"O novo Priorado da calamidade"
14-07-2017 - Pedro Barroso
Por falta de dogma, ética, deontologia, critério, urbanidade, e por um profundo desejo de chafurdismo na maior lama da notícia pantanosa e suja, há um novo jornalismo post moderno que criou o culto e pratica recorrente da chamada noticia da desgraça.
É uma espécie refinada de nova indústria do pânico.
Hoje tropecei numa.
"Toda a Ibéria vai ser engolida por um tsunami; toda. Só não se sabe quando!" Todos lemos aquilo e pensamos.
" -Fantástico. Pessoal! Fazer malas e fugir amanhã!"
E obviamente, queremos detalhes; todos precisamos urgentemente de saber. Será mesmo atingido todo o território? Ou ainda conseguiremos trepar e salvar-nos nalguns picos providenciais?
Estou especialmente interessado em saber se o pessoal se safa em Alturas do Barroso, por ex. Ou no Monte da Graça, por causa da Volta.
Cá para mim, isto significa que o pessoal que esta a vender presuntos e queijos na Torre da Serra da Estrela vai ter um período de muito aumento de população e de prosperidade comercial.
E que vou investir a fundo num porto atlântico a construir nas Penhas Douradas. Peço uns milhões e pronto. Até porque tencionar pagar tornou-se há muito num preconceito pequeno burguês sem sentido algum. A coisa dilui-se num futuro resgate qualquer, e eu fico accionista num porto de mar lucrativo, para petroleiros, em plena serra da Estrela.
Visão de futuro. Bom investimento. Ora bem.
Tenho de falar nisso talvez ao "Monte" Pio. Assim como assim, com esse nome, pode ser a única instituição bancária a salvar-se de tal épica inundação. Quem diria?
...
A falta de notícia interior - de verdadeiro culto pelo conhecimento e a elevação - leva a que falemos demais da desgraça alheia; das 30 facadas do padrinho, do temor dos deuses, da catástrofe iminente, das coisas da destruição e do pavor.
Olhar a vida com a dignidade positiva e o gozo do usufruto pleno, eis o que nos esquecemos, por vezes, de celebrar.
A cada dia.
Marés vivas de des-noticia. Demora muito tempo, de facto, a aprender-se a ser adulto.
Bem... à cautela, ok. Vou comprar ali ao chinês comprar umas boias.
Pedro Barroso
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