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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS (1)

11-05-2018 - Pedro Pereira

Em 1940 (de 23 de Junho a 2 de Dezembro) realizou-se em Portugal aquela que foi provavelmente a maior e mais dispendiosa operação de propaganda do Estado Novo: A Exposição do Mundo Português.

A iniciativa acabou por constituir uma frustração para o regime, dado que, entretanto, na fase final do projecto, eclodiu a 2ª Grande Guerra Mundial, na sequência da invasão da Polónia pelas tropas hitlerianas. Entretanto em Maio seguinte, a França rendeu-se aos exércitos alemães e outros países europeus foram sendo invadidos. Só a Grã-Bretanha manteve a resistência.

A Península Ibérica, teoricamente neutral, (embora os regimes de Salazar e de Franco vissem com bons olhos a causa de Berlim), encontrava-se isolada do resto da Europa.

Não circulavam pessoas nem bens pela fronteira dos Pirenéus.

Portugal era uma porta aberta para a América, e a Lisboa acorriam refugiados e espiões do Eixo e dos Aliados.

A construção da gigantesca Exposição do Mundo Português exigia um número de visitantes estrangeiros que a situação de guerra acabou por impossibilitar, daí o seu fracasso e o respectivo encerramento ao fim de um período de tempo muito inferior ao previsto, sendo que os visitantes foram quase só portugueses.

De todo o aparato cénico, chegaram aos nossos dias dois ou três pavilhões implantados à beira-Tejo. Parte dessas instalações alberga o Museu de Arte Popular.

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Da Ideia da Exposição

A ideia da Exposição foi do então embaixador de Portugal em Bruxelas, Alberto de Oliveira, o qual, em 1929, publicou um artigo no Diário de Notícias a que foi dado grande destaque, no qual chamava a atenção para a coincidência de duas datas importantes da História de Portugal que se comemoravam em 1940 (Fundação da Nacionalidade e Restauração da Independência) e propunha que os onze anos seguintes a partir de então, fossem aproveitados para preparar condignamente essas festividades.

Resta acrescentar que Oliveira, embora nomeado para presidir à Comissão Oficial, veio a falecer em Abril de 1940, não tendo, portanto, assistido à inauguração da Exposição, que teve lugar em 23 de Junho e encerrou as portas em 2 de Dezembro.

A partir da publicação do artigo, só nove anos passados é que Salazar aparentemente deu atenção à proposta do evento, preocupado que andava com a consolidação do regime «construído» à sua imagem.

O ano de 1940 foi áureo para o nacional-socialismo alemão (embriagados que andavam os nazis pelas suas vitórias), bem assim para os demais regimes de ditaduras na Europa, caso de Itália (fascismo), Espanha (franquismo) e naturalmente para Portugal (salazarismo), por exemplo.

É neste ambiente de terror provocado pela guerra, mas também de uma grande euforia, que devemos enquadrar a realização desse imenso esforço que foram as Comemorações dos Centenários.

O regime não se poupou a despesas, nem se esqueceram pormenores como a "repressão" da mendicidade ou a "limpeza das casas e das ruas".

Para dar apoio à Exposição foi montada uma pensão popular para 550 pessoas onde os hóspedes podiam tomar 3 refeições diárias e mais a dormida em quartos para mais do que uma pessoa a 13$00, além de quartos individuais a 15$00.

Os estrangeiros que se deslocaram à Exposição, foi por se encontrarem em trânsito por Lisboa, nomeadamente refugiados de guerra.

Um desses estrangeiros que por aqui passou foi A. de Saint-Exupéry, a caminho dos EUA, para quem Lisboa surgiu "como uma espécie de paraíso claro e triste". (Medina, João, História Contemporânea de Portugal, Lx.1988, Tomo I, pg.154).

Segundo Exupéry, "Portugal tentava acreditar na felicidade".

A Exposição representou na época, uma das mais fantásticas campanhas de Obras Públicas, que atenuou a grave crise de desemprego que até então se vivia.

Em paralelo, acompanhando o acontecimento, entre 31 de Janeiro de 1939 e Dezembro de 1940 foi publicada a Revista dos Centenários, publicitando o andamento da exposição e as obras a propósito que foram sendo realizadas por todo o país, como a restauração de castelo (Santarém, Silves, etc.), e outros monumentos, construção de pontes, estradas, inauguração de estátuas e edifícios, em particular nas capitais de distrito, congressos, exposições, festividades várias e por aí fora.

