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Não vivi o 25 Abril

24-04-2014 - Mariana Mortágua

Não vivi o 25 Abril. Não habitei esse outro país de censuras e hipócritas harmonias do medo. Escrevo da perspetiva de alguém que nunca conheceu, na prática, outro regime que não a Democracia. Devo-o, ou melhor, devemo-lo, a todas e todos os que tiverem a coragem para quebrar consensos podres e a ousadia de desejar uma revolução. E é também a memória coletiva e partilhada dessa luta que nos deve fazer ser sempre mais exigentes com a democracia e a liberdade que ousamos desejar no presente.

É difícil imaginar uma democracia sem escolhas livres. E não pode haver escolhas sem alternativas. A Revolução de Abril chegou para por um fim ao pensamento único, trouxe a pluralidade de perspetivas, o debate político e o confronto de ideias. Trouxe futuros possíveis, mas não só. Trouxe consigo a ideia, que dão tão profunda ainda deixa marcas, que uma sociedade mais desigual, mais injusta, uma sociedade mais pobre é também uma sociedade menos livre e democrática. O Estado Social, forjado a partir dos princípios da solidariedade, construído para garantir uma sociedade de todos, e não apenas dos melhores ou com mais longo apelido, é a materialização e a sustentação da Democracia de Abril.

Quatro décadas depois, a sociedade de Abril resiste, ou quer resistir, aos futuros que lhe vendem. Futuros de liberdade individual e de “livre escolha” para justificar o desmantelamento do Estado Social que, durante 40 anos, garantiu isso mesmo, liberdade. Futuros de consenso em torno de uma ideia de país que vive obcecado pela finança, pelos juros, pelos mercados, como se obsessão pela finança, pelos juros, pelos mercados não fosse, em si mesma, uma escolha política. Como se o consenso em torno de uma única ideia politica não fosse, em si mesmo, pouco democrático.

Escrevo da perspetiva de alguém que nunca conheceu, na prática, outro regime que não a Democracia. Não é por saudosismo que falo de Abril, mas por vontade de futuro. Um futuro em que a liberdade dos mercados e dos interesses económicos não se sobreponha à liberdade dos povos de decidir o seu futuro. Um futuro em que a liberdade venha da igualdade e não da possibilidade de explorar os outros. Afinal, não é isso a Democracia?

Mariana Mortágua, economista, deputada do Bloco de Esquerda

 

 

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