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O SNS JÁ NÃO EXISTE

18-01-2019 - Henrique Pratas

O que vos vou escrever e dar nota é que o SNS acabou, quer digam que não e para exemplo dou-lhes o caso que ocorreu com a minha mulher no passado dia 22 de dezembro de 2018.

Ela caiu na rua, sem motivos aparentes para que isso acontecesse, mas caiu e com essa queda fraturou a tíbia e o perónio, em cinco lados, primeira avaliação assim que deu nas urgências e realizados os exames auxiliares de diagnóstico. No dia 02 de janeiro dia em que foi fazer o penso e que conheceu pela primeira vez o médico que a operou, este disse-lhe que tinha partido em sete partes. Com uma versão e outra, nós ficámos sem saber se foram 5 ou 7 o que é facto em quantas partes não sabemos. Como lhes descrevi ela caiu no dia 22 de dezembro de 2018 e só foi operada a 27 de dezembro de 2017, no Hospital Beatriz Ângelo, que que acordo com alguns entendidos nesta “matéria” e noutras dizem que é o melhor Hospital, na especialidade de Ortopedia na zona da Grande Lisboa.

O médico só se dignou ir ao quarto onde ela estava, após ter passado pelas urgências um dia e meio depois de ter vindo para a enfermaria de ortopedia, por mais que eu tentasse falar com ele, nunca ninguém sabia onde ele se encontrava, e isto para quem espera desespera. Um dos dias dirigi-me a uma enfermeira e disse-lhe que pretendia falar com o médico que estava a acompanhar a minha mulher, resposta imediata, “Ah, ele já cá esteve agora não sei onde ele está.” Com muito cuidado respondi-lhe: “ Se tivesse a gentileza de me informar quando ele cá estiver, para eu falar com ele ficar-lhe-ia muito grato.” Depois essa mesma enfermeira aquando da passagem pelos quartos para verificar a tensão, medir a febre e o soro que os pacientes que estão em fila de espera para ir para o bloco operatório, disse-me que estavam a trabalhar para os números. Como eu oiço muito bem respondi-lhe e as pessoas onde é que ficam no meio disto tudo e mais não disse porque o silêncio imperou.

A minha mulher esperou desde o dia 22 de dezembro até ao dia 27 para ser operada e todos os dias não lhe deram o almoço a horas decentes porque era para ser operada, mais tarde por volta das 16 horas vinham-lhe trazer o almoço, porque afinal já não era naquele dia, seria no dia seguinte e assim consequentemente até ao dia 27 de dezembro de 2018.

Nesse dia finalmente lá foi par o bloco às 15h30m, ligou-me do telemóvel, a dizer-me que ia descer, porque eles não deixam os familiares estar por perto e fazem uma coisa com todos os doentes, põem-lhe à frente um termo de responsabilidade para assinarem. Entretanto já completamente doido no dia anterior liguei para todos os Hospitais de Lisboa, para saber o que era necessário para transferir um doente, obtive como resposta que era necessária uma autorização do médico que a estava a acompanhar, que eu não sabia quem era, pensei para comigo estou lixado.

Ah, não vos descrevi um outro episódio no dia da operação chega a anestesista ao quarto onde estava a minha mulher mais uma outra senhora e questiona a minha mulher sobre se quer uma anestesia geral ou uma epidural, isto tudo aconteceu às 11 horas porque os familiares só tem autorização para visitar os doentes a partir das 13 horas. A minha mulher disse-lhe que queria anestesia geral, porque tinha conhecimento que tinha colegas dela da Unidade de Saúde onde trabalha que não se deram bem com a epidural, não contente com isto a senhora anestesista entrou em aspetos de ordem religiosa, para saber como deveria agir de acordo com o credo de cada um, obviamente que a minha mulher lhe respondeu rápido e grosso.

No dia 27 de dezembro quando chegou ao bloco para ser intervencionada, a anestesista volta-lhe a colocar a mesma questão se queria anestesia geral ou epidural, a minha mulher manteve o que tinha dito anestesia geral. Importa aqui explicar o porquê desta questão, a epidural é mais barata e tem uma outra coisa muito mais importante é que a equipa de anestesistas assim que o ou médico (s) que operam terminam o seu trabalho eles também se podem ir embora porque o doente ou paciente como queiram, está acordado, enquanto, que se for anestesia geral, eles têm que ficar até o doente estar acordado e vigiá-lo o que lhes dá mais trabalho e ocupa mais, para além de ser mais cara. É duro escrever-vos isto mas é o que temos o paciente é que decide se quer anestesia geral ou epidural se tiver consciente e eu a pensar que este ato era do foro médico, estamos sempre a aprender.

