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O DESMANTELAMENTO DA EUROPA

01-06-2018 - Pedro Pereira

Em 2008 começou a desenhar-se no horizonte, sobretudo no mundo ocidental, uma ofensiva gradual sem precedentes sobre os cidadãos em geral, com especial incidência nas classes laborais, pequenos e médios industriais, empresários e comerciantes. Enfim, sobre os rendimentos, os direitos e as liberdades de todos e cada um dos cidadãos, afetando em particular a classe média.

Este ataque, proveniente de um governo sombra global é claro para os cidadãos mais atentos em todos os estados membros da União Europeia e outras nações, sentindo-o nós, portugueses, em Portugal, no quotidiano, com manifesta preocupação, diríamos mesmo, com angústia, porque o desemprego continua a ser um flagelo e só é atenuado pelo emprego sazonal não obstante os salários miseráveis que o acompanham. A insegurança laboral assume contornos fantasmagóricos e os rendimentos do trabalho são cada vez menores, massacrados que são, os cidadãos, pelos salários miseráveis e pela pesada carga fiscal. A miséria e a criminalidade, assumem-se cada vez mais com contornos de flagelo.

Nesta altura, convém salientar que os dirigentes da União Europeia, os chefes de governos e presidentes dos Estados que a compõem, limitam-se a cumprir ordens em cadeia emanadas do topo de uma pirâmide, cujo vértice sinistro o comum dos cidadãos não consegue vislumbrar, mas que alguns dos referidos dirigentes políticos conhecem.

Acresce que, há cerca de vinte anos tivemos conhecimento que nos anos seguintes (desde então) o modelo de economia global assumiria a face que hoje conhecemos, ou seja, o reforço dos oligopólios; a drástica baixa dos salários reais; a agilização dos despedimentos e/ou supressão de postos de trabalho, até que qualquer estado atinja entre 23% a 25% de desempregados; a redução dos benefícios fiscais das classes média e baixa; o desmantelamento dos serviços nacionais de saúde, de segurança social e de aposentação; o controlo absoluto dos cidadãos através de sistemas informáticos como o cartão do cidadão, os cartões de crédito, os cartões de multibanco e todos quanto contenham chips electrónicos e o reforço do controlo dos serviços de videovigilância, tendo estes fatores como objetivos (entre outros), a aproximação crescente entre as classes média e baixa até que as duas se encontrem ao nível da subsistência mínima.

Na altura, muito embora fossemos alertados por «eurocratas» das nossas relações pessoais, bem posicionados, para o cenário que agora vivemos e o que nos resta viver, pensámos estar a escutar o relato de um filme de ficção científica da série B e por isso cépticos ficámos, uma vez que no horizonte não se vislumbravam nuvens negras. Mesmo que na altura acreditássemos no que ouvíamos e passássemos as informações a outras pessoas, de pouco ou nada adiantaria a transmissão desses informes, sabendo nós que eram afirmações verdadeiramente «fantásticas» para os tempos que então vivíamos.

O tempo se encarregou de nos mostrar que o relato que nos pareceu ficção científica se transmutou em sinistra realidade.

Como vivemos tempos de Trevas, de Ignorância, de Preconceitos e de tiranetes a porem-se em bicos de pés, é dever de todos os cidadãos lutarem contra os mesmos, defendendo a Justiça, a Verdade, a Equidade, a Solidariedade e a justa repartição da riqueza, princípios que estão a ser espezinhados pelos governos da UE, prenhes de políticos cinzentões a condizer com as fardas/fatos que trajam no dia-a-dia, funcionários submissos de tiranos de rosto oculto pelas máscaras de assassinos sociais e não só.

Porém, é dever de todos os cidadãos, combaterem a opressão; a limitação das liberdades fundamentais em nome de uma pretensa segurança (?) e de uma modernização dos Estados, de carácter claramente duvidoso; o autoritarismo; a corrupção; o saque; os desmandos e o esbulho dos rendimentos do trabalho, dos bens e do património dos europeus em geral e de Portugal e dos portugueses em particular.