Em vésperas das comemorações centenárias, todas as obras foram nelas integradas, sobretudo as que se previam para a região de Lisboa, muito embora a maioria delas não estivesse pronta à data da inauguração do certame.

Exemplos deste programa de Obras Públicas: - edifícios da gare marítima de Alcântara, marina de Belém, ou os do aeroporto da Portela, da estrada marginal Lisboa/Cascais, das estradas de Monsanto entre outras, que pretendiam dar outra imagem das zonas marítimas e ribeirinhas da capital.

A Exposição foi cuidadosamente preparada em termos ideológicos por António Ferro, director do SNI - Secretariado de Propaganda Nacional, a quem tinha sido dado o cargo de Secretário da Comissão Nacional dos Centenários.

Ferro, rodeou-se de alguns dos maiores artistas portugueses de então (arquitectos, pintores, escultores, engenheiros, etc.) com quem, desde 1939 trabalhou no estudo pormenorizado da Exposição.

Este foi o ponto culminante na carreira política de António Ferro, defensor de Salazar e admirador de Mussolini.

A obra de maior carga simbólica foi sem dúvida o Padrão dos Descobrimentos, significativamente penetrando na água. Concebido em madeira, estafe, gesso e outros materiais provisórios, acabou mais tarde por ser reproduzido em pedra como hoje o podemos ver.

Obra de Cottinelli Telmo (arquitecto) e de Leopoldo de Almeida (escultor), quando do ciclone que assolou o país em 15 de Fevereiro de 1941, que deixou um rasto de destruição e um elevado número de mortos, no fragor do temporal Lisboa assistiu à “fuga” do Infante D. Henrique capitaneando o restante monumento escultórico a navegar nas águas do Tejo rumo à barra, onde acabou por ser apanhado.

Dos restantes núcleos, o das aldeias portuguesas era entendido como a "síntese deliciosa de toda a paisagem portuguesa cheia de ternura e de idealismo, de pitoresco e de unidade de espírito". (Mundo Português-Imagens de uma Exposição).

De salientar igualmente, os pavilhões da secção Colonial, onde se fazia um resumo pela imagem do mundo colonial português, através de uma reconstrução etnográfica, pela sugestão da paisagem e da raça. Nesta secção houve o cuidado de preservar tanto quanto possível a flora ultramarina existente nos territórios africanos e asiáticos portugueses. Igualmente se encontravam as Missões, com recreação de aldeias indígenas, que foram decoradas com indígenas vindos directamente para o evento. No decorrer do acontecimento fez bastante frio e algumas dessas criaturas passaram bastante mal, uma vez que trajavam uns parcos trapos como nas suas aldeias de origem.

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Dos Pavilhões

Os pavilhões mais importantes encontravam-se na zona central da Exposição.

Várias soluções foram ensaiadas nos edifícios aí construídos, porém, a predominância foi dada aos dois grandes Pavilhões dos portugueses no Mundo e da Honra e o de Lisboa. Estes constituíam, de facto, os elementos morfológicos chave para a compreensão de toda a concepção da Exposição.

Foram de facto os únicos pavilhões com dimensões verdadeiramente significativas em termos urbanos, com comprimento praticamente idêntico ao Mosteiro dos Jerónimos, que estruturaram dois dos lados da Praça do Império com a sua fonte monumental em torno da qual se articulava toda a Exposição.

Foi da responsabilidade de Cottinelli Telmo o plano geral e a coordenação de todo o projecto, reservando para si mesmo a execução do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, da Porta da Fundação e do Padrão dos Descobrimentos como acima referido, tendo sido ainda o autor da Praça do Império e da Fonte Monumental que ainda hoje ali existem.

Na elaboração dos restantes edifícios colaboraram quase todos os mais importantes arquitectos em actividade na zona de Lisboa, como Raúl Lino, Cassiano Branco, João Simões, Veloso Reis Camelo, Pardal Monteiro, Keil do Amaral, Carlos Ramos, Jorge Segurado, Vasco de Morais Palmeiro, António Lino, Gonçalo de Mello Breyner, José Bastos, Raul Rodrigues Lima ...

Pedro Pereira

Na Próxima Edição do Noticias de Almeirim será publicada a 2ª parte de artigo

 

 

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