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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

II - CORRENTES ARTÍSTICAS NA 1ª METADE DO SÉCULO XX
O Seu Impacto em Portugal

02-06-2017 - Pedro Pereira

O Modernismo em Portugal ganha, decisivamente, expressão em 1915, através da revista Orpheu, mas também, no Salão Humorista Modernista, que procurava estimular o conhecimento da Arte Moderna em Portugal.

Por essa altura verifica-se a adesão ao termo Futurista , proposto em 1909, por Marinetti. Desta forma, podemos considerar ter havido três gerações no Movimento Modernista Português.

A primeira geração foi formada por artistas nascidos entre 1880 e 1890, que se mostraram ao público entre 1910 e 1920. Marcaram-na, artistas como Almada Negreiros, Amadeo Souza-Cardoso, Santa-Rita e Eduardo Viana.

De uma forma geral, podemos caracterizar esta geração, como a de artistas que se irão afirmar na rejeição ao academicismo e ao idealismo romântico.

Trata-se de uma geração que vai autoeleger-se como defensora de um movimento de renovação que não se enquadra a nível político no regime republicano saído da revolução de 5 de Outubro de 1910, que pôs término à monarquia de séculos, nem encontra receptividade por parte do grande público.

Uma segunda geração surgida de forma algo incipiente em finais do século XIX, apresenta-se diante do público nos anos 20 do século XX, e vai-se consolidar nos anos 30.

Desta geração, fazem parte como os mais representativos, os artistas, Mário Eloy, (principal referência da pintura portuguesa deste período) Alvarez, Carlos Botelho e Júlio Bernardo.

A terceira geração consolida-se entre 1945 e 1948, dividida entre a opcção neorealista e a surrealista, ambas, marcadas por oposição ideológica ao regime salazarista. Desta geração destacam-se os nomes de Júlio Resende e João Navarro Hogan.

Ao longo do ano de 1918, assiste-se ao minguar da primeira geração modernista, prostração que se irá prolongar até 1935. Em parte, devido ao falecimento de duas das suas principais referências, mortas pela pneumónica no final da guerra: Amadeo de Souza Cardoso e Eduardo Viana.

Este espaço de tempo marcará o resurgimento do Naturalismo (um revivalismo), período em que as exposições colectivas se irão resumir, como local de mostra, à Sociedade Nacional de Belas Artes.

Este retrocesso encontra-se associado à insatisfação política ante o regime republicano, insatisfação essa, que se irá prolongar até 1926, ano do golpe de Estado Militar, que instaurou a ditadura, colocando um ponto final na 1ª República.

Foram muitos os artistas que por esse tempo emigraram.

O chamado «resurgimento modernista» será feito por António Ferro e José Pacheco, frente a um Movimento Modernista «divorciado» do público e das exposições, concentrado no Bristol Clube e na Brasileira do Chiado, (café de tradições novecentistas). Foram destes locais de reunião que partiram as primeiras encomendas aos Modernistas.

O segundo passo será dado pela segunda geração Modernista com o Salão de Independentes, em Maio de 1930. Exposição onde os seus promotores, em contra-maré ao academicismo dominante, afirmaram a sua independência: «Nós olhamos para as coisas com os olhos que Deus nos deu. Somos por isso independentes».

A par da manifestação de independência, O Salão convidava o público à sua adesão. Segundo António Pedro no Manifesto do certame: «Aí tens, pois, português indiferente e atrasado na marcha célere da Europa, um motivo de regozijo. Aquele filho brincalhão a atrevido que era o mais inteligente da tua familia e a quem expulsaste porque te incomodava, é um homem que te abre, sereno, as portas da sua casa, descobre-te e entra».

Se este manifesto nos revela um desejo de independência por parte dos seus promotores, revela-nos também, uma afirmação de carácter europeizante, de liberdade e de originalidade, ressaltando sem dúvida, que nesta exposição se encontravam representantes da primeira geração Modernista.