Quanto a ideologias políticas dos governos das nações em causa, «estamos conversados». Independentemente do rótulo político e emblema que cada um ostente, governam todos da mesma maneira, ou seja, de acordo com as ordens que recebem de Bruxelas e de Bona e que estes, por sua vez, recebem do governo sombra global.

A política do «memorando contínuo» que se encontra implementada nos estados membros da UE, paulatinamente vai conduzindo à destruição, quer relativa, quer absoluta, da organização tradicional do trabalho, eliminando os quadros intermédios nos mais variados sectores de atividade pública e privada e reduzindo a 10% os quadros superiores.

Desmantelados, assim, os atuais quadros de hierarquias laborais, os trabalhadores passarão a ser geridos a partir de linhas de comando direto, exercido pelas poucas chefias da absoluta confiança política dos «fatos cinzentos», quer na administração pública e autárquica, quer nas fábricas e nas empresas.

Para controlar os trabalhadores nos vários sectores empresariais e do Estado, serão reforçados o número de informadores dentro destes, ao estilo das polícias secretas. Novas formas de organização laboral encontram-se a ser criadas dando lugar a novas formas de exploração a custos médios, muito mais baixos que os atualmente em vigor, abrangendo todos quantos labutam, reduzindo os seus salários reais, seja através dos cortes nos mesmos ou do aumentando da coleta sobre os rendimentos do trabalho, provendo a uma crescente acumulação e concentração do capital nos oligopólios.

No caso da produção, incluindo no setor primário, os preços finais para o comprador acompanharão em parte a descida real dos salários, formula expedita encontrada pelos assassinos sociais para que o consumo e os seus lucros não definhem, uma vez que os preços poderão, então, competir com os praticados pelos dos produtos provindos das sociedades industriais emergentes, casos da China e da India, por exemplo.

Em Portugal, Grécia, França, Espanha e Áustria, o limite de idade para a reforma e as contribuições dos trabalhadores vem aumentado de forma significativa. De igual modo, em Itália, na Irlanda, em Portugal, na Grécia e em Espanha nos últimos anos, os impostos indiretos subiram drasticamente.

Na Polónia, Roménia, Irlanda, Áustria, República Checa, Itália, França, Portugal e Grécia, os salários regais dos trabalhadores continuam a ser reduzidos de forma indirecta em cada mês quer passa, bem assim, como o número de funcionários públicos, quer através da supressão dos postos de trabalho, quer não renovando contratos com trabalhadores que há vários anos se encontram nessa precária situação laboral.

Reputados economistas mundiais de variados quadrantes, admitem que o plano para reduzir a dívida por meio do famigerado «memorando» e as asfixiantes medidas de austeridade que continuam pairando como abutres sobre países como a Grécia, Irlanda e Portugal, conduzem a um círculo vicioso em espiral de aumento da dívida pública e de recessão.

Neste momento, a principal preocupação dos governos dos países em dificuldades, é salvar a banca em geral que continua a navegar em mar encapelado, não obstante os 500000 milhões de euros injetados em tempos da Troika, que de acordo com as cândidas declarações do então presidente da Comissão Europeia, o sr. Durão Barroso, serviu para salvar as poupanças dos depositantes (?). É evidente que por detrás destas iniciativas se encontra o «fantasma» da crise de 1929, que inúmeros analistas consideram que poderia ter sido evitada se acaso os governos tivessem salvado os bancos da bancarrota.

Todos sabemos, de igual forma, que a ultrapassagem da profunda depressão económica iniciada em Wall Street, só foi superada com a economia de guerra gerada pela entrada dos USA na II Grande Guerra Mundial.

A problemática da dívida pública não se refere apenas ao seu nível, mas também, à despesa acrescida com o seu serviço, a qual, em última análise, determina a incapacidade de um estado para pagar, ou seja, leva-o à bancarrota.

Em 2009 o presidente do Conselho Europeu admitiu que a ansiedade com a gestão da dívida pública dos estados endividados da UE (caso de Portugal) afetava o reforço do euro como divisa internacional e o futuro da Eurozona como um todo, devido ao elevado nível de interdependência das economias.

A salvaguarda da Eurozona e dos principais prestamistas eram (são), portanto, os motivos pelos quais foi necessário celebrar atabalhoadamente um acordo sobre os mecanismos de Estabilidade Europeia e os pagamentos das prestações dos empréstimos aos países endividados.

