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RECORDANDO…
I - PORTUGAL - DESDE O 25 DE ABRIL DE 1974 AOS GOVERNOS DE CAVACO SILVA

15-12-2017 - Pedro Pereira

Do 25 de Abril de 1974 ao 11 de Março de 1975

Este foi um período de profundas transformações estruturais no país, cuja etapa teve o seu término no denominado «verão quente» de 1975, popularmente conhecido por PREC - (processo revolucionário em curso).

Foi cerca de um ano marcado por prisões cujas motivações iam desde questões de ordem política, a revanchismos pessoais, muitas delas encomendadas, como muitos dos saneamentos; greves nas mais diversas áreas de actividade económica, ocupações de fábricas, nacionalização da banca, das seguradoras, das empresas e fábricas do império da CUF-Companhia União Fabril, estaleiros navais (Lisnave, Setenave…), Siderurgia Nacional, da CCN-Companhia Colonial de Navegação, CNN-Companhia Nacional de Navegação, SG-Sociedade Geral de Transportes e outras. Reforma agrária, em muitos com trabalhadores e aventureiros misturados expulsando os proprietários que nas herdades viviam, saqueando os seus bens, em alguns casos constituindo-se cooperativas agrícolas, e por aí fora.

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Passados que foram poucos meses após o 25 de Abril foi iniciada a descolonização dos territórios africanos, que resultaram na fuga precipitada e desorganizada dos território de Moçambique e Angola, onde se encontravam fixados centenas de milhar de portugueses, que se estimam em mais de 800 000, sendo que boa parte deles haviam lá nascido, tal como os seus pais e os seus avós, portanto, perfeitamente desfasados de Portugal.

Na fuga desordenada para salvar as suas vidas deixaram para trás os teres e haveres de uma vida e até de gerações das suas famílias. Muitos fugiram para a África do Sul, Rodésia, Brasil, mas também para Andorra, França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça e sobretudo para Portugal, em barcos, navios, mas também através da maior ponte aérea da História.

Ao chegarem a Portugal o governo criou as medidas possíveis de acolhimento com os meios de que dispunha, ajudado por países amigos como a Alemanha, a Suécia… alojando as pessoas em hotéis, pensões, quartéis, prisões desactivadas, etc…

Estes refugiados, cujo termo mais correcto, será foragidos, foram indevidamente apodados pela população como «retornados», sabido que a maior parte destas pessoas não retornavam, uma vez que não conheciam Portugal por não terem cá nascido nem visitado o país em tempo algum, antes sendo naturais dos territórios ultramarinos onde tinham vivido desde sempre.

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Panorama nos anos 80

Ao longo da década seguinte, ou seja, nos anos oitenta, uma dramática crise económica assolou o país, tendo os juros da banca chegado aos 30%, no decorrer do VIII governo constitucional, da AD-Aliança Democrática, formada pelo PSD, CDS e PPM.

Fruto desta conjuntura, centenas de milhar de pessoas passavam fome, em particular na região metropolitana de Lisboa e na região de Setúbal (altamente industrializada). Como arauto da defesa desta gente, o recém-falecido bispo de Setúbal D. Manuel Martins foi apodado pela direita caceteira, de «bispo vermelho». Faleceu em 23 de Setembro passado, aos 90 anos.

Durante 23 anos denunciou o desemprego, o trabalho infantil, a vida em bairros de lata, a fome…

O crescente deficit das transacções correntes nos anos de 1981/1983 constituiu um factor decisivo para a queda deste governo e consequentes eleições antecipadas em Abril desse ano.

Os nefastos resultados do desregulamente e em muitos casos desmantelamento das estruturas económicas após 1974, reflectiam-se por fim nestas datas.

A dívida externa continuou a crescer exponencialmente até 1983 resultando na dificuldade do país se financiar nos mercados internacionais.

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Em 9 de Junho de 1983 tomava posse o IX governo constitucional. Governo do PS/PSD denominado de Bloco Central. Exerceu o seu mandato até 6 de Novembro de 1985. No início da sua governação teve de negociar um empréstimo ao FMI e vender 111 toneladas de ouro, de entre aquele que os governos de Salazar haviam amealhado, incluindo ouro nazi, para evitar a bancarrota do país.

A par destes meios de financiamento, o governo teve de adoptar medidas internas que conduziram à queda acelerada da actividade económica, brutal diminuição do rendimento da maior parte dos portugueses, salários em atraso como se fora uma autêntica praga, manifestações quotidianas por quase todo o país, desastroso aumento do desemprego para centenas de milhar de homens e mulheres, multiplicação de falências, encerramento de milhares de fábricas e pequenas unidades laborais e outras calamidades económicas e sociais associadas como o brutal aumento dos preços dos bens essenciais, casos do pão, leite, açúcar, azeite, margarina óleos, rações para animais, adubos e combustíveis.

Navegando neste cenário dantesco o governo procedeu ao congelamento dos investimentos públicos, descida dos salários na função pública, congelamento de admissões de trabalhadores, geral subida de impostos, aplicação de um imposto especial sobre os rendimentos do trabalho efectivado num corte de 28% no subsídio de Natal de 1983.

No ano seguinte, em 1984 as condições gerais deste panorama foram agravadas, fruto do acordo feito com o FMI.

Em 17 de Maio de 1985, Cavaco Silva acompanhado pela sua mulher, a Dª Maria Cavaco, foi até à Figueira da Foz (onde tinha início o XII Congresso do PPD) para fazer a rodagem do novo carro que havia comprado uns dias antes. Aproveitou para visitar os seus amigos que estavam nesse encontro partidário e «inopinadamente» acabou nele eleito presidente do PSD, cargo que ocupou até 17 de Fevereiro de 1995.

Aproveitou o balanço da sua eleição e rompeu o acordo de Governo do Bloco Central com o PS.

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Nas eleições de Outubro de 1985 o PSD foi o partido mais votado, enquanto o PS caía para o mais baixo resultado da sua história, descendo de 36,1% para 20,8%, ao mesmo tempo que nasceu e se apresentou a eleições um novo partido, o PRD - Partido Renovador Democrático, surgido por iniciativa do então presidente da República, General Ramalho Eanes, que obteve 17,9%.

A 6 de Novembro seguinte Cavaco Silva tomava posse como 1º ministro, cargo que ocupou consecutivamente até 28 de Outubro de 1995.

Nos anos de governo de Cavaco Silva, os financiamentos provindos da CEE-Comunidade Económica Europeia destinados à reestruturação do aparelho produtivo e criação de infra-estruturas do país, mais os financiamentos do Fundo Social Europeu para a formação profissional e outras, tiveram como efeito evidente a destruição da Siderurgia Nacional e outras unidades fabris de indústria pesada onde se incluiu o complexo fabril da CUF–Companhia União Fabril, Estaleiros navais da Setenave, Lisnave e outros; indústria conserveira, frota pesqueira, frota naval de transporte de passageiros e de mercadorias; redes de frio de âmbito nacional; fábricas de lanifícios e de confecções; unidades da indústria vidreira e por aí fora.

(continua no próximo número)

Pedro Pereira

 

 

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