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POR TERRAS DE PORQUEIRIM

26-05-2017 - Francisco Pereira

Relaçam da visitaçam que fez Panfúcio da Anunciação às terras chãs de Porqueirim, no ano da Graça Nosso de Nosso senhor de mil quinhentos e setenta e três, relato dos muitos e relevantes fenómenos que testemunhou e ora relata para maior glória do senhor seu Rei.

Mui glorioso senhor,

São de facto mui estranhas estas terras de Porqueirim, note o meu Senhor que se encontra este povoado, mui sujo e emporcalhado, daí talvez o nome, pelas parcelas de serventia pedestre dos arruamentos estacionam os de cá, carroças, carretas mais o que se queira, em barda, fazendo com que coxos, marrecos, manetas e prenhas tenham de ir à estrada para circular, em o que os toma grande perigo de serem acometidos pelos coches que aqui desunham à desfilada.

Os beleguins, mais os da ronda do Almoxarife, não são como os da nossa terra, em Porqueirim, mal os notamos, escondem-se e a tudo fazem vista grossa.

Huma noite estando os sinos a repicar por causa dos fogos e para que acudam, queixaram-se uns quantos da algazarra. Pareceu mal ao alcaide, e bem, que estes de cá, são de uma terra onde não se respeitam uns aos outros, apesar de existirem leis sobre o ruído, ninguém parece querer disso saber, pois a qualquer hora da noite se fala como se fora meio-dia, e cuidado se os mandam calar porque reagem acossados como porcos selvagens e grunhem tal qual.

Saiba o meu senhor que nestas partes os há muitos perros, daninhos alguns e os mais de família, que são passeados pelas matronas ou pelos seus esposos, levados à trela, cagam e mijam por qualquer canto, bom nome tem esta terra pois Porqueirim assenta-lhe bem, porque os que por cá habitam mais ainda envergonham os porcos, vulgar é estando em precisão, cagarem e mijarem os donos também pelas praças da terra, atrás das carroças ou das tulhas dos detritos.

Presenteiam os passeantes com escarros bem repuxados a enfeitar o chão, a toda a hora os vemos aparcados em cima das parcelas pedestres ou circulando lá por cima com triciclos e carretas, que se cuide quem a pé circula, perguntará o meu Senhor, pelos aguazis, pelos meirinhos ou outros oficiais de administração da Justiça, pois parece que os não há, nem a isto sequer dão importância, Porqueirim é uma espécie de estado de anarquia, onde mandam uns sobre os outros e mais mandam os mais poderosos que aos outros só toca o pagamento de dízimos, de corveias, miúnças mais o que queiram os seus soberanos, mas no fim parece não haver nem quem mande nem quem aplique as Leis, sendo que todos fazem o que lhes der na gana.

Em esta terra cheira muito a merda, por os campos em redor serem adubados em liberdade, gera a cidade este fartum, corre também pelo meio da dita, aquilo que dizem ter sido um regato de água límpida e que agora apenas é um riacho de merda, para onde cagam e mijam os caneiros e vazadoiros de muitas habitações, mal não lhe ficaria a este povoado, também em alternativa o nome de Merdeirim.

Nesta terra estranha cabem mal as perguntas, não gostam das questões e se por acaso perguntamos um porquê ou nos oferecemos como discordantes, levantam-se as procelas, pois para os daqui quem discorda está contra, quem pergunta quer mal, asnos são, pois servem-lhes a palhada e eles apenas a remoem, como boas bestas domésticas cativas.

Convivem os de Porqueirim, com estas estranhezas como se foram normalidades, temo bem que sejam na sua maioria, capados eles e leves do pensamento elas, pois fazer da aberração a norma é tirar a virtude ao bom senso, mui bem lhe assenta o nome em esta terra. Por ora apresento os meus cumprimentos a sua Alteza, espero ter mais relatos sobre as singularidades do Reino que estou em visita, deste seu criado,

Panfúcio da Anunciação

Post Scriptum – Hoje por preguiça de escrever limitei-me a copiar um relato interessante do século XVI, sobre uma terra algures nos confins da Europa, realizado por um viajante opinioso, que ao seu Rei descreve as singularidades desse reino que visita.

Francisco Pereira

 

 

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