As nossas Europas

23-05-2014 - Francisco Pereira

Dia 25 seremos chamados às urnas para eleger, um Parlamento dessa coisa chamada União Europeia, que de Europeia tem cada vez menos e de União, mesmo quase nada. Em Portugal, prevejo mais uma daquelas taxas de abstenção de criar vergonha nas trombas sem vergonha dos politiqueiros rafeiros que temos, mas a ver vamos.

Esta Europa na realidade são várias, o sonho europeu dos pais fundadores do projecto há muito que foi desfeito pelos interesses das chancelarias nacionais, sendo que nos dias que correm o famigerado eixo Londres-Paris-Berlin, que efectivamente dominava a Europa passou simplesmente a Berlim e a política Europeia resume-se essencialmente aquilo que os alemães acham que deve ser a Europa e pouco mais, o Reino Unido, encolheu-se na sua costumeira atitude introspectiva insular, cheio de problemas para resolver, com uma segurança social caótica minada por décadas de parasitismo social, por isso está arredada do palco, a França está “à genoux”, aliás a ida de Hollande humildemente a Berlin numa quase atitude de felácio de estado ao grande membro viril da Europa que é a «Gross Deutschland» bismarquiana do hino, acto que a senhora Merkel convenientemente agradeceu.

Para além dos grandes e graves problemas económicos que atravessam, e que só vão disfarçando, porque ambos possuem economias relativamente dinâmicas além de mercados externos em zonas de países em vias de desenvolvimento, França e o Reino Unido, confrontam-se com os problemas políticos internos de um lado Le Pen do outro o UKIP, partidos euro cépticos e com agendas nada pró Europa, e não esqueçamos o também nacionalista PVV da libertária Holanda.

A Sul é o que se sabe, Espanha, Itália, Grécia, Chipre e Portugal estão cada vez mais no fosso, graças às políticas das impostas austeridades, que mais não foram que excelentes modos de enriquecer a banca e os especuladores endinheirados da Europa do norte com o Deutsch Bank à cabeça, a China e os especuladores profissionais de Wall Street.

A Leste é o paraíso da miséria, Bulgária, Roménia, Hungria e por aí adiante, são antros de miserabilismo, com grandes populações de parasitas habituados a nada fazer e que desaguam abundantemente, basta ver as esplanadas de Portugal, nos já martirizados serviços de segurança social de países como o nosso para continuarem a viver à sombra da bananeira. Não esquecendo o sarilho da Ucrânia, nem o berbicacho da Turquia cada vez mais islamita, menos democrática e menos europeísta, nem a pusilânime distância que os países do norte vão criando em relação ao projecto de uma Europa verdadeiramente una.

Por cá, é a tristeza absoluta, entre a patética dupla Batman Rangel e Robin Melo, a pobreza franciscana de Assis e as restantes esquerdeirices estafadas do PCP e do Bloco é a mais risível e triste campanha, uma excelente imagem dos políticos nacionais cujo afã só se nota no tentarem correr atrás dos poleiros europeus, para continuarem a nada fazer. O mais confrangedor é o completo vazio de ideias, candidaturas ocas e irreais, onde Rangel anda preocupado com Sócrates, Assis preocupado com Passos Coelho e os outros preocupados em serem eleitos. Quanto a ideias, zero, um absoluto nada.

E é nesta amálgama de Europas, que a Europa vai a votos, cada vez menos Europa, correndo o risco de partidos extremistas chegarem ao Parlamento Europeu e fazerem das suas, lá vão os tais “mercados” reagir, e lá voltará uma nova campanha especulativa contra a moeda única, que nos arrastará a nós de novo para um buraco ainda mais fundo de dívidas, dado que o vórtice de dívida que o actual governo criou, sem estruturar, mais uma vez o país, nos fará afundar ainda mais. Esperemos que não, vamos esperar que o bom senso impere, sinceramente duvidamos, mas veremos!

Francisco Pereira

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