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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

VII – MÁFIAS
AS MÁFIAS À RÉDEA SOLTA EM PORTUGAL (1)

21-09-2018 - Pedro Pereira

Em termos de presença e bases, é indiscutível que a Máfia (as várias máfias) se «passeia» por Portugal, inclusivamente dada a posição estratégica deste país.

Ao longo dos anos tem surgido notícias na comunicação social dando conta desse «fenómeno», muito embora as actividades da onorota socità, passem fugazmente nos noticiários, uma vez que tem muito mais impacto as notícias sobre o rebentamento de escândalos domésticos onde se vislumbram organizações nacionais que incluem bandos de políticos e seus associados a imitarem a face mais negra das mais sinistras corporações mafiosas.

Apresentamos aqui uma pequena resenha cronológica ocorrida nos anos mais recentes, de eventos noticiados sobre a presença e actividades das máfias em Portugal.

Assim, em 12 de Maio de 1998 o Diário Económico publicava uma entrevista ao deputado Francesco Forgione, membro da Comissão Parlamentar antimafia da Assembleia Regional Siciliana, com o título: “ Máfia lava dinheiro em Ilhas de Portugal”, conduzida por João Paulo Guerra, como segue:

«Há elementos em Itália, designadamente na Comissão Parlamentar de que faço parte, que nos levam a concluir que em ilhas atlânticas de Portugal, como de Espanha, elementos mafiosos procedem à lavagem de dinheiro, nomeadamente através de atividades ligadas ao turismo».

Posto perante a necessidade de tornar mais precisa esta afirmação, uma vez que existem dois arquipélagos atlânticos de Portugal, ou seja, Açores e Madeira, o deputado italiano precisou que não se tratava dos Açores.

Forgione esteve em Portugal para participar num seminário sobre droga e lavagem de dinheiro e os números sobre consumo e tráfico de drogas em Portugal tiraram-lhe quaisquer dúvidas: «Onde está a droga, ao nível desses números assustadores, estão sempre grandes organizações mafiosas», afirmou.

A passagem por Portugal de Emilio di Giovine, “capo” da Máfia calabresa, a ‘Ndranghetta, é outro dado que o deputado siciliano considera do maior significado. «Um mafioso importante como Di Giovine não esteve aqui por acaso. Não tenho dúvidas que a sua presença assinala uma relação de negócios da ‘Ndranghetta em Portugal, o estabelecimento de um circuito de tráfico que atravessa Portugal e conduz à Europa».

Na entrevista ao Diário Económico, Francesco Forgione traça ainda o mapa do tesouro das máfias em Itália, na Europa e no Mundo, na época da globalização da economia e das novíssimas tecnologias de informação, referindo que, «Hoje [1998], segundo o FMI, os negócios mafiosos representam 2,1 por cento do PIB mundial.»

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Outubro de 2010

A Polícia Judiciária de Leiria deteve no Bombarral quatro italianos, dois portugueses e uma brasileira. Um dos italianos era Giovanni Lore, um chefe da Cosa Nostra, que havia entrado em Portugal a partir de Vigo.

No verão anterior havia sido detectado num controlo policial. Nessa altura alegou que era empresário do sector da pesca e era por essa razão que transportava dentro do carro enormes somas de dinheiro.

Encontrava-se em fuga de Itália após uma operação anti-máfia, na qual foram presos cerca de trinta mafiosos, e sob o qual pendia um mandato de captura europeu.

O departamento de investigação criminal de Leiria vigiou-o durante cerca de quatro meses nas casas que utilizava nessa região.

Acabou por ser capturado juntamente com seis indivíduos. Foram acusados de furto de automóveis, receptação de bens roubados, associação criminosa e branqueamento de capitais. Na altura da detenção possuía em seu poder vários computadores, discos rígidos, abundante documentação comercial, documentos de clonagem de empresas com existência legal e uma arma de fogo.

Lore, de 50 anos de idade, tinha sobre ele pendente um mandato de captura europeu por pertencer à Máfia siciliana.

Aparentemente o bando dedicava-se à compra de diverso tipo de mercadorias, que depois vendiam sem pagar ao fornecedor.

Giovanni Lore assim que se instalou em Portugal tratou de dinamizar o negócio da prostituição que a sua organização desenvolvia em Itália, a par do tráfico de droga e do branqueamento de capitais, entre outras actividades afins.

