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III - PORTUGAL NOS ALVORES DO SÉCULO XX

24-03-2017 - Pedro Pereira

Por influência do que se passava além-fronteiras (em especial em França e Inglaterra) mas com cunho genuinamente português, nascem por todo o país imensas coletividades de cultura e outras, fenómeno que se começou a verificar a olhos vistos no século anterior, caso das associações filarmónicas, associações humanitárias, de teatro, associações de instrução popular e associações patrióticas, por exemplo.

Surgem também, as associações de defesa dos trabalhadores, como as da classe operária, consentâneas com a industrialização emergente, caso das associações de corticeiros, de metalúrgicos, de caldeireiros, de socorros mútuos…. Enfim, sobretudo de operários fabris. De igual forma nascem associações de artesãos, de ferroviários, de empregados de comércio, de pescadores, de grémios de industriais, de grémios da lavoura e por aí fora.

Embora os objetivos dos diversos tipos de associações fossem diversos entre si, tinham um denominador comum: a sociabilização. Em alguns casos, funcionaram como autênticas «universidades do povo».

De resto, ao longo de todo o século XX e um pouco por todo o país se foi verificando esse crescente fenómeno associativo.

O aumento populacional que de forma exponencial se ia registando nas localidades industrializadas, apelava à necessidade de convivência face à interpenetração de famílias heterogéneas oriundas das mais diversas regiões do país, tornando dessa forma espontâneo e inevitável o movimento associativo.

No decorrer dos anos da 1ª República (1910-1926) de entre todas as associações, as de Instrução destacaram-se das demais, pelo facto da sua perdurabilidade no tempo, contribuindo de forma relevante no campo do ensino das primeiras letras, das escolas técnicas e nos níveis seguintes de instrução.

Nestes anos, em Portugal, a produção literária e artística continuava a ser profundamente marcada pelo classicismo, pelo racionalista e pelo naturalismo, salientes em manifestações amorfas e decadentes, evidenciando uma forte resistência à inovação e aos novos ares que se faziam sentir vindos de além Pirenéus. Ao monótono e decadente rotativismo político correspondia uma não menos monótona e decadente produção intelectual. Os interesses materiais dos burgueses primavam sobre os interesses culturais, condicionando e cerceando inclusivamente a liberdade de expressão.

A partir de uma dada altura, grupos de intelectuais portugueses irão organizar-se em círculos de contestação à velha ordem instalada. Iniciam-se no recurso a estratégias provocatórias e na resposta, por vezes desarvorada, às formas políticas e culturais conservadoras e reacionárias à modernidade. Será o modernismo, enquanto movimento estético e literário de rutura com o marasmo intelectual, que irá irromper com vigor em Portugal, num conjunto de arte e de literatura quanto ao que mais avançado havia na Europa, sem prejuízo, no entanto, da originalidade nacional.

Nasceram revistas, foram organizadas exposições e conferências, por iniciativa privada, num esforço de autonomia e distanciamento, relativamente aos apoios do Estado, através das quais as novas opções culturais foram mostradas e divulgadas. Porém, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais se faziam notar de forma mais evidente, não proporcionaram público em quantidade suficiente, interessado nas novas iniciativas culturais.

Por estes tempos, face à produção de roupas em grande escala, a moda inicia a sua «democratização», deixando de ser encarada como atividade frívola. Torna-se mais simples, diferenciando-se a roupa masculina da roupa feminina. Por seu turno, a emancipação feminina vai desempenhar num papel fundamental na transformação da moda. E se antes mostrar o corpo era um tabu, a partir de então o corpo vai ser valorizado e a cultura física torna-se uma preocupação estética.

Os padrões de beleza também evoluíram. No início do século as mulheres eram mais robustas (gordura é formusura), a partir de então ganharam uma nova silhueta, substancialmente mais adelgaçada.

Até por volta de 1910, as mulheres usavam saias compridas, caracterizadas por serem firmes em baixo, o que permitia pouca liberdade de movimento.

A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) ocasionou que todo esse excesso de tecido tivesse (por força das circunstâncias) de ser economizado, resultando assim em saias mais curtas e flexíveis, ao mesmo tempo que as mulheres se iam livrando dos espartilhos que foram frequentemente usados até o final do século XIX .

Neste período, de igual modo, teve início uma «revolução» no vestuário íntimo das mulheres, uma vez que foi inventado o sutiã , que lhes deu mais liberdade de movimentos e mais conforto.

A Art Nouveau vai influenciar a moda. A linha em «S» da silhueta feminina consolida-se, sublinhando e realçando o busto, os quadris arqueados e o ventre contraído. Em boa verdade, trata-se de uma silhueta antinatural (a vaidade exige sacrifícios com os torturantes corselets).

As saias tornavam-se um pouco mais curtas, chegando a mostrar as pontas dos sapatos. Os vestidos de noite possuíam decotes extravagantes e ricamente enfeitados. A bailarina Isadora Duncan inspirou e libertou a mulher nos anos 10. Lílian Gish e Mary Pickford (estrelas do cinema mudo) projetavam imagens de pureza. Glória Swanson representava o glamour e Theda Bara, a vamp, tornava-se o primeiro sex symbol do cinema.

Esta foi a Era do Jazz, traduzindo-se nas mulheres no seu modo de vestir e numa nova mentalidade.

Neste período, os vestidos passaram a ser mais curtos, leves e elegantes, de tal ordem que os braços e as costas ficavam à mostra. O chapéu que até então fazia parte do traje «obrigatório» das mulheres passou a ser restrito às saídas das mesmas, à noite. Por esta altura a estilista Coco Chanel somou enormes êxitos, lançando constantemente novas tendências.

Coco Chanel consagra-se. Os seus vestidos exigiam um minucioso ajuste ao corpo das senhoras. Os vestidos negros tornam-se a peça-base de todos os guarda roupas elegantes. A bailarina Josephine Baker, a vénus de ébano, é elevada à condição de ícone da moda. Clara Bow e Louise Brooks emprestam o seu brilho ao cinema e o item de beleza obrigatória, torna-se o baton, aplicado com os dedos. O look da mulher é marcado pelo cabelo curto, cigarro na mão, assumindo uma atitude masculina em sociedade.

Pedro Pereira

(continua na próxima semana)

 

 

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