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Dos Restauradores ao Terreiro do Paço

15-12-2017 - Francisco Pereira

Alguém sugeriu uma ida à Baixa para ver as decorações de Natal. Noutros tempos eram famosas as decorações da Baixa lisboeta, assim para recordar outros tempos lá fomos todos em procissão, desembarcamos do Metro na estação dos Restauradores, nesse dia, feriado, comemorava-se a Restauração da Independência de Portugal, data fulcral da nossa identidade colectiva, o que quer que isso signifique para os actuais indígenas que por cá habitam.

Era o começo da tarde, apesar disso estava já muito escuro, fazia muito frio, junto aos pés do obelisco que comemora os Restauradores, coroas de flores, mais ao lado um palanque coberto que albergou as elites politiqueiras, houve cerimónia e desfile de bandas, assegurada a memória, seguimos até ao Terreiro do Paço, a ver do futuro.

Magotes de gente. Gente de todas as cores e feitios, uma Babel linguística, de holandeses, britânicos, alemães, espanhóis, resmas de italianos, alguns americanos, gente, gente por todo o lado, vinda de todas as direcções, mais que as luzes, mais que as decorações, o que me espantou foram aqueles milhares de pessoas. Ali à Estação do Rossio enfiámos para o Chiado, mal se podia andar com tanta gente, voltámos à Praça do Rossio, rumando à Rua Augusta.

Nota curiosa, nas lojas, nos cafés, nas pastelarias, os trabalhadores que por lá vi, eram na sua maioria estrangeiros, africanos, brasileiros, paquistaneses ou do Bangladesh, foi num desses “tascos” que falei com o Jean Baptiste, oriundo do Senegal, um excelente rapaz, estudante universitário que trabalha em part-time para equilibrar as finanças, um tipo porreiro, que vai ser engenheiro, um bom exemplo para os nossos meninos e meninas universitários que ao invés de trabalharem, perdem o tempo vestidos de morcego em festarolas de bebedeira colectiva, prioridades.

Entre outras curiosidades observáveis, anoto outras duas, a primeira foi a falta de polícia nas ruas, talvez andassem à paisana, fardados, só vi um pobre diabo da Municipal, a tiritar de frio encostado a um carro na Praça do Rossio, uma outra curiosidade, talvez decorrente da primeira, foi a de que em cada cruzamento desde os restauradores até ao Terreiro do Paço, está um grupo de dois, três ou quatro cavalheiros de uma conhecida etnia, a venderem droga, fui contando e contei uns trinta.

Trinta cavalheiros, com bom corpinho para trabalhar de forma honesta, mas que preferem andar por ali a vegetar, vendendo droga, fui inclusivamente abordado por um desses sevandijas, – …haxixe, queres haxixe, heroína… – foi assim que o tabardilha asqueroso me abordou, respondi-lhe que não, foi esse facto que despertou a minha curiosidade sobre a presença, de grupos dessa ralé em cada esquina, estava explicado, são jovens empresários do medicamento alternativo, o RSI, o gamanço, a pedinchice não chegam, então fazem umas horitas aqui na Baixa para complementar o orçamento familiar, trabalhar honestamente que é bom, esqueçam isso é contra os princípios da sua cultura, falar falam muito, mas depois os comportamentos que demonstram desmentem todos os discursos, enfim seria estranho não estivéssemos nós neste paraíso da impunidade e da estupidez chamado Portugal.

Seguimos Rua Augusta abaixo, turbas imensas vogam por ali, basbaques parados a ver os artistas de rua, curiosamente apenas vi dois mendigos, o que é de espantar, tendo em conta a quantidade de gente que ali andava, chegados ao Terreiro do Paço a coisa estava mais desanuviada, podíamos estar à vontade sem sofrer nenhuma colisão.

“Lisboa já não é nossa” disse alguém do grupo em que eu estava. Realmente, aquele pequeno percurso é uma bela imagem do país, vendido aos retalhos, enfeitado de lantejoulas para turista ver, assim vai a capital do Reino, que parece que é uma República.

Francisco Pereira

 

 

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