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Quinta-feira 18 de Abril de 2024  
Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

IV – HISTÓRIAS DE ENCANTAR
IN ILO TEMPORE

02-03-2018 - Pedro Pereira

Já a noite de manso se avizinhava trajada de negro véu, quando o cavaleiro encetou a jornada há muito tempo havia projectado como objectivo de crucial e decisiva importância.

Tocando a montada, meteu-a em trote lento por um pedregoso caminho densamente arborizado que o cavalo parecia conhecer.

Tempo passado chegaram ao sopé de uma montanha. A partir daí a viagem tornou-se mais difícil. Um escarpado carreiro serpenteava serra acima por meio de silvados e de árvores cujas copas desabavam no caminho. A noite cerrou e a lua subiu cheia, redonda, prateada, acompanhada pelo piar lúgubre de aves nocturnas.

As ferraduras faziam chispar faíscas dos seixos que na andadura rolavam por baixo dos cascos da alimária, à qual o cavaleiro dava rédea comedida.

O luar transmitia às árvores, aos arbustos que se prendiam na capa do cavaleiro, a tudo, um ar irreal, fantasmagórico de tal ordem que até as pedras pareciam animadas de vida própria.

Corria uma leve brisa gelada.

Passadas que foram mais de três horas de marcha, cavalo e cavaleiro encontraram-se quase no topo da escalabrada montanha, onde se avistavam as torres pontiagudas de uma fortaleza banhadas pelo luar prateado.

O piar grave de um mocho de olhos esbugalhados, empoleirado num galho de uma árvore seca à beira do caminho, fez com que o cavalo se empinasse assustado. O cavaleiro susteve-o pelas rédeas acalmando-o com palavras breves.

Retomaram a marcha atingindo por fim a fortaleza. Passaram a ponte levadiça do mastodonte, que de dentro fizeram baixar lentamente. Transpuseram o fosso circundante, passaram um enorme pátio iluminado pelo luar e estancaram frente ao enorme e bruto portão do casarão principal.

Luzes não se avistavam para lá das portadas fechadas nem som havia que adivinhasse vivalma.

O cavaleiro berrou:

- Ó da casa! – Exclamação que se prolongou num eco pelas ameias da fortaleza.

Respondendo, o portão começou a abrir-se num vagar rangente dos seus gonzos ferrugentos, numa desgraçada chiadeira.

Segurando uma candeia de luz tremeluzente por baixo de um narigão vermelhusco e verrugoso, um corcunda de idade muito avançada, trajado com um capote que o cobria da cabeça aos pés, assomou pela frincha do portão e continuando a abri-lo disse, reconhecendo o visitante:

- Boa-noite senhor! Esperam-vos.

Avançando, o cavaleiro desmontou passando as rédeas do equídeo ao porteiro e transpondo a entrada encaminhou-se em direcção a uma ténue luz que se coava através de uma porta entreaberta. Empurrou-a e entrou num amplo salão de granito. A um canto, uma enorme lareira queimava grossos troncos de árvores centenárias, única luz ambiente. Ao meio do salão, três homens de idade imprecisa, de longas barbas brancas, envergando longas túnicas púrpuras, sentados em fortes cadeiras de alto espaldar, circundavam uma mesa de madeira redonda, sólida e maciça.

À entrada do cavaleiro, que ostentava longas barbas brancas e envergava uma túnica idêntica aos outros três, os mesmos levantaram-se cumprimentando-o sobriamente com uma ligeira inclinação de cabeça e voltaram a sentar-se.

Uma cadeira encontrava-se vaga. Estava-lhe reservada. Sentou-se. Após um curto silêncio, o mais velho dos cavaleiros, aquele que ostentava as mais longas barbas alvas, tomou a palavra dizendo:

- Há séculos que te esperávamos. Finalmente que nos conseguimos reunir em circulo, num quadrado perfeito. A partir desta hora vamos tomar decisões para o futuro do terceiro milénio.

Pedro Pereira

 

 

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