Em tempos eu fui acompanhado por um ortopedista no Hospital de Santana e para ficar mais tranquilo falei com a secretária clinica dele e ela pediu-me que lhe enviasse todos os exames que possuísse da minha mulher. Outra dificuldade, porque foi muito difícil obtê-los, uma das médicas que trabalha com ela na Unidade de Saúde e que faz urgências neste Hospital tentou por tudo conseguir o que eu pretendia e não conseguiu porque pura e simplesmente os médicos escondem a informação dos pacientes, sim é verdade o que escrevi fazem “caixinha” da informação clinica dos doentes que estão a acompanhar, isto é perfeitamente inconcebível, ou são os vícios que trazem da Universidade onde obtiveram o curso, para alcançar melhores notas que os seus colegas há que esconder o conhecimento. No meu tempo isto não era assim, partilhávamos os apontamentos e com os companheiros que não iam às aulas dávamos-lhes cópias dos nossos apontamentos. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades e cada vez temos uma sociedade mais fechada, onde de terminadas práticas como acabei de descrever não deviam ter lugar.

Mas por portas e travessas lá consegui uma cópia do exame que a minha mulher tinha realizado quando entrou na urgência, imediatamente a fiz chegar por correio eletrónico à caixa de correio da secretária do médico que me acompanhou em tempos. Como ele já se encontra aposentado, mas ainda exerce porque gosta do que faz e tem competência para o fazer, passados 15 minutos recebi um telefonema dele a explicar-me tudo de uma forma que qualquer pessoa atendesse o que é que se estava a passar e o que aconteceu. Colocou-me duas questões, uma foi se tinha feito ferida externa e a outra se tinha esfolado a perna, com a informação que possuía respondi-lhe que não, apenas tinha ocorrido um hematoma ao nível interno, resposta dele muito bem, então Henrique as coisas vão ser assim, isto é uma fratura que deve ser tratada com cuidado, não é nada de grave mas como sabe estas coisas devem ser bem acompanhadas. Ela fraturou o peónio vai levar umas placas e uns parafusos, que vão ser colocados desta e daquela forma e eu normalmente só opero estas situações passados 8 ou 9 dias depois de elas terem ocorrido porque entendo que é o prazo considerado como razoável para operar estas situações até para ver se o hematoma desaparece.

Mais foi mais longe disse-me que lamentavelmente não me poderia ajudar porque senão ele tratava disso, mas que só regressaria a Portugal no dia 9 de janeiro. Também me disse que este tipo de intervenção levava no máximo 3 horas, se corresse tudo bem e a recuperação era muito importante. Imediatamente lhe pedi encarecidamente se ele estava disponível para acompanhar a minha mulher, a resposta não se fez esperar, obviamente que sim. Fiquei mais tranquilo e transmiti à minha mulher o que me tinha sido dito sem omitir nada. Falo-lhes de um MÉDICO na verdadeira aceção da palavra que pediu a aposentação por não concordar com o que se está na fazer ao nível da saúde, mas que na minha opinião os responsáveis por esta área da não deviam deixar sair e aproveitar todo o conhecimento e experiência adquirida para a transmitir aos médicos que optem por esta especialidade, coisa que não fizeram, para vosso conhecimento ele vai ao Hospital de Santana, faz Clinica Privada e ainda vai operar em Barcelona, nós por cá desperdiçamos estas PESSOAS.

E quem não conhece ninguém o que é que faz? Não deveria ser necessário este tipo de procedimento, nós deveríamos confiar no SNS, mas temos provas concretas que globalmente o mesmo não funciona, sem esquecer que no meio deste iceberg existem honrosas exceções, mas é preciso ter uma sorte em “bater” com as pessoas certas.

Como não vivo isolado, e me preocupo com os outros a senhora que estava no quarto com a minha mulher, os quartos são apenas para duas pessoas, foi operada ao fémur e não tinha nada depois de aminha mulher estar em casa no dia 28 de dezembro, ligamos-lhe e a mesma já se encontrava a fazer quimioterapia porque tinha um mioma no útero, no dia em que a minha mulher foi para o bloco, deixou-lhe o telemóvel e eu por volta das 10 horas liguei para saber se ela já se encontrava no quarto pois ligava para os números de telefone do bloco operatório que me deram e do recobro e ninguém me atendia, porque fiz as seguintes contas, desceu para o bloco às 15h30m, preparar, começar e não começar a intervenção cirúrgica 16h30m, 17h00 mais 3 de operação lá para as 20h, 21h, vai para o recobro. Eles pediram-me os meus contatos móveis, ainda pensei que era para me ligarem a dizer como tinha ocorrido a intervenção cirúrgica, mais uma vez enganei-me redondamente. Ora como escrevia tive que ligar para a “companheira” de quarto que me contou o que se estava a passar com ela percebi logo que tinha cometido mais um erro grosseiro, a senhora com uma voz agastada lá me contou o que vos descrevi e eu pensei para comigo, como é que isto é possível, mas é, e mais preocupado fiquei.

Logo a seguir retomei as chamadas para o bloco e para o recobro, do recobro atenderam-me e disseram-me que ela estava bem e que a operação tinha corrido bem, quem me disse isto não sei, questionei a pessoa que me atendeu se a minha mulher tinha febre e se a tensão estava normal, porque nos dias de espera a tensão tinha subido até aos 18, pudera, vai, não vai.

