As cabeças democráticas
11-04-2014 - Francisco Pereira
Portugal é desde 1974 uma pretensa Democracia. Temos tribunais, Juízes, eleições e toda a parafernal panóplia de instituições que alegadamente nos fazem concorrentes a preencher o necessário para nos atribuírem o tal estatuto de Estado de Direito democrático.
Pura mistificação. Portugal não tem sido uma Democracia, actualmente com o governo mais anti democrático dos últimos 40 anos. Não somos uma Democracia, e fazendo alguma futurologia, exercício sempre arriscado, antevemos que no futuro continuaremos a não ser uma Democracia.
Afinal isto é o quê? Perguntar-se-ão os leitores. Acreditamos que ao fim desde percurso de 40 anos, estamos no caminho de sermos uma Democracia, mas este é um caminho ainda muito longo, ainda muito cheio de escolhos e armadilhas e que dificilmente trilharemos sem dissabores.
Esta pequena crónica vem a propósito de o movimento dos Capitães de Abril, afirmar que estará no parlamento se deixarem os seus elementos utilizar a pretensa casa que representa a pretensa Democracia, para discursarem durante as cerimónias de comemoração dos 40 anos da revolução de Abril, e dizerem de sua justiça, palavras que mal ou bem, que certas ou erradas, são a percepção que tem os homens que ajudaram a cimentar aquilo que agora tão pomposamente se comemora e pouco se exerce.
Contra tal intervenção, estão claro está os “democratezecos” dos partidos do Governo, que têm como quase todos os políticos nacionais, uma péssima relação com a Democracia, que apenas serve para obterem, estatuto, participarem em negociatas e encherem os bolsos, tudo o resto que implica a Democracia é uma chatice. À esquerda, os partidos, igualmente com uma muito má relação com a Democracia, optaram por não se comprometerem com declarações acerca da ida dos capitães.
Ora não deixar falar as cabeças da Democracia, fazemos aqui um trocadilho entre a palavra capitão e o seu étimo do latim “caput”, que significa precisamente cabeça, dizíamos pois que ao não deixar orar as cabeças da Democracia, os partidos claramente anti democráticos que sustentam esta espécie de Governo, mostram a relação que possuem com a Democracia, e cortam cerce todas e quaisquer possíveis opiniões funestas para o idílico momento que teimam em celebrar.
Os políticos portugueses, sejam de esquerda ou de direita, encabeçam a lista daqueles que tem com a Democracia uma muito má relação, as chefias de topo e intermédias da função pública e um certo tipo de elemento do tecido empresarial, são outros bons exemplos de quão mal anda este país em termos democráticos e que toda esta gentalha deveria ser mandada para a Coreia do Norte para perceber o bem que têm e que malbarata para uso próprio.
Regra geral as nossas elites, não sabem o que é Democracia, não estão treinados moral e intelectualmente para serem democratas, isso é visível por todo o lado, no governo, no parlamento, nos municípios, nas escolas, nas instituições públicas, existe uma vergonhosa e quase obscena falta de cultura democrática, pura e simplesmente não sabem viver em Democracia e dela não possuem a mais ténue das ideias, para esta grande corja de ineptos a Democracia só existe se os outros concordarem com as suas politiquices e ideias estapafúrdias, se os não questionarem, se não se opuserem às suas diatribes em suma se todos os outros prestarem vassalagem e disserem «Ámen» a tudo o que suas senhorias ditarem como certo, ora meus caros isto não é Democracia, é Autocracia, é Feudalismo e representa muito daquilo que os capitães tentaram, e não conseguiram, derrubar em 1974.
Tudo isto é ainda facilitado por uma populaça, que confunde Democracia com Anarquia e com bandalheira generalizada, conceitos que curiosamente se arreigaram aos cérebros pouco utilizados dos meus caros concidadãos em meros 40 anos libertários. Somos um povo que ainda não intuiu a Democracia enquanto dever, não enquanto direito, e esse facto por si só, apesar de pouco relevante faz toda a diferença e redunda nisto, em que actualmente vivemos.
Era de esperar que nestas comemorações, os politiqueiros que temos o azar de nos terem calhado na rifa, tivessem alguma vergonha na cara, e ao invés dos discursos ocos e falaciosos que se ouvem por esta altura, dessem mostras de que são verdadeiros democratas, mas ao que parece, como em muita outra coisa, a Democracia também não é um conceito consensual em Portugal, existe a Democracia de uns e a democracia dos outros, que não são nunca a mesma e uma única coisa.
Francisco Pereira
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