Santa Paciência
18-04-2014 - Francisco Pereira
Aproveitando o facto de estarmos a comemorar a Páscoa, que a hábil religião cristã, transformou, pegando nas antiquíssimas comemorações celtas do fim do equinócio de Inverno e do início do equinócio da primavera e a vinda do bom tempo e do período da grande fertilidade, daí os ovos, em algo verdadeiramente lúgubre e patético, com procissões, flagelados, sacrifícios e outras idiotices, esta semana que passou, necessitamos de toda a santa paciência que conseguimos arregimentar, para aguentar.
A televisão serviu-nos dois petiscos intragáveis, com apenas uns dias de intervalo, primeiro uma conferência promovida pelo quase ex empregado de balcão da comissão europeia, que já detinha uma larga experiência de servir cafés e de subserviência depois de hospedar a famosa conferência dos Açores onde um bêbado mentecapto americano, um alucinado inglês e um aldrabão espanhol decidiram começar a procurar armas de destruição massiva no Iraque, evento que veio a redundar naquilo que todos sabemos.
A tal conferência recebeu o pomposo nome, ‘Portugal: Rumo ao crescimento e emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade ao serviço da economia portuguesa’. Pompa e estadão são o que se quer. Supostamente organizada pela Comissão Europeia conta com as presenças de Durão Barroso e do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na sessão de abertura, facto que por si só, nos levou ao vómito, a conferência deveria ter recebido outro epíteto mais adequado, tal com “Conferência Durão Barroso sobre Durão Barroso, a falar sobre ele próprio”, com a lambidela de traseiro untuosa de um tal gasolineiro algarvio.
Este país é mau demais para ser verdade, este país, que tanta gente boa produz, infelizmente também é o seio para a mais abjecta e asquerosa da maralha politiqueira.
Ainda não refeitos do nefasto efeito da conferência do fugitivo maoísta arrependido, travestido em neo-liberal de quinta categoria com aspirações a líder partidário, aliás a conferência foi apenas mais uma das suas manobras de promoção e campanha, dizíamos nós, que ainda não estávamos refeitos desse vómito e eis que o senhor Primeiro-ministro, vem à televisão fazer campanha para as europeias, encapotada por uma pretensa entrevista esclarecedora.
Confesso que não aguentamos a entrevista até ao fim, confessamos aliás que raramente, a menos que não o possamos evitar conseguimos tragar mais de um minuto de arenga politiqueira medíocre, oca e mentecapta, feita por criaturas sem cultura, sem moral e sem qualquer qualidade cívica e intelectual que faça com que valha pena perder tempo a ouvir as suas estuporices dúbias. Esta pseudo entrevista de Passos Coelho deu nisso, chegou a uma altura, que não aguentando mais a diarreia verbal que escorria da boca do homem, nos socorremos do prestimoso aparelho de comando à distância e pumba, Canal Panda, que aí ao menos os palhaços são verdadeiros e têm graça.
Do que entretanto vi, Gomes Ferreira, curiosamente muito calmo e pouco acutilante, Coelho, inseguro, trapalhão, limitou-se a repetir as enormes e fantásticas patranhas que há dois anos diz e pronto, foi mais do mesmo, ideias nada, projectos nada, nada de nada, um pavoroso, confrangedor e patético deserto, intelectualmente o pobre homem deve estar morto.
Gostei particularmente de ouvir o senhor Coelho dizer que não foi ele que empobreceu as pessoas e que a culpa não foi dele, mas sim do governo anterior, a falácia mais comum que a ralé laranja costa de atirar contra a ralé rosa, não é de todo mentira, mas convém, a bem da honestidade intelectual dizer, que também não é de todo verdade.
Ora vamos lá recordar o senhor Coelho, o pequeno coelhinho, ainda um jovem láparo entrou para a JSD em 1978, chegou ao poleiro da tal “J” em 1990, cargo que ocupou até 1995. Foi deputado à Assembleia da República, pelo círculo eleitoral de Lisboa, entre 1991 e 1999. Integrou a Assembleia Parlamentar da OTAN, até 1995, e foi vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, de 1996 a 1999. Foi candidato a presidente da Câmara Municipal da Amadora, em 1997, exercendo o cargo de vereador até 2001, ou seja o senhor Coelho anda há uns meros 24 anos a comer do tacho, mas claro que não tem culpa nenhuma, não foi ele que tomou as decisões, mas também nunca se insurgiu contra elas, sendo que até foi conivente com muitas delas. Não tendo tomado as decisões, diz ele, sabemos que também ajudou a cavar o buraco, a Tecnoforma, local onde se enchiam com fundos comunitários e se mandava à fava a formação é disso exemplo. O senhor Coelho devia era estar calado.
Com gentalha desta, o único conselho que poderemos dar é, tende paciência, tende uma santa paciência para aturar tanta, mas tanta burrice, tanta aldrabice e tanta sem vergonhice. Feliz e paciente Páscoa!
Francisco Pereira
Voltar |