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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

I - AS CARBONÁRIAS PORTUGUESAS

18-01-2019 - Pedro Pereira

Caro leitor(a),

Damos início nesta edição em O Notícias de Almeirim, a uma resenha história relativamente ao papel que desempenhou a Carbonária em Portugal, sendo que a acção mais importante que esta organização iniciática secreta desenvolveu foi a sua participação decisiva para o triunfo da Revolução que implantou a República no dia 5 de Outubro de 1910.

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Introduzida em Portugal entre 1822 e 1823, manifestou expressivamente a sua dinâmica social e política quando do Ultimato Inglês em 1890, no desaire da revolta republicana de 1891, em 31 de Janeiro de 1908 quando no Porto foi abortada outra revolta e, posteriormente, na Revolução do 5 de Outubro de 1910, com a implantação da República.

A filosofia da Carbonária, desde as suas origens em Itália, encontra-se imbuída de um Romantismo tardio, aferido, inclusivamente, pelos seus símbolos, como por exemplo o triângulo invertido, que significa o negativo, o frio, a cor negra; a lua; o sol; a estrela de cinco pontas; o machado; o punhal; os três pontos invertidos, para as abreviaturas; o cepo; a lenha; as raízes; o ramo florestal; a corda nodosa; o carvão; a coroa de espinhos; a cadeia de união; as estrelas; as constelações; o firmamento, etc …

As iniciações eram precedidas, encenadas e efectuadas numa ambiência de acordo com os seus princípios, como seja, o facto de se realizarem quase sempre na calada da noite, a desoras, em cemitérios, caves, carvoarias, jardins e locais densamente arborizados, entre outros lugares onde imperavam as cores escuras e o negro.

A Carbonária era uma organização secreta, iniciática, ritualista com objectivos políticos definidos, tendo como defesa fundamental a liberdade pública e a perfeição humana, assumindo em dadas épocas uma feição anticlerical, adversária das congregações religiosas, não significando, contudo, que os seus membros fossem ateus.

Os mesmos procediam maioritariamente das classes baixas, havendo, no entanto, no seu seio, elementos da classe média e da classe alta. Todos eles recebiam treino militar e defendiam o recurso às armas. Eram obrigados a possuir e ser portadores de uma arma de fogo ou de um punhal.

A sua – aparente - extinção surgirá na sequência das divisões verificadas no interior do PRP - Partido Republicano Português, no decurso da turbulência da 1ª República.

Por cada carbonário preso, eram iniciados dez cidadãos nessa organização.

Alguém disse um dia que «barriga vazia não filosofa». Parafraseando esta afirmação, diremos que «um povo com fome e injustiçado não tem piedade para com os seus governantes». Foi o caso. Um povo encurralado, sem – quase – nada a perder, expulsou do país a mais antiga monarquia da Europa, na esperança de que a República constituísse a panaceia para os seus males e os da pátria.

Neste sentido, a revolução republicana foi essencialmente de raiz popular. Foi o povo, cuja face operacional se consubstanciou nos mais de quarenta mil carbonários, infiltrados no aparelho do Estado, no Exército, na Marinha e na sociedade, que empunhou a bandeira verde-rubro (Carbonária) até à vitória.

A herança dessa bandeira é a actual bandeira da República Portuguesa, acrescentada que foi a esfera armilar.

Portugal tornou-se, assim, uma das primeiras repúblicas da Europa do século XX.

A Carbonária italiana serviu de figurino à Carbonária Portuguesa. Efectivamente foi em Itália que nasceu a Maçonaria Florestal ou Carbonária, como sociedade secreta que irá florescer por toda a Europa.

A Carbonária (Carbonari), designação oriunda da Calábria – Itália*, surge nos começos do século XIX, mais concretamente a partir de 1815, tendo como seu patrono S. Teobaldo.

Desde logo condenada pela Igreja, a Bula papal de 13 de Setembro de 1821.

A Carbonária vinha pôr em causa essa mesma autoridade, dado que no seu projecto de unificação incluía os Estados Pontifícios de que a Igreja de forma alguma queria abrir mão.

A Carbonária surge, assumindo aqui e ali reivindicações regionais no

sentido da libertação dos estados onde reinavam coroas estrangeiras, bem assim como pugnando pela unidade italiana.

Até 1830, durante os chamados anos da Restauração, quem dominará a cena política serão os carbonari (carbonários).

