O MUNDO NÃO É ELÁSTICO – II
19-10-2018 - Jorge Duarte
Facto é que, com excepção da Europa rica onde há uma quebra alarmante da natalidade (excepto na Grã-Bretanha), cresce no mundo de hoje uma vertiginosa explosão demográfica nos países menos desenvolvidos e pobres. O ritmo de crescimento demográfico médio na Ásia é de 2,23%; na África, 3,21%; na América Latina 2,44%; na América do Norte 0,8% e na Europa/Rússia 0,62%.
Significa que a Ásia duplicará a sua população em 30 anos, a África em 22, a América Latina em 29, a América do Norte em 87 e a Europa/Rússia em 112.
A população mundial situa-se hoje próximo dos 7 mil milhões. A ONU prevê que em 2050 atinja os 9.2 mil milhões; todos os anos cresce 83 milhões. Mais ou menos um novo país como a Alemanha, a cada ano.
Sabendo-se que em 1900 a população mundial era de apenas 1650 milhões, em 1500, situava-se entre os 500 e 900 milhões e no tempo de Cristo uns meros 250-300 milhões, veja-se a dimensão onde nos encontramos.
Numa altura em que a população crescia galopante na Grã-Bretanha, Malthus (1798), antinatalista, chocou, com o seguinte confronto:
«Penso que se pode razoavelmente reconhecer dois postulados. Primeiro, que o alimento é necessário para a existência do homem. Segundo, que a paixão entre os sexos, é necessária e permanecerá aproximadamente no seu estado actual. Assumindo então os meus postulados como garantidos, eu digo que a força da população é indefinidamente maior do que a força da terra para produzir subsistência para o homem. A população quando não controlada, aumenta numa razão geométrica. A subsistência, aumenta apenas numa razão aritmética. Uma ligeira familiaridade com números, demostrará a imensidade da primeira força em comparação com a segunda».
Diversas propostas algo insólitas como a “greve dos ventres” ou a adição secreta de substâncias químicas na água para reduzir a fertilidade, surgiram no meio da discussão como solução para a contenção do excesso populacional.
Mais de 200 anos depois, constatamos que a força do sexo ainda não venceu definitivamente a força da terra mas está a deixá-la exausta, e o postulado Malthusiano tende a confirmar-se em breve.
Alguns países (entre muitos) densamente povoados e que mais exponencialmente crescem:
País |
População em milhões em 2014 |
Taxa de crescimento anual em % |
Índia |
1 294 |
1.46 |
Egipto |
92 |
1.61 |
Paquistão |
185 |
1.84 |
Nigéria |
176 |
2,27 |
A uma taxa de crescimento anual de 0,1%, a população duplica em 700 anos; de 0,5%, em 140 anos; de 1% em 70 anos; de 2% em 35 anos.
A taxa global média de crescimento da Europa é de apenas 0,33% ao ano.
Qualquer destes países enfrenta situações complexas de sustentabilidade. A Índia precisa já de uma centena de novas cidades. Mas a água de superfície é escassa e depende de captações subterrâneas, não repostas; os rios estão poluídos e não possui novas terras agrícolas. O Egipto apenas habitável na estreita faixa junto ao Nilo, é forçado a concentrar cada vez mais população nas cidades; O Paquistão, influenciado pelos ultrarreligiosos que pretendem ser “quantos mais melhor”, suspendeu qualquer planeamento demográfico. Os 200 milhões, hoje, serão 400 milhões daqui a 25 anos e tantos como o resto do mundo daqui a 100 anos. Com a Nigéria o cenário é semelhante.
A China, com os seus 1 400 milhões de habitantes deverá manter-se por este número. Dados oficiais chineses referem que com a política de um só filho por casal, durante os 25 anos em que vigorou, impediu 400 milhões de nascimentos. Nesse período, foram ainda feitos 336 milhões de abortos e 196 milhões de esterilizações. Entretanto, a economia chinesa mudou e a cultura tradicional também. Hoje, grande número de mulheres apostam mais na carreira profissional do que na maternidade. E já nem um filho querem.
A estreita Faixa de Gaza, com 40 km de extensão e 12 km de largura, com 2 milhões de palestinianos é, actualmente, o território mais densamente povoado do mundo. Segundo a ONU, tornar-se-á inabitável em 2020. Potenciada por bloqueios e fanatismos, a situação diária é explosiva, sem que haja vontade ou capacidade para impedir a tragédia que se avizinha.
Ao invés, assiste-se ao fenómeno da implosão demográfica no Ocidente em contraponto quer com esta quer com a explosão das restantes partes do mundo.
Países como a Rússia, Bulgária, Ucrânia, Sérvia, Hungria, Roménia, Portugal, Polónia, Alemanha, Itália e outros, que seguem com alarmantes taxas negativas de crescimento demográfico enfrentam situações de sustentabilidade cada vez mais complexas.
A Bulgária, é um dos piores casos. Perderá até 27% da sua população até 2050, segundo prevê a ONU. Baixo índice de natalidade, aldeias desertas, fuga dos jovens para o centro da Europa, tristeza e pânico são os ingredientes que ameaçam destruir o futuro deste país (e outros).
Demograficamente, a Rússia é ainda pior, com a perda de quase um milhão de pessoas activas a cada ano. A mudança de paradigma dos anos 90 (Perestroika-queda do muro), introduzindo novos valores e perdendo os seus, desorientou uma sociedade de tradições e costumes muito consolidados. Quase 900 divórcios em 1 000 casamentos, é elucidativo. União de facto ou concubinato são o modelo corrente. A expansão da taxa de HIV, é um flagelo.
O Japão acompanha os piores no que à taxa de natalidade diz respeito (1,44 filhos por mulher). Os actuais 125 milhões de habitantes baixarão aos 90 milhões em 2050. Acentuar-se-á a concentração cada vez maior da população em cidades, de tal modo que as previsões são de que mais de metade do território esteja despovoado nessa altura. A taxa de suicídio cresce no país do Harakiri; cerca de 30 000 por ano. As causas não serão muito diferentes das de outros países ricos ocidentais: o individualismo, a perda de valores e do sentido da vida. Não ao acaso surgem agências especializadas em aliviar a solidão e manter a aparência das tradições perdidas de família numa sociedade impessoal, hierárquica e conservadora. Actores e actrizes treinados, desempenham serviços de pai, mãe, namorado/a marido ou esposa, a troco de consideráveis quantias, para fazerem de conta. Porém, um país orgulhoso e fechado à imigração e a outras culturas saberá, mais do que nenhum, reagir a uma crise nacional como esta.
Jorge Duarte
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