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OS INDIFERENTES

05-10-2018 - Pedro Pereira

«É mais fácil desintegrar um átomo do que
mudar uma mentalidade»

Einstein

Em cada acto eleitoral que passa, quer em Portugal quer em toda a Europa comunitária, como exemplos mais próximos, decorre um crescente divórcio em eleições, sejam elas autárquicas, legislativas ou presidenciais (para não falar das eleições para o parlamento europeu). Divórcio entre a maioria dos eleitores e os eleitos.

Esse virar de costas manifesta-se, sobretudo, no preocupante e exponencial índice de abstenção.

Registe-se sobre esta situação a atitude autista por parte de muitos políticos, dos seus sequazes e dos “comentadeiros” politiqueiros conhecidos na gíria por “papagaios”, arengando por baixo que é uma situação "normal".

Não é normal num regime verdadeiramente democrático. Só quando o regime está doente, arremeda ser democrático, é que é mesmo “normal”, tal como propagandeiam os avençados do regime.

O povo português (na sua maioria) lutou quase cinquenta anos (até 1974) para reconquistar o direito de voto e agora que o possui, qual a razão porque o não usa?

É costume dizer que «em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão». Pois bem, pensamos que os culpados são a maior parte dos cidadãos que ao longo das décadas de construção do novo regime se demitiram de exercer plenamente os seus direitos de cidadania, não militando em partidos, não participando em actividades associativas, não exigindo os mais elementares direitos que os assistem, aqueles que até se encontram consignados em corpos de leis, aceitando resignados como os burros de carga a "fatalidade" de viverem num país pequeno onde se produz pouco e mal (não obstante o excesso de horas de trabalho, de acordo com a OIT) distanciando o país cada vez mais rápido dos vizinhos espanhóis, para não falar dos restantes países comunitários.

De novo com em décadas de antanho voltamos a ouvir frases salazarentas como: "pobrezinhos mas honrados", "é o destino", "a política é para os políticos" ou a variante, "eu não sou político".

Triste mentalidade sobrante de um regime opressivo. O velho e caduco regime caiu em poucas horas abrindo o caminho à democracia, mas as mentalidades herdeiras da cultura salazarista/ inquisitorial não mudam em horas, já levam décadas e não sabemos quantas mais serão necessárias para mudarem.

Os regimes podem mudar em minutos, mas o câmbio de mentalidades leva anos.

A maior parte do povo é letrado, mas analfabeto funcional. Lê-se pouco e mal e os museus pouco mais são do que desertos decorados, por exemplo. Mas digerem-se horas de telenovelas; de desafios de bola e debates correlativos em mesas redondas, quadradas e bicudas; de concursos e programas televisivos bacocos, indigentes, abaixo de cão. Triste sina nacional.

Sejamos honestos: parte da culpa deste panorama cabe à maior parte da classe política, porque não basta governar para os cidadãos, tem de se governar com os cidadãos, dos quais o mor dos “políticos” se “esquece” terminadas as eleições.

Quantos eleitores sabem quem são os representantes do seu círculo eleitoral na Assembleia da República? E quantos dos eleitos convivem com os seus eleitores? Auscultam os seus problemas visitando as populações das regiões, concelhos ou locais por onde foram eleitos?

O divórcio começa aqui. É como nos casamentos: A falta de diálogo agrava o desentendimento.

A maior parte dos detentores de cargos públicos quando eleitos distanciam-se à velocidade de luz dos seus eleitores. Tornam-se intocáveis, incomunicáveis, "esquecendo-se" que a democracia se constrói todos os dias de mãos dadas.

Por outro lado, os partidos políticos são avessos a abrirem-se ao exterior, porque a verdade é que se quiserem abrir tem de ser imaginativos transformando as suas sedes em fóruns permanentemente abertos a debates de ideias, sobretudo para os que não são seus militantes, saindo inclusivamente fora das suas portas intervindo nesse mesmo sentido, ou seja: promovendo o debate, a discussão permanente de tudo aquilo que interessa e preocupa os cidadãos, a respública.

A maior riqueza das nações reside na sua massa cinzenta e para a sua formação os partidos políticos tem um papel importante a desempenhar, sob pena de virem a contribuir com a sua quota-parte para aquilo que ameaça transformar Portugal a médio prazo, ou seja: num imenso deserto de forças de vontade, de indiferentes.

Pedro Pereira

 

 

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