Foi acusado pelas autoridades portuguesas de associação criminosa, falsificação de documentos e branqueamento de capitais.

Um dos portugueses detidos pela PJ de Leiria, era proprietário de um conhecido bar situado em Santarém, e o seu envolvimento no bando criminoso constituiu surpresa para quem o conhecia relativamente bem.

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Outubro de 2010

De acordo com o então presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), José Manuel Anes, em declarações prestadas ao Diário de Notícias, “(…) A Máfia siciliana tem vindo a estender os seus tentáculos em território português, de uma forma discreta, com vários elementos a procurarem guarida em solo luso (…), referindo mais adiante que, “as várias organizações mafiosas sicilianas (Camorra, 'Ndrangheta e Cosa Nostra) recrutam elementos locais, portugueses, e coligam-se com outras máfias, como a brasileira, também presente no nosso país".

De acordo com o relatório da agência policial europeia Europol, de 2009, Portugal detinha um "papel significativo" no tráfico de droga desenvolvido pela 'Ndrangheta, o principal grupo italiano envolvido nas redes de cocaína.

( https://www.dn.pt/portugal/centro/interior/portugal-e-um-refugio-para-as-mafias-sicilianas-1693835.html ),

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Maio de 2012

A Polícia Judiciária deteve em Oliveira do Hospital um italiano, de 36 anos, suspeito de estar ligado ao clã Pagnozzi, da Camorra , procurado pelas autoridades do seu país para cumprir pena de 30 anos de cadeia pelo homicídio em 2003 do chefe de um clã rival, abatido numa taberna de Solopaca, na região de Campania.

Foi detido quando se dirigia de carro na companhia da sua noiva, para recolher a sua sogra à saída do supermercado onde esta última trabalhava. Após ser condenado, fugiu de Itália para a Alemanha, onde conheceu Vânia C., filha de emigrantes portugueses.

A captura de Giovanni Capone Perna, foi o culminar de uma intensa cooperação policial entre a PJ e as autoridades italianas, estabelecida nos últimos tempos com a finalidade de localizar e deter este indivíduo.

Giovanni Capone Perna pertencia à família Pagnozzi e tinha sido condenado a trinta anos de prisão pelo assassinato de Francesco Esposito, também associado à Camorra, em Sannio, Solopaca (Benevento), em 2003.

Só graças à operação conjunta da Polícia Judiciária e das autoridades italianas foi possível conduzir à captura, desse membro da Máfia napolitana. Capone era alvo de um mandado internacional de captura emitido pelo Tribunal da Relação de Nápoles.

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Outubro de 2014

De passagem por Lisboa onde veio apresentar o seu livro ZeroZeroZero – A Cocaína Governa o Mundo, o jornalista de investigação Roberto Saviano afirmava em entrevista ao semanário Sol: “O sistema financeiro usa a Máfia”.

Respondendo ao entrevistador se, “Tem conhecimento das máfias italianas que actuam em Portugal?”, afirmou: “A ‘Ndrangheta, a calabresa, que actua em Portugal e usa a costa atlântica (…) Em Lisboa toda a gente sabe quais são os restaurantes que fazem lavagem de dinheiro da ‘Ndrangheta. Admiro muito na política portuguesa o facto de se ter descriminalizado o consumo. Mas onde está o dinheiro da droga, se Portugal foi entre 2000 e 2006 a principal porta de entrada? Está em Andorra? E como é que os bancos portugueses, alguns que estão agora mal, nunca tocaram nesse dinheiro? Impossível.

( https://sol.sapo.pt/artigo/116896/roberto-saviano-o-sistema-financeiro-usa-a-mafia )

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Junho de 2015

A Polícia Judiciária deteve na região de Lisboa um indivíduo alvo de um mandado de captura internacional por suspeita de ligação a uma poderosa organização de narcotráfico italiana ligada à máfia calabresa, a ‘Ndrangheta.

Fonte da PJ adiantou que o detido, de 34 anos, possuía dupla nacionalidade, brasileira/portuguesa, e que no âmbito de uma operação de grande envergadura de combate ao tráfico de droga internacional desenvolvida em Itália foram detidas mais sete pessoas e apreendidos cerca de quatro milhões de euros.

Continua na próxima semana

 

 

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