O Governador do Banco de Portugal
17-03-2017 - Henrique Pratas
Estava eu sentado numa esplanada da capital do distrito Ribatejano, quando chegam dois casais que fazia tempo para ir para um cartório fazer uma escritura, eis quando um dos homens do casal lança o tema da conversa a demissão do Governador do Banco de Portugal. Ouvi esta conversa porque como sabem, os ribatejanos de boa cepa falam sem papas na língua e sem rodeios, ou conversa de circunstância eu apenas me limitei a ouvir.
Disse o meu concidadão, eu farto-me de trabalhar de dia e de noite para ter alguma coisinha e aquelo gajo do Banco de Portugal só faz porcaria, ganham muito mais do que eu e não o despedem, nem esse risco corre e a mim se não faço o meu trabalhinho em condições arrisco-me a que ninguém me dê mais trabalho, é preciso ter sorte na vida para tudo.
A resposta de uma das senhoras não se fez esperar, pois eles têm tempo para tudo, para desorientarem o País, as pessoas e se há algum problema fazem aumentar as taxas da Caixa Geral de Depósitos para que nós que colocamos lá o nosso dinheiro para que esteja a coberto dos ladrões, safamo-nos de uns mas não nos livramos de outros.
Eu cheio de vontade de me meter na conversa, mas resolvi ficar calado, a escutar o descontentamento manifestado pelos meus concidadãos, a conversa alongou-se durante mais uns tempos e a tónica foi sempre a mesma andamos a ser governados por gente que não tem vergonha na cara, um deles ainda disse, mas nós é que temos a culpa, porque somos nós que os colocamos lá. A resposta do outro, dado que estamos em “vésperas” de eleições autárquicas, remata com a rapidez que é característica começou a palhaçada, já começaram as promessas e lá na minha rua andam a arranjar os candeeiros que estavam quase a cair, as eleições deviam ser mensais, porque assim eles sempre iam fazendo alguma coisa.
Das 5 pessoas que ali se sentaram não ouvi dizer bem de nada, nem deste governo nem do anterior, a grande conclusão era que os políticos eram todos iguais, aqui ainda tive vontade de lhes dizer que haviam uns mais iguais do que outros mas entendi que não me devia meter na conversa alheia, mas não deixei de registar o perfeito desagrado, descontentamento pelos políticos que temos e a descrença completa no nosso sistema politico, o que considero grave, mas não deixa de ser real.
Face ao que ouvi e que agora vos dou conta, convém explicitar que o Governador do Banco de Portugal é escolhido pelo Banco Central Europeu, mediante a apresentação de currículos apresentados pelos diferentes Governos nacionais, o que demonstra que a nossa intervenção neste processo é nula, Bruxelas manda e nós fazemos, de forma breve e curta é assim, todavia não deixo de relembrar que o atual Governador do Banco de Portugal, exerceu funções num Banco Privado, o Banco Comercial Português, de onde foi “convidado” a sair por razões que se relacionam pelo seu desempenho profissional e normalmente nestas situações as forças de poder tentam chutar para cima quem não lhes convém ou para um lugar onde possam de alguma forma a fazer o ajuste de contas, sabem aquelas questões do deve e do haver, as contas tinham que ser acertadas e nada melhor do que colocá-lo em posição de supervisionamento da atividade bancária, o resultado está à vista de todos nós ao estado a que a Banca chegou que em meu entender é perfeitamente deplorável, salvo honrosas exceções, que as há, mas não gostaria de deixar claro que são as boas qualidades e práticas profissionais que criam e fazem funcionar as organizações, no caso particular a Banca.
