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…A NUDEZ FORTE DA VERDADE

21-09-2018 - Pedro Pereira

Nuvens negras se adensam no horizonte próximo da nossa vivência colectiva.

Desemprego, falta de habitação condigna, carências alimentares e de assistência médica atempada continuam a atingir largas centenas de milhar de portugueses, muito embora colectivamente de um modo geral as condições de vida tenham evoluído desde 1974.

Longe de ser uma visão apocalíptica, esta é uma dura realidade que se irá agravar nos anos mais próximos.

Vivemos a nível mundial numa fase de transição de paradigma civilizacional, marcada por uma revolução tecnológica em curso cujo saldo, estamos em crer, poderá vir a ser positivo no futuro, mas no entretanto e até então, muita água vai correr debaixo das pontes e muita gente vai ser espezinhada pelo caminho.

Entrementes em Portugal, passados mais de quarenta anos do término da ditadura, as fórmulas toscas e caceteiras de controlo e repressão do antigo regime deram lugar a outras de objectivos semelhantes, que embora igualmente toscas têm vindo insidiosamente a instalar-se no nosso quotidiano travestido com nova roupagem, a coberto da conspurcada palavra “democracia”, que vem servindo para justificar todos os actos de prepotência e repressão por banda dos governos à época e dos seus satélites.

Parafraseando o Eça, «Sob o manto diáfano da fantasia, a nudez forte da verdade», avança com os cascos das alimárias cobertos de veludo que conduzem o destino deste país que é Portugal.

Sinais dos tempos que atravessamos manifestam-se na insegurança de quem trabalha quer nas empresas privadas, quer ao serviço do Estado. Contratos a prazo tornam precário o ganha-pão, sobretudo daqueles que não são da cor política das chefias, sobretudo nas autarquias. Compondo o cenário, refira-se que o actual código de trabalho é digno de um qualquer país não do terceiro, mas do quarto mundo.

A realidade dos números do desemprego é camuflada por estatísticas marteladas pelo poder central. Esta é uma das maiores chagas do primeiro quartel deste milénio.

A revolução tecnológica avança todos os dias a passos largos, provocando, como é natural, a eliminação de postos de trabalho. E se no século XIX os operários em risco de desemprego face ao surgimento da máquina a vapor, dos teares mecânicos, destruíam as máquinas à martelada, sem que tais actos impedissem a marcha do progresso, hoje em dia atitudes idênticas são impensáveis, embora não falte a vontade a muita gente de destruir os computadores e outra maquinaria electrónica e informática, mas principalmente porque a repressão policial é muito mais eficaz.

Nos tempos presentes e dos que se avizinham, no mundo laboral só os mais dotados e tecnicamente capacitados, os super especializados sobreviverão. A contrapartida será um exército de desempregados, legiões de desocupados, clientela fácil das manobras demagógicas de qualquer partido político, que em qualquer momento se poderão tornar incontroláveis com consequências imprevisíveis.

Face a este cenário, mais importante do que tentar resolver o insolúvel, ou seja, criar postos de trabalho onde eles não existem, é gerir a grande horda de desempregados e isso passa pela vontade política e social honesta de quem detém as rédeas do poder.

A mais rica matéria-prima existe; a massa cinzenta. Há que aproveitá-la, incentivar e dar oportunidade aos jovens que todos os anos em fornadas saem das escolas secundárias e das universidades, de criarem grupos de trabalho a fim de proporem eles mesmos soluções alternativas face ao panorama laboral, ou seja, de criarem o seu próprio emprego. Há que lhes fornecer as ferramentas e não a obra acabada.

A imaginação não tem limites e a verdade é que temos de ter consciência que não são aqueles que têm há muito uma carreira profissional organizada, que vão solucionar um problema que toca fundamentalmente àqueles que lutam por um lugar na construção da sociedade, sendo certo de que não existem “iluminados”.

Entretanto, à laia de paliativo e tentando controlar uma situação que a breve trecho se poderá tornar explosiva, o governo trata de manter à rédea curta, de dominar os meios de informação ao seu dispor através de serventuários bem remunerados, caso dos grandes órgãos de comunicação social, sendo que alguns deles dependem da “boa vontade do governo de serviço” para sobreviver, ou seja, numa espécie de poder político e económico casados à força.

No caso da televisão (dos canais televisivos) que de todos é o órgão de informação com mais impacto (des)informativo na maior parte dos casos, é aquele onde o controlo do aparelho governativo se faz sentir de forma mais evidente, com os resultados escandalosos conhecidos, manifestados a nível da censura (não oficial) à boa maneira dos tempos salazarentos, com a informação dos telejornais sincronizada à hora e ao minuto.

Salva-se por enquanto alguma rádio, não a oficial, é claro, que na sua maior parte constitui um espinho incómodo cravado nas mentes escuras e tortuosas dos beatos controleiros de um certo tipo de valores bafientos e passadistas, nos quais se estribam a fim de propalarem a sua “ideologia” sem atentarem, porque lhes é incómodo, aos ventos de mudança que sopram de todos os quadrantes que fazem mover as novas gerações, as gerações do futuro (porque elas por si já são o futuro) que tanto os assusta e que cada vez mais se afastam da politiquice bacoca e dos partidos que não têm querido ou sabido dar resposta aos problemas das novas gerações.

Na realidade, os partidos políticos normalmente e por sistema só dos jovens se lembram em vésperas de campanhas eleitorais, aliciando-os com falsas promessas.

Vive-se (revive-se) o espírito da denúncia, da sobrevivência e da subserviência porque a mentalidade pidesca não foi erradicada só porque houve um golpe de estado militar em 25 de Abril de 1974.

Não tenhamos ilusões, é que para ser pide não bastava ser funcionário de um aparelho repressivo. Ser pide era (e é) acima de tudo um estado de alma, uma filosofia de vida, um extremoso amor, diríamos antes, um amor militante à estupidez, à ignorância, à delação, à pulhice, à sacanagem, à traição, para além de qualquer credo político ou religioso.

Sob o aspecto económico, o quadro também não é o mais animador. Por detrás da insegurança no emprego podemos vislumbrar o capitalismo saloio nacional, retrógrado e caceteiro.

Neste entretanto, em Portugal, aparentemente o povo vive mansamente. Nesta época estival que vai findando toda a gente debanda para as praias sempre que pode. Os concertos roqueiros e outros, assim como os estádios de futebol esgotam lotações.

Chegada a noite, entre uma garfada a jantar e um olhar na televisão, o povo espanta-se com as peripécias de mais um incêndio devastador, como se nunca os tenha visto, e exclama entre a indignação e a resignação: - Ai o “negócio” dos fogos!

O interesse pela corrupção já lá vai. De igual modo os problemas existentes no seio da União Europeia, como a “imigração” à martelada, os conflitos sociais em outros países noticiados à socapa, ou ainda o futuro negro que se vislumbra por esse mundo fora.

Desde que não falte futebol, missa ao domingo, concertos roqueiros ou de música pimba (tanto dá…), umas feiras com sardinhadas e coiratos, o mundo está rendido aos pés do povo português.  

Pedro Pereira

 

 

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