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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

I - PORTUGAL NOS ALVORES DO SÉCULO XX

10-03-2017 - Pedro Pereira

Há pouco mais de um século, Portugal ensaiava os primeiros passos numa nova era conducente à modernização do país, com cambiantes que hoje, nos alvores do século XXI nos merecem uma reflexão atenta.

O contexto social, cultural, político e económico era diverso do que o país vive nos tempos presentes, não obstante, sintomaticamente existem pontos de convergência em vários aspetos.

Por tal sorte, consideramos importante partilhar com os nossos leitores as páginas que vos apresentamos hoje e as que se seguirão nos próximos números deste vosso jornal que é, O Notícias de Almeirim.

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Nos alvores do século XX, a maior parte da população portuguesa tinha por base de sustentação económica a atividade agrícola. Simultaneamente o país dava os primeiros passos de forma consistente na senda da industrialização, embora tardiamente face à maior parte dos países europeus com os quais Portugal mantinha trocas comercias desde há várias gerações. Aliás, em países como a Grã-Bretanha (onde teve lugar a primeira revolução industrial), a Alemanha, a Bélgica e a França, eram países altamente industrializados.

Portugal era por esta altura uma espécie de grande exploração agrícola, exportadora de produtos para a Grã-Bretanha.

Dentro desta prática que visava sobretudo um maior desenvolvimento económico, vão assumir um importante papel medidas destinadas à continuação e reforço dos meios de transportes e comunicações implementadas por Fontes Pereira de Melo a partir do seu governo no séc. XIX (política fontista).

Dadas as limitações financeiras do país, o desenvolvimento da rede nacional dos caminhos-de-ferro foi muito lento e acentuou a dependência externa do país, pelo facto deste meio de transportes não ter constituído, ao contrário do sucedido nos países industrializados europeus, um «motor» para a industrialização nacional. Ao invés e dado que todo o material para a construção, manutenção e circulação foi importado, o estado ficou de sobremaneira endividado e mais enfeudado que antes a interesses estrangeiros, leia-se: ingleses.

Quanto ao mais, a ação destrutiva britânica e o seu domínio colonial/económico foi eficaz tanto em Portugal como em quase todos os países mediterrânicos, perdurando os seus efeitos até à segunda metade do século XX. Temos como exemplos a companhia de transportes Carris (autocarros e carros elétricos em Lisboa), a companhia telefónica nacional (TLP), a companhia telegráfica Marconi e várias outras, que foram até então propriedades britânicas.

Não obstante, o país interligava-se mais rapidamente pelas vias ferroviárias. Populações historicamente separadas, encontravam-se finalmente. As localidades, as regiões, intercomunicavam-se com fluidez e relacionavam-se. Descobria-se um país unido por laços culturais históricos comuns, mas distinto em hábitos, usos e costumes em função das diversas regiões.

Dado este fenómeno, as coletividades e as diversas associações de classe e recreativas, irão desempenhar um papel fundamental como meios de interpenetração de sensibilidades culturais diversas e, enfim, de união entre as populações das mais diversas localidades, arribadas no decorrer das décadas seguintes, pelos acasos da fortuna, aos meios urbanos industrializados, contribuindo de forma não oficial para a coesão nacional em moldes muito mais marcantes que aquela que foi imposta ao longo de gerações pelos diversos governos e governantes.

A partir de 5 de Outubro de 1910, com o triunfo da República teve início uma nova era, proporcionando ao país, a par de um maior desenvolvimento a todos os níveis, novas perspetivas de vida, novas formas dos cidadãos em geral se enquadrarem na sociedade, sobretudo os residentes nas zonas urbanas onde existiam indústrias alimentadas por operários indiferenciados, deslocalizados maioritariamente do campo à procura de melhores condições de vida para si e para as suas famílias.

Devido à modernização dos processos de exploração agrícola, o sector comercial na agricultura irá desenvolver-se exponencialmente. Nas áreas periféricas das grandes cidades como Setúbal, Lisboa e Porto, as produções frutícolas e hortícolas, implantadas em múltiplas pequenas unidades vão-se desenvolver, sobretudo, devido ao facto de se encontrarem nestas cidades os principais portos de mar do país, através dos quais eram embarcados os produtos para exportação.

Simultaneamente, multiplicam-se os agricultores capitalistas, as sociedades agrícolas e os respetivos empresários.

Uma vez mais, na História de Portugal serão os mercados coloniais africanos que irão salvar o país da asfixia económica. Os novos mercados (até aí esquecidos) constituirão uma saída para alguns ramos das atividades agrícola e industrial. Entretanto, nascem as associações industriais e comerciais.

Resulta deste contexto o motivo de Portugal entrar na 1º Grande Guerra, para defender as suas colónias, passando estas a desempenhar um papel extremamente importante em termos económicos e sociais, quer a nível das camadas sociais mais elevadas, quer através das camadas intermédias.

E, entretanto, uma verdadeira reforma agrária foi mais uma vez adiada. As estratégias de desenvolvimento e de crescimento económico irão continuar condicionadas ao expansionismo britânico.

Pedro Pereira

(continua na próxima semana)

 

 

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