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O PAÍS MAIS AZEITEIRO DO MUNDO

05-05-2017 - Francisco Pereira

Somos um país azeiteiro, isso é certo e de ciência sabida, produzimos o melhor azeite do mundo. Isso faz de nós um país de azeiteiros. Quando era miúdo, achávamos piada aos azeitolas da época, meia branca, camisa aberta até ao umbigo, cabelo empastado de brilhantina, palito na dentuça, unhaca do mindinho crescida para tirar a cera do ouvido ou ajudar a expulsar a macacada da narigueta, fio grosso de oiro puro ou cachucho preso ao dedo, era assim o azeiteiro nacional.

Tinha tiques marialvas, ouvia fado e Toni de Matos, coçava as partes em público, arriava escarros repuxados de ranheta verde, aos domingos passeava com a esposa, criatura mais ou menos anónima e apagada, de lenço na cabeça, acertava o passo à prole barulhenta com cachaços e lampanas nas fuças que andava tudo em bolandas, o Fado do 31 faz-lhe justiça.

O século é outro, hoje o azeitolas nacional tem outra aparência, mais diversidade, temos o azeiteiro étnico, de calcinha justa e ou descaída mostrando a cueca, o chapéu à grunho importado das Américas o estereotipo americanóide que encanta o azeitolas actual, a musiqueta sempre em altos berros, kizombas, regatons, raps e hip-hops azeiteiros, ares de patetas, nas fotografias faceboquianas eles aparecem sempre com dedos esticados, elas a fazer boquinha “cu de galinha”, de morrer a rir.

O azeiteiro nacional numa sua outra faceta, mais adulto, mais betolas, usa barba, tratada a ozónio, como li num anúncio de uma barbearia das modernas, o que quer que seja isso do “ozónio”, usa ipod, iphones, ipad, snapchat, instagram, e o que mais se queira, para escrever ou antes para garatujar monossílabos, porque de pouco mais é capaz, nisso é igual ao azeitolas do século passado, o discurso é limitado.

Numa frase do azeiteiro adolescente, sai a palavra “tipo” e “ya” dez vezes, fala demais sem dizer absolutamente nada, adora a moda e as tendências, um azeiteiro que se preze cuida de si e enfeita-se como uma árvore de Natal, copiando os seus ídolos empurra bolas azeiteiros, corta o cabelo curtinho, deixa melenas ou grava efeitos no casco, existiu por aqui um ferrador, o célebre “João das carroças”, que me lembro também com a tesoura era um artista, porque fazia efeitos iguais no pelo das mulas e dos jericos, hoje ganhava uma fortuna, com essa sua habilidade.

O azeitolas nacional, hoje já não anda de garrafão, hoje que a “mine” passou a moda, ele aderiu ao Gin, o supra sumo da bebida azeitolas, não há festa nem festarola que não o tenha como momento gerador de empatias azeiteiras, isso tudo regado depois com a musicalidade da zumba, da kizomba e de outras azeiteirices barulhentas tão ao gosto azeiteiro.

Ao Domingo o azeiteiro, veste o seu fatinho de treino, não treina nada claro está, excepto a maledicência, a inveja ou a sacanice, mas ciranda pelos locais públicos, por vezes, nos azeitolas finos, que também os há, que a azeiteirice é democrática, com o saquinho do jornal expresso, com o seu fato de treino impecável, sozinho de preferência. Lá no fundo gostava de poder coçar as partes como fazia o seu antepassado, mas os tempos são outros, já a ocasional escarreta verdusca a enfeitar o passeio, isso é outra história.

Uma última palavra para o azeiteiro desportista, cuja religião é o futebol, congrega em si todo o imaginário do azeiteiro, é uma versão fanatizada do azeiteiro, carrega todos os tiques de azeiteirice, condimentados pela paixão fanática pelo universo dos empurra bolas, assunto que discute até à exaustão com os seus pares, é o seu tema sacrossanto de discussão e de interacção, exceptuando isso só consegue falar de carros outra paixão dos azeitolas ou de telemóveis, outra temática preferida dos azeiteiros.

As azeiteiras, que também as há, muitas, são iguais a eles, pontuam no entanto, por exemplo, pela presença quase constante nas redes sociais que enchem, de fotografias fofinhas de flores, de comida, de gatinhos, de cãezinhos, de pés ao por do sol, de frases muito profundas sobre os estados de alma ou a partilhar idiotices, são tão fofinhas e tão azeiteiras que dá dó. Assim vai o mundo da azeiteirice nacional, singra pujante, vivam os azeiteiros, e as gargalhadas que proporcionam, são um elemento importante do bem-estar nacional.

Francisco Pereira

 

 

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