Os cagões!
30-05-2014 - Francisco Pereira
Esta vai ser uma crónica de costumes, assente no pressuposto de que a fauna nacional tem imensas figuras típicas, que deveriam ser alvo de estudos sociológicos, se o não foram já, para traduzir para o espectro científico aquilo que qualquer engraxador sabe, entre as diversas espécies da fauna lusitana, os “cagões”, à quem prefira dizer presunçosos, são das figuras mais patéticas e por vezes asquerosas mas no fundo até lhes consigo achar alguma piada.
Tal temática surgiu a propósito de uma situação, ocorrida recentemente, ainda que não a primeira desse tipo de ocorrências. A minha incumbência profissional obriga a que criar um registo de quem recorre aos serviços onde desempenho funções, um dos itens que registamos, prende-se com as habilitações académicas. Ora um destes dias, estando particularmente bem disposto, ao indagar sobre as supra citadas habilitações de um indígena local que estava perante os meus olhos, o dito sevandija dispara com a seguinte frase; «…frequência universitária…».
Desviei os olhos do monitor do computador, coloquei o meu melhor sorriso falso e disse-lhe de forma tranquila e pausada. “ Isso da frequência universitária é o quê, um daqueles cursos do tipo que o Relvas tirou?” – fiz uma pausa, à procura de resposta que não obtive, apenas um sorriso amarelo de idiota, por esta altura o homem já estava a engolir em seco, depois continuei – “O senhor terá de escolher outra coisa, porque aqui nos quadros, não consta «frequência universitária» como possível escolha para habilitação académica”. Continuei a sorrir, e o indígena que até ali parecera um papagaio, aliás quem o ouvir falar até pensará que o homem é engenheiro, tantas e tais são as «postas de pescada» que arrota, sussurrou ou antes murmurou, “12º ano”.
Pois era só isso que eu queria que me dissesse, qual é o drama de dizer que tem o 12º, até podia ter apenas a 4ª Classe, ninguém o julga por isso, caiu-lhe algum bocado? Mas não, tinha de se armar em “cagão”, presumir mais do que aquilo que é, pergunto-me para quê ou porquê? Para me impressionar não deve ser. Só posso chegar a uma conclusão o camarada tem uma auto estima tão baixa que precisa de se valorizar com este tipo de imbecilidades que não levam a nada.
Os “cagões” adoram presumir, adoram aquela coisa muito comum de se tratarem todos por “Dr.” Quando a maioria, os que concluíram, têm uma licenciatura qualquer, tirada numa qualquer universidade obscura. Adoram discursos fáceis e as tais «doutorices» que servem essencialmente para esconder as suas fracas qualidades, a incompetência e por vezes a fraqueza de carácter. Mas não posso deixar de lhes achar graça, por norma raramente intervenho quando exposto a um “cagão”, que faz e que acontece, que é amigo do doutor fulano e do doutor sicrano, que opina sobre tudo e mais alguma coisa de forma quase catedrática, replicando conversas que ouviu ou notícias a que deu atenção, farto-me de rir com estes tipos.
A natureza humana tem destas coisas, não será dos exemplos mais edificantes, mas o “cagão” é sublime, creio mesmo que deve ser elevado à categoria de ícone da «portugalidade», uma parte importante daquilo que faz parte do que é ser português. Sem um “cagão” estou em crer que a vida seria muito mais triste, desde logo ter-me-ia tramado esta croniqueta, que não teria tema.
Francisco Pereira
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