O que preocupa o governo sombra global não é tanto a dimensão da dívida portuguesa ou grega, por exemplo, mas a dificuldade de administrar a reação em cadeia em países com a Itália ou a Espanha, tanto mais que um dos seus objetivos primários é salvar o sistema financeiro, instrumento fundamental para a acumulação de capital.

De resto, está bem de ver que tal como o princípio da Física que refere: «matéria atrai matéria na razão direta das massas», o mesmo princípio se aplica à economia, ou seja: «riqueza atrai riqueza na razão direta das massas». De igual modo: «miséria atrai miséria na razão direta das massas». Estes são princípios do mais elementar senso comum, inquestionáveis. Logo, é compreensível que esmifrar o «sangue e o tutano» de um povo – como no caso português – para resolver uma crise económica sistémica, só por si não salvará o país de um desastre «anunciado», caso não haja, quanto antes, um esforço coletivo que incentive e facilite o investimento em setores produtivos de base de que o país é deficitário, como a agricultura, com incidência na produção cerealífera, olivícola e outras; no setor das pescas, através da renovação/modernização da decrépita e – quase – artesanal frota pesqueira; na exploração mineira e nas pedreiras; na indústria transformadora/conserveira; na exploração das potencialidades da nossa costa Atlântica; na pecuária e seus derivados: carne, leite, laticínios…; nas energias alternativas: eólica, geotérmica, de marés… e outras.

Entretanto, o governo francês e o governo alemão procuram minimizar a sua participação estatal nos mecanismos de apoio aos estados endividados transferindo uma parte do fardo da reestruturação para os grupos de credores da banca, enquanto o BCE e os bancos europeus fazem pressão para que o cancelamento parcial da dívida não ocorra às suas custas. Não obstante a oferta de uma alta taxa de juro, não se encontram satisfeitos, porque consideram improvável o reembolso da dívida; questionam a probalidade de os planos propostos virem a ter êxito.

É enquadrado neste cenário que as reestruturações das dívidas soberanas estão a ser promovidas pelos círculos americanos, os quais vêm intervindo ativamente na competição euro/dólar, como divisas de reserva internacionais.

De qualquer forma, os trabalhadores, os pequenos e médios empresários, industriais e comerciantes, nada podem esperar de positivo do resultado desta luta de galos de capoeira. Qualquer que seja o resultado da mesma, entre os vários patamares do capital e dos estados mais fortes, a ofensiva da classe dominante continuará a manifestar-se afanosamente, procurando a forma de assegurar a força de trabalho mais barata, acelerando as reestruturações, as privatizações e a liquidação da propriedade pública a favor das multinacionais e corporações monopolistas.

Quanto ao reembolso da dívida pública, as várias propostas do governo sombra diferem apenas sobre o quando e como os povos pagarão a conta, na certeza que, com a extensão do período para o reembolso dos títulos, os trabalhadores terão de pagar mais, ao longo de um maior período de tempo, quer a taxa de juro permaneça estável, quer a mesma aumente.

Assim, a questão crucial que se coloca no presente, está em saber que convulsões sociais e políticas se sucederão, no intermezzo do patamar de fratura entre o atual modelo económico que se esboroa rapidamente e um novo modelo económico assente noutro paradigma que se nos afigura feroz e desumano.

Quanto às fortunas dos grandes capitalistas, dos grandes milionários a nível mundial, essas, encontram-se asseguradas. Aliás, continuam a engrossar em cada dia que passa à custa do empobrecimento generalizado de milhões de seres humanos, pouco lhes preocupando o futuro destes, uma vez que são detentores de vastos patrimónios e os seus pecúlios encontram-se bem entesourados.

Pensamos que, pelo andamento que leva a conjuntura económica e social que vivemos, não será de excluir a hipótese de guerras civis e/ou globais, o que – por razões óbvias - convém aos oligopólios das mais diversas áreas e aos genocidas sociais, tanto mais que os recursos naturais mundiais em breve se tornarão escassos, caso a evolução demográfica continue ao ritmo diário atualmente registado.

Pedro Pereira

 

 

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