Norteava-os, a luta pela verdadeira independência de Itália.

A verdade, sem dúvida, é que será em Itália que a Carbonária ganhará contornos, o rosto de que ouvimos falar, consubstanciada com o aparecimento da Jovem Itália de Garibaldi, Cavour e Mazzini, fundada em 1831 em Marselha.

Produto da Revolução Francesa e da Maçonaria especulativa do século XVIII, a Carbonária visava o desmantelamento das monarquias absolutas e o estabelecimento das liberdades.

No entanto, apesar dos esforços de Garibaldi, Cavour e Mazzini, a Carbonária não conseguiu proclamar a República. Não obstante, dois enormes trunfos foram alcançados: a unificação da Itália e a abolição do poder temporal do Papa.

Em 1818, no Porto, Fernandes Tomás, José Ferreira Borges, Borges Carneiro e Silva Carvalho, entre outros, fundaram uma sociedade secreta (uma pequena Carbonária) a que chamaram Sinédrio, que preparou e fez eclodir a revolução liberal de 1820.

Por esta data, surge em Coimbra, no seio da academia, uma Loja chamada dos Jardineiros ou Chicaras, que irá durar até 1823, com uma organização aparentada a uma Carbonária e à Maçonaria. A sua loja ou Jardim chamava-se Independência, tendo pertencido a uma designada Sociedade Keporática.

O núcleo da organização era o Jardim, constituído por sete jardineiros e situava-se no Passal. A organização possuía uma «era própria, ano da Claridade, que resultava da soma de 1490 ou 1491 ao ano de Cristo».

Em 1828, um reduzido número de estudantes da Universidade de Coimbra organizou um núcleo secreto, de raiz carbonária, com o título de Sociedade dos Divodignos, com a finalidade de combater a monarquia absoluta de D. Miguel.

Denunciados por lentes dessa Universidade, perseguidos pelo rei caceteiro, a maioria deles acabou tristemente na forca.

O segundo jardim surgiu em França ou nos Açores dez anos mais tarde,

tendo-se formado com treze exilados políticos liberais. De recordar, que nesta data o país encontrava-se em guerra civil (1832-1834), com um governo liberal no exílio na ilha Terceira, nos Açores. Chamava-se este Jardim, Restauração.

Relativamente à sua implantação no território nacional e de acordo com os seus estatutos, pretendia-se a criação de um jardim em cada comarca, denominando-se presbitério ao conjunto dos jardins neles instalados. Os presbitérios agrupar-se-iam em treze patriarcados, denominando-se o 9º, de Sagres, no Algarve, com capital em Faro.

Entre 1834 e 1838 renascem, um pouco por todo o país, algumas denominadas «sociedades patrióticas», com um cunho marcadamente carbonário.

Em 1842, foi fundada no Porto e Províncias do Norte de Portugal, por um estrangeiro de nome Jefferson, uma nova sociedade secreta de nome, Carbonários Iluminados, uma fusão da Carbonária existente com outra sociedade secreta, os Iluminados, fundada na Alemanha pelo professor Weishaupt. No seu âmbito teriam nascido cinco barracas: 24 de Agosto, Progresso, Estrela do Norte, Independência e Arnosa de Pampelido. Das suas atividades e duração nada se sabe. Possuíam três graus: Eleito, Mestre e Cavaleiro de Tebas.

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* A unificação italiana ficou a dever-se ao Risorgimento, um movimento histórico italiano, ocorrido entre 1815 e 1870, com o fim de unificar a península itálica, transformando-a num país, até então, uma colecção de pequenos Estados submetidos a potências estrangeiras, entre eles, o Reino de Sardenha , Lombardia, Veneto, Reino das Duas Sicílias, Ducado de Módena e Reggio, Grão-Ducado da Toscana, Romangna, Ducado de Parma, reino das Duas Sicílias (sul da Península Itálica), reino de Veneza e os Estados Pontifícios, governados pela Igreja Católica.

A Igreja Católica só reconheceu o Estado de Itália em 1929, através do Tratado de Latrão, em troca da criação do Estado do Vaticano e do recebimento de indemnizações por perdas territoriais relativas à anexação de regiões católicas no processo de unificação. O acordo foi firmado entre o ditador Benito Mussolini e o Papa Pio IX.

(continua no próximo número)

Pedro Pereira

 

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