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Reflexão absolutamente casual, sem sentido, frívola e totalmente inútil

03-11-2017 - Pedro Barroso

Tenho muitas saudades delas. Eram obrigatórias.

De vez em quando, tenho tido razão antes do tempo. E do modo.

E desta vez, ao que parece, vivi de modo diverso no tempo antecipado.

Nunca usei gravata.

Minto. No Liceu Camões era obrigatório. Mas era puto. Não conta. E depois, muito contrariado, quando fui oficial de Marinha...

No resto, nunca por nunca.

Atenção:- é um dado histórico, não uma recente co-opção.

Mas agora, até já lhes nutro uma discreta nostalgia.

Ficavam bonitos, os senhores. Doutores e derivados. Pessoas como deve ser. Ficavam importantes; todos engravatados e compenetrados da responsabilidade; todos tão comportados garrotados e felizes.

E eu desalinhado e extravagante, aparecia em todo o lado de gargalo aberto. Enfim...Não se podia dar grande importância. Gente descuidada; talvez anarquista; músico; enfim, ...povo.

A gravata era, - foi, e é, ainda em certos espaços e momentos, embora moribunda...- o símbolo de ser sério e eventualmente digno e competente. Um senhor. Pessoa de bem.

Pois. Um chavão, eu sei. Quantas vezes seria por obrigação. Não se condene por isso. Nem por nada, aliás. Mas a idiossincrasia da autoridade, desculpem - essa estava presente. Uma espécie de farda de funções e de respeito.

E agora, afinal, quase tenho pena das pobres gravatas - algumas lindíssimas, em seda, chiques e elegantes, caríssimas peças de toilette...- hoje abandonadas no mais fundo das gavetas; rejeitadas em nome de uma modernidade emprestada e urgente adesão a uma suposta moda descontraída e casual.

Acho que já nem bancário. Nem sequer para apresentador de telejornal já será obrigatória. Vejo coisas. Deputados. 1º Ministros. Da esquerda à direita. Não acredito. Deliro. Pescoço ao léu na televisão?! Admite-se?

Já não há decência, vejamos...

A pobre vai resistindo em algumas coutadas corporativas de gosto retro, ou em jantares supostamente oficiais, sempre super aborrecidos e tediosos. Só bicho careta ou piloto de avião ainda põe o adereço. Obrigado ou ...obrigado.

Ora bem - creio que aceito donativos de gravatas para passar até a usá-las piedosamente. Mas das caras sff; das boas, que eu não aceito pechisbeque. Aquelas tipo Espirito Santo, estais a ver? Isso.

Não por vontade de embirrar, mas por este espirito libertário eterno de desobediência dos dogmas e normas impositivas de costumes que sempre tanto combati. 

E talvez também por uma questão absoluta de merecida piedade pelas malogradas peças de adorno que já ninguém respeita como devia.

Ou até, creio eu, por ser um eterno cultivador de causas perdidas e um preservador de memórias e objectos em via de extinção. 

Gravatas de todos os quadrantes: - requesciat in pacem.

Jovem, velho ou assim assim. Sr. professor ou saltimbanco. Maestro ou tocador de bombo; Jantar de cerimónia ou tasca aberta; palácio de Belém ou "Xico da vaca". Nunca.

Heterodoxo e iconoclasta. Estava cheio de razão. Antes do tempo.

Sina minha, já sei. Se calhar, em tantas outras coisas.

Pedro Barroso

 

 

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