular, que se irá transformar em Carbonária.

A Carbonária de Coimbra teve o seu período áureo entre 1892 e 1894.

Posteriormente, esta Carbonária (ou Floresta, nome porque também era conhecida) viu ingressar nas suas fileiras, centenas de elementos populares que foram sendo iniciados na antiga Rua de S. Roque, nº 117, último andar, em Lisboa, sede provisória da Carbonária Portuguesa.

As diferentes secções da Carbonária tinham as seguintes denominações: choças, barracas, vendas e Alta Venda. Os Bons Primos, que pertenciam às Choças, possuíam os primeiros e segundo graus (Rachadores e Carvoeiros) e eram presididos por um carbonário decorado com o terceiro grau (Mestre).

Às Barracas e Vendas só pertenciam os Mestres, presidentes dum certo número de Choças ou Barracas.

Os seus membros – os bons primos - encontravam-se divididos em três classes: Rachadores, Carvoeiros e Mestres. De Rachador a Mestre, mediava um espaço de seis meses com provas dadas. Era-lhes imposto como principais obrigações: praticar a benevolência; socorrer os desgraçados; mostrar docilidade de espírito; não serem maliciosos para com os seus primos e enriquecer o coração de virtude.

Toda a conversa sobre religião em geral ou contra a boa moral era proibida.

Só o Grão-Mestre Sublime e a Alta Venda conheciam toda a organização, sem desta serem conhecidos, o que garantia o secretismo desta organização, reforçado pela rígida hierarquia e pelo ritual iniciático que contemplava o uso de balandraus e de capuzes, caveiras, tíbias, etc..

Desde a criação até ao fim, a Carbonária Portuguesa teve oito Alta Venda, tendo sido seu Grão-Mestre em todas elas, Luz de Almeida.

De todas, a mais importante foi a sexta, pois foram os seus elementos que participaram na organização e participaram com armas na mão, na Revolução do 5 de Outubro de 1910, na ausência de Luz de Almeida, então exilado em França.

Na Carbonária encontravam-se primos de todas as classes sociais: médicos, engenheiros, advogados, professores de todos os ramos de ensino, estudantes, oficiais e sargentos das forças armadas, funcionários públicos, proprietários, lavradores, administradores de concelho, actores, lojistas, comerciantes, polícias, operários, etc.. Havia de tudo, de Norte a Sul do País.

A última das carbonárias nascida em Portugal, que irá contribuir decisivamente para a implantação da República – como já referimos - surgiu em 1896, como prolongamento da Maçonaria Académica, também conhecida pelos nomes profanos de Comité Revolucionário Académico ou Junta Revolucionária Académica. Foi seu fundador e Grão-Mestre, Artur Duarte Luz de Almeida, o qual, foi iniciado maçon nesse mesmo ano, na loja maçónica Luís de Camões, nº 266, de Lisboa, com o nome simbólico de Desmoulins, tendo ainda vindo posteriormente a pertencer à loja maçónica Montanha, (Grandella) nº 214, também de Lisboa, da qual foi seu fundador e venerável.

Atingiu o grau 30º do Rito Escocês Antigo e Aceite e desempenhou altas funções no Grande Oriente Lusitano.

Jovem bibliotecário com excepcionais qualidades de organizador irá reestruturar a Carbonária, a qual conhecerá notável expansão até cerca de 1912. Foi ela a principal arma civil republicana, contribuindo, ainda, decisivamente, para a defesa do novo regime nos primeiros anos da República.

Numa primeira fase desta Carbonária, Luz de Almeida, Machado dos Santos e António Maria da Silva, realizam os três, os seus encontros no Jardim de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa, onde combinaram aquela que iria ser a prática da Carbonária. Para tanto, nomearam-se o comité Alta Venda. Depois, passaram a reunir em casa de Machado dos Santos, na rua José Estêvão e a direcção superior funcionava na choça de Alcântara.

Paralelamente e com o mesmo fim nasceu em Lisboa a Carbonária Anarquista, filiada na Maçonaria espanhola, El Soberano Gran Consejo General Ibérico do Rito Nacional Espanhol, registando milhares de portugueses entre os seus membros, como Heliodoro Salgado, Benjamim José Rebelo, Júlio Dias, Sebastião Eugénio, José do Valle e vários democratas de Alcântara, que irão constituir o núcleo de resistência da Aliança Revolucionária, que pouco depois dará lugar à loja irregular O breiros do Futuro , instalada na Rua Vinte e Quatro de Julho, próximo da Rocha Conde de Óbidos, em Alcântara, numa casa pertencente ao Crédito Predial, alugada por um dos carbonários-anarquistas.

Descobertos pela polícia, passaram a efectuar as suas sessões num templo maçónico, na Calçada de Santo André, alugado pelo Dr. José Alves, antigo maçon.

Refira-se que, anarquistas intervencionistas e republicanos vinham encontrando-se desde finais do século XIX em círculos carbonários. Reprimidos violentamente na viragem para o século XX, em virtude da lei celerada de Fevereiro de 1896, irão reagir através de intervenções clandestinas, escudando-se em sociedades secretas, como a Carbonária dos Anarquistas.

Apoiando-se em algumas lojas radicais da Maçonaria, nomeadamente a Loja Montanha, chegará a contar com mais de 40.000 membros, especialmente em Lisboa, e noutras importantes áreas urbanas do país, sendo certo que a proximidade com a organização maçónica foi a grande responsável pela expansão da Carbonária portuguesa.

Em princípio, estes carbonários são operários, caixeiros e alguns intelectuais. Criam a Liga Progresso e Liberdade e o Grémio da Liberdade, cujo carácter semi legal permitia o desenvolvimento da organização.

A Maçonaria e a Carbonária dos Anarquistas - esta, entretanto reorganizada sob o nome de Carbonária Lusitana - acabarão hegemonizadas pelos republicanos radicais, em que os anarquistas serão remetidos para uma posição secundária. A repressão policial sobre esta organização vai ocorrer no rescaldo dos rebentamentos de bombas da Rua do Carrião e na Escada de um prédio na zona da Estrela, em Lisboa, em 1907, que irá conduzir ao desmantelamento da Loja Obreiros do Futuro.

O restante destas organizações será incorporado na Carbonária Portuguesa, que em 5 de Outubro de 1910 tinha como Grão-Mestre, Luz de Almeida, Machado dos Santos, Presidente da Alta Venda e António Maria da Silva, Vice-Presidente.

Entretanto, José Maria Nunes, juntamente com José do Vale e Heliodoro Salgado, fundou a Liga do Progresso e Liberdade, agrupamento que esteve na base da constituição da Carbonária Portuguesa.

(continua no próximo número)

Pedro Pereira

 

 

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