Não tinham decorrido 24 horas já ela me estava a ligar que o médico lhe tinha dado alta. Aí disse-lhe que era melhor vir de ambulância porque eu tinha medo de estragar o que tinha sido feito e eles estavam mais habilitados para o fazerem do que eu. O médico deu-lhe quase toda a papelada e ela estava despachada, do ponto vista burocrático às 14 horas, só que quando os administrativos foram ver a documentação faltava a nota de alta o médico esqueceu-se, quando lhe ligaram já ele estava em Setúbal, foi o que nos disseram. A minha mulher teve que esperar até às 17h30m para que outro médico lhe desse o documento em falta.

Ora se isto acontece no melhor Hospital na especialidade de Ortopedia da Grande Lisboa, o que fará no nos outros e no resto do País.

Adjetivar não vale a pena, porque seriam mais umas quantas páginas e não resolvíamos nada, mas estamos bem entregues não estamos, o melhor é não entrar nestas casas que supostamente deveriam ser de tratamento, cura, de cuidados de saúde de tratamento das PESSOAS, mas que ao fim e o cabo passamos a ser mais um número a partir do momento que entramos à porta para dentro.

Até nos visitantes se colocam pulseiras que depois há saída têm que tirar uma senha para que a mesma lhes seja retirada e se forem de viatura que têm que estacionar no parqueamento pago, têm que tirar uma outra senha para poderem proceder ao pagamento do valor devido.

Como lhes escrevi ela ainda foi ao Hospital onde foi intervencionada no passado dia 2 de janeiro para fazer o penso e colocou algumas questões ao médico, nomeadamente gostava de saber como é que aquilo lhe tinha acontecido pois para ela tinha sido uma queda não muito aparatosa e ele respondeu-lhe de forma brusca e desapropriada aconteceu-lhe a si como me podia ter acontecido a mim, ao senhor enfermeiro ou a outra pessoa qualquer, não gostámos da resposta, porque na minha opinião os verdadeiros MÉDICOS, devem explicar às pessoas as causas porque é determinadas situações ocorrem ou se não souberem dizem-no clara e abertamente respostas evasivas ou desconcertantes são inqualificáveis e eu não gosto e este aspeto decorre muito de as entradas em Medicina se fazerem através de um critério meramente qualificativo obtido através das notas académicas, não se faz aquilo que considero mais determinante a avaliação da aptidão para o exercício das funções de MÉDICO, muitos deles não sabem falar, ou tocar sequer nos doentes, têm a teoria toda que empinaram, mas depois falta-lhes o mais importante que é o saber lidar com pessoas e isto não está ao alcance de qualquer um.

No dia 9 de janeiro, já tinha marcado consulta para o médico que lhes mencionei no Hospital de Santana e levei-a lá, ele tirou-lhe o gesso para ver como tudo estava, ele próprio fez um novo gesso, quero eu dizer meteu as mãos na massa e achou que a minha mulher devia ter o pé a 90º e corrigiu-lhe a posição do pé e disse – lhe o que queria que fizesse, que tivesse a perna levantada e que fosse mexendo os dedos do pé para que o musculo da perna na ficasse flácido. Entre esta consulta e a do dia 2 existiu uma diferença enorme, é que nesta última ela foi tratada como uma pessoa, na outra foi tratado como uma número, à pressa que o médico tem mais que fazer. É óbvio que a minha mulher está a ser acompanhada no Hospital de Santana, sim porque lá tratam as PESSOAS e como diz um dos ditados portugueses “fiquem os dedos e vão-se os anéis”, mas andar na angústia em que andávamos, já bastaram os dias que ela passou no Hospital Beatriz Ângelo, mais uma parceria pública ou privada onde o grupo Mello está representado, que como sabem controla uma grande parte da área da Saúde em Portugal. Se é assim que querem preservar o SNS, estão a fazer tudo para que o mesmo acabe.

Desta forma não vamos a lado nenhum, os Hospitais são locais onde as pessoas deviam ser bem tratadas com tempo, com o acompanhamento necessário e com a devida atenção e cuidado e não como frangos de aviário. Aqui na minha modesta opinião a economia não se devia sobrepor aos superiores dos doentes e dos profissionais das Saúde, não quero dizer com isto que a Gestão de um Hospital tenha que dar prejuízo, mas entre uma coisa e outra há um ponto de equilíbrio e entendo que é possível encontrá-lo, sem que se descure o mais importante A SAÚDE DOS PORTUGUESES.

Os Hospitais estão transformados em máquinas de fazer dinheiro e não locais onde as pessoas se vão tratar, ninguém se desloca a um local destes para passear, só lá vão há procura de solução para as suas queixas.

O acesso há saúde, está cada vez mais restringido e as pessoas face a estes episódios até evitam ir aos Hospitais.

Por mais que os políticos afirmem que querem preservar o SNS, as palavras não correspondem com os atos que são praticados .

Henrique Pratas

 

 

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