Ao nível da pintura, este certame foi assinalado, sobretudo, pela presença de artistas como Sarah Afonso (mulher de Almada Negreiros), Dórdio Gomes, Mário Eloy, e Maria Helena Vieira da Silva.

Este Salão de Independentes, se por um lado representou uma luz no panorama das artes plásticas em Portugal, por outro lado asumiu um «carácter de enfrentamento, efémero e moderado», tal como afirmou o poeta José Régio na revista Presença.

Durante os anos de 1930 e 1931, como consequência da crise económica internacional, iniciada em 1929 com a bancarrota da Bolsa de Nova Yorque, os artistas portugueses, afectados na sua atividade, insatisfeitos, irão manifestar-se, quer através da imprensa, quer da Sociedade Nacional de Belas Artes.

O seu porta-voz, foi um jornalista com audiência política que realizava entrevistas famosas a Salazar, de seu nome: António Ferro, admirador confesso de Mussolini, que havia sido companheiro de alguns dos colaboradores da revista Orpheu.

Em contrapartida, o governo, por vontade de Salazar, cria o SPN, (Secretariado de Propaganda Nacional), posteriormente rebaptizado com o nome de SNI, (Secretariado Nacional de Informação), à frente do qual o ditador colocou António Ferro. A acção deste organismo encontrava-se directamente ligada ao domínio artístico, onde Ferro irá aplicar e desenvolver o seu grande sonho: A Política de Espírito. Ao fim e ao cabo, avaliação de espírito suficientemente comum, expresso nos movimentos simbolistas e nostalgistas.

Segundo António Ferro, a avaliação de espirito passa pela plenitude de uma relação íntima com a arte entendida como Deus, a vida e a morte: «é vivendo com a arte que a bem morrer se aprende».

Desta forma, o seu pensamento modernista, influenciado pela corrente simbolista, apresenta um elo entre a vida e a morte, ao ponto do contacto se estabilizar através da arte. Assim, se exige armar um vasto programa de acção ao nível da realidade, que tenha como objectivo fundamental a protecção do espírito.

Admirador da Arte Nova, Ferro, conseguiu impor graças à confiança interseira de Salazar, uma corrente de certo gosto, que nos meios governamentais, pouco conhecedores de arte, se opunham à forte corrente Naturalista tradicional, corrente esta que preferia antes, a «saudável» arte do nazismo Alemão. Para Salazar, a arte era a grande fachada de uma nacionalidade.

O conceito de Arte Moderna para António Ferro é baseado na afirmação do espírito individualista, sedento de renovação, de uma «grande guerra na arte».

A partir de então, Ferro inicia uma verdadeira «cruzada nacional» ao serviço do Estado e da sua modernização através da arte, perfeitamente alinhada com a ideologia do regime (Estado Novo).

Porque havia necessidade de criar uma arte de acordo com o presente político, daí as suas referências a Mussolini: «Mussolini tem razão. A uma nova época, se essa nova época tem grandeza e perspectiva, deve corresponder uma nova arte».

Foram criados os prémios Columbano para as obras de maior maturação e Amadeo Sousa Cardoso, dirigido ao artista inovador ou mais jovem, além de outros doze, concebidos antes de 1940.

Considerando, ainda, o Modernismo, há que refererir a existência de uma única galeria de arte, que se manteve de 1933 até 1936, denominada UP que se localizava em Lisboa. Durante a sua curta existência realizou pequenas exposições, numa das quais foi apresentada a primeira exposição de Arte Abstracta, com obras de Maria Helena Vieira da Silva, vinte anos depois da primeira do género, que foi realizada em Portugal, com trabalhos de Amadeo de Souza Cardoso.

Nesta galeria expuseram-se obras de alguns dos mais importantes pintores portugueses do século XX, como Almada Negreiros, Mário Eloy e Botelho, entre outros.

A exaltação nacionalista da Exposição do Mundo Português em 1940, marca o climax de um programa de Política de Espirito, promovendo o que vinha sendo desenvolvido por António Ferro desde 1933, cujo marco simbólico foi a I Exposição de Arte Moderna, realizada em 1935.

(continua no próximo número)

 

 

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