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O NATAL

22-12-2017 - Henrique Pratas

Confesso-vos que não é um assunto sobre o qual queira escrever porque nos dias de hoje esta época tornou-se mais uma época comercial do que uma altura de afetos e sã convivência.

Nos dias de hoje assistimos às pessoas a correrem para hipermercados, centros comerciais ou seja lá o que for para comprar qualquer coisa para oferecer, não têm em conta o gosto ou o que a pessoa a quem vão oferecer gosta, compram por comprar, é isso que é determinante, por isso para mim o Natal não é mais do que uma época onde a hipocrisia e o cinismo se demonstra de uma forma mais acentuada. Todos têm que oferecer alguma coisa a alguém, porque faz parte da época que estamos a passar, as empresas fazem almoços ou jantares de natal, que supostamente deveriam ser de convivência sem preconceitos e plena de participação sem restrições de qualquer espécie, mas o que na realidade acontece é que estes mesmos jantares são de carácter obrigatório, se os trabalhadores que se encontram contratados a termo não foram, são logo “apontados” e em sede própria se fará o ajuste de contas, os trabalhadores não-alinhados, ou críticos se não foram são mais pontos a descontar e o que deveria ser um almoço de natal torna-se numa feira de vaidades para alguns e para outros um horror, com medos e receios à mistura uma coisa perfeitamente angustiante.

Para os que têm memória devem-se recordar dos tempos em que a abundância não era muita em termos financeiros, mas era rica em termos de afetos, as coisas agora inverteram-se, o que é importante é demonstrar o poder económico que se tem, mesmo que falacioso, e os afetos, salvo honrosas exceções que as há. Mas não me desviando desta minha linha de pensamento, vou voltar ao tempo dos afetos, em que o dinheiro não abundava, em que a época natalícia era passada em família, normalmente à lareira, porque acontecia no inicio do Inverno e com os parcos haveres a família se juntava com um outro espirito que era mais salutar a meu ver, provavelmente por ser miúdo, mas sentia que as pessoas estavam mais próximas e a correria as centros comerciais, aos hipermercados ou outro tipo de comércio não se fazia na altura. As crianças tinham que se deitar cedo e colocar o sapatinho na chaminé, isto para aqueles que tinham sapatos, os que não tinham nem isso faziam. Os primeiros muitas das vezes eram bafejados com um par de meias e ficavam todos contentes, porque não existia o que há hoje, os segundos muitas vezes nada recebiam ou recebiam algo de simbólico mas que para eles representava muito e faziam deles umas crianças felizes, ao menos nesse dia. Mas uma coisa se notava é que quem recebia alguma coisa ficava mesmo feliz e contente, nos nossos dias alguns ainda reclamam porque não era exatamente aquilo que queriam e se lhes oferecermos roupa, não ligam nenhuma.

Hoje temos acesso a tudo e as nossas crianças também recebem as prendas mais sofisticadas e não ficam contentes com nada, porque o espirito consumista empurrou-os para isso, a insatisfação e os pais e os avós caíram na asneira de fazer a vontade aos meninos, coitadinha da criança é uma expressão que devem ouvir com frequência, esta atitude é muitas das vezes decorrente do facto de estes não terem na altura certa as coisas que queriam ter e não tiveram e meus amigos onde é que ficam os afetos. É certo que não devemos dar nada esperando que nos agradeçam ou que tomem em consideração o ato praticado, mas é necessário ter a consciência que a vida não é comercial, as pessoas acima de tudo são pessoas e valem por isso e não por aquilo que têm oportunidade de oferecer.

Eu nunca dei importância às coisas, objetos que me davam, dei sempre mais valor a quem me dava as coisas, recordo-me que os meus avós que viviam num meio rural onde a abastança não era muita, ter recebido muitas vezes um par de meias e de ter ficado extremamente contente pelo facto de as ter recebido, chegado aos dias de hoje e após ter refletido sobre esta “evolução” e decidi voltar ao inicio, recuso-me a fazer parte deste consumismo e a andar em centros comerciais, que me recuso a frequentar, ou hipermercados e fico-me pelos afetos que é a única coisa que tenho para dar e acho que vale a pena, o resto é puro consumismo, muitas das crianças recebem prendas que apenas duram um dia, é muito mais rico e valioso dar afetos a uma criança do que um objeto, aqueles vão perdurar para a vida inteira o objeto tem uma vida curta, Concretizando se pegarem nos vossos filhos ou netos e os levarem a um local onde nunca foram provavelmente eles vão-se lembrar disso para o resto da vida, nos dias de hoje os objetos são de curta duração, o que é oferecido hoje amanhã é obsoleto, a sociedade de consumo e desenvolvimento tecnológico empurra-nos para isso, compramos para oferecer o último modelo do que quer que seja e amanhã já aparece um outro mais sofisticado e o detentor do primeiro vai querer ter o mais atualizado e isto não para, é o que designamos por “pescadinha de rabo na boca”.

Com a aproximação da época natalícia e sem querer obrigar ninguém a nada gostava que pensassem nisto e já agora em termos solidários que pensassem um segundo que seja naqueles que foram fustigados pelo fogo no nosso País e que passados seis meses, nada têm resolvido, nem casa, nem indemnização, nem apoio rigorosamente nenhum e vocês sabem bem o que custa levar uma vida inteira para poder alguma coisa de seu, para de um momento para o outro ficarem sem nada, deve ser muito triste. Hoje não entrarei em mais pormenores sobre esta matéria, em apurar culpados, em julgar comportamentos do Governo ou Presidenciais, apenas estou a pensar nas pessoas que não veem com a celeridade desejada os seus problemas resolvidos e em que alguns vão passar o Natal sozinhos, com a imagem na sua mente do que foi aquilo por que passaram, esta vai ser a situação mais difícil de resolver, porque os bens materiais esses ou mal ou bem ou repõem-se, os horrores pelos quais as pessoas passaram serão muito difíceis de apagar das suas memórias, vai levar anos para alguns e para outros nunca se conseguirão apagar.

Termino desejando-vos um excelente Natal repleto de afetos e de coisas que lhes façam bem há alma.

Henrique Pratas

 

 

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