O problema criado pelos senhores da alta finança da Banca deve-se apenas ao facto de se ter concedido crédito de forma criteriosa e sem as devidas garantias e sem um apertado controlo das aplicações financeiras, para mim há muita gente envolvida neste processo, porque não quero acreditar que quem concedia crédito a qualquer título não soubesse o que estava a fazer. Eu próprio sou testemunha disso, porque nos anos 90 eu era cliente do BES e queria trocar de viatura e fui junto da dependência onde tinha conta aberta e solicitei que me fosse prestada informação sobre a concessão de crédito, explicando muito bem para que era e que só precisava de uma pequena parte pois o diferencial eu tinha, não me esqueço que o gerente saiu do seu gabinete veio ter comigo e ofereceu-me, sim é esta a palavra certa, ofereceu-me mais dinheiro do que aquele que eu precisava, indicando-me até a sua utilização, para ir de férias, para comprar mais móveis enfim para mim uma série de chorrilhos. Quero deixar aqui bem claro que sou filho de gente humilde que sempre viveu dos rendimentos do seu trabalho e nunca nos metemos em andanças para ganhar proveitos de forma pouco transparente. Aliás posso partilhar um episódio que ocorreu com o meu pai um ano antes de eu nascer, a mulher de um irmão do meu avô que tinha um prédio em Lisboa, pediu ao meu pai para ele lhe vender o prédio onde morávamos por setecentos contos (700.000$00), nem mais nem menos. O meu pai como conhecia já na altura muita gente em Lisboa, arranjou-lhe um comprador que dava o valor que ela queria e que eu mencionei só que o comprador teve a veleidade de dizer para o meu pai, muito bem eu dou os 700.000$00 e quanto é que eu tenho que lhe pagar pela sua comissão, o meu pai andou para dar uma carga de porrada no homem, porque considerou que o que ele lhe tinha dito foi considerado com uma ofensa. O negócio consumou-se, tal e qual como lhe tinham solicitado mas o meu pai já não quis acompanhar o processo da escritura e de receber o dinheiro afastou-se porque se sentiu ferido na sua honra.
São estes os meus valores, alguns de vocês podem considerar ou consideram que foi uma atitude parva ou inusitada, pois eu escrevo-lhes eu, faria exatamente a mesma coisa e as pessoas que não o fazem, na minha opinião valem zero, porque entendo que com a família e amigos na verdadeira aceção da palavra não se ganha dinheiro, pensem o que quiserem mas são estes os valores que bebi dos meus avós e da gente humilde que me ajudou a crescer enquanto pessoa, mais se a maior parte das pessoas que compõem a sociedade em que vivemos se comportassem desta forma a miséria moral não seria tão grande e indecorosa.
Terminando a conversa com o gerente do BES só lhe disse meu caro senhor eu só preciso deste valor é este valor que eu quero não quero mais, fui parvo podem comentar alguns de vocês, provavelmente fui mas eu não gosto de dar passos mais compridos que a perna e gosto muito de honrar os meus compromissos, valores que bebi dos meus queridos antepassados, sobre os quais já escrevi e daquelas pessoas humildes que me ajudaram a crescer para a vida, como é que eu poderia por em causa os valores que me foram transmitidos por eles, estava ser desonesto comigo e sobretudo com a memória deles e eu isso não faço por preço nenhum.
Mas voltando ao tema, a grande conclusão é que estamos atados de mãos e pernas e não temos capacidade de decisão, são outros que decidem por nós e isto é suficientemente grave porque se fala tanto em soberania nacional e depois não podemos decidir sobre o nosso futuro da forma como nós desejamos é estranho não é.
Já bastou que no Des) Governo de PSD/CDS, um Presidente uma Maioria, recordam-se deste desejo, do então Primeiro-Ministro nos tempos da AD, não nos bastou levar com ele enquanto Primeiro-Ministro, ainda o tivemos de levar com ele com Presidente da República durante dois mandatos (2), mas como diziam os nossos conterrâneos, não nos podemos queixar fomos nós que o escolhemos, técnicos da troika entraram do País dentro e sentenciaram as medidas são estas e quem não sabe é como quem não vê, vá de querer cumprir o que agora é considerado pela mesma entidade como excessivo e o Des) Governo da altura ainda fez questão de ir mais longe, vamos ver o que ainda vamos encontrar escondido debaixo do tapete e chegamos à conclusão que é possível fazer a mesma coisa sem castigar tanto aqueles que apenas têm rendimentos do trabalho por conta de outrem, os reformados e as pequenas empresas.
Sobre esta matéria havia tanto para escrever, mas vou ficar-me por aqui, porque entendo que toquei nos pontos essenciais que vos queria relembrar, porque são os mais recentes, a questão que se coloca é afinal quem é que decide o nosso destino, somos nós ou outros que nem sequer sabem fica o nosso País, mas que não deixam de impor medidas de restrição ao crescimento económico aos Países pobres do Sul da Europa para que os Países mais ricos da mesma Europa fiquem cada vez mais ricos e os seus Povos tenham cada vez mais melhores condições de vida, será que nós não temos uma palavra a dizer, claro que temos, apenas há que tomar as decisões que nos parecem mais justas, adequadas e de mãos limpas, nada de subterrâneo.
Henrique Pratas
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