O Pássaro e a Estátua
13-07-2018 - Pedro Barroso
O pássaro parou um momento no nariz da estátua e disse:
- Bom dia! ...que bonita és!
A estátua surpreendida, respondeu:
- Obrigado...- e, se não fosse de mármore, quase se diria que corou.
- De facto, tens um rosto e um corpo muito belos - acrescentou ele.
Aí, ela desvaneceu-se em agradecimentos; mas advertiu que era de pedra; não podia falar...
- Mas tu estás a responder-me! - Observou o pássaro.
- Ora... Também eu pensava que tu só piavas e cantavas e não eras capaz de dizer coisas assim... - E os veios róseos do seu mármore pareceram ficar mais vermelhos da perturbação.
- Por vezes digo. Mas só quando fico encantado, como tu me encantaste.
Atrapalhada, a estátua balbuciou apenas:
- Também tu és muito bonito. Mas...Não me confundas... voa!
- E tu, ficas? - Perguntou o pássaro, já triste.
- Eu fico. O nosso amor é impossível. - Murmurou ela, quase sem mexer os lábios.
.........
Atento ao episódio, conclui que nem sempre um diálogo de surdos, afinal, é desprovido de sentimentos.
Comovido, cheguei perto de ambos e ouvi-me dizer-lhes:
- Tu pássaro, é da tua condição seres admirado em voo por aí. E tu, estátua, é de tua condição seres admirada aqui mesmo, ficando.
Oh que salomónica exaltação das cousas! Devo ser uma pessoa muito inteligente. A manhã ficou muito mais esclarecida.
Palavra do Senhor.
Pedro Barroso
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