Pobre São Valentim

17-02-2017 - Francisco Pereira

Hoje, quando escrevo estas linhas, é dia de São Valentim, incontáveis vagas de patetas, acotovelam-se a gastar dinheiro, para comprar presentes a pessoas que ignoram os outros trezentos e sessenta e cinco dias do ano, os restaurantes e tascas enchem-se de casais apaixonadíssimos, amanhã as redes sociais estarão inundadas de fotografias muito fofinhas, de fofos corações, pratos de comida fofinhos, velinhas fofas, ursinhos fofinhissímos e o que mais se queira, que traduza fofice amorosa, naquilo que é mais um arroubo de consumismo patético e pateta.

Mais, nas escolas, não se fala de aborto nem de sexo, abrenúncio, deus nos livre de tais nefastos assuntos, mas promove-se o consumismo exacerbado, com patetices como o dia dos namorados ou o dia das bruxas, apenas mais exemplos da estuporada falta de intelecto que rege este país de cretinos.

O diabo, esse incompreendido, é que depois, como sói dizer”não bate a bota com a perdigota”, os números da violência doméstica, os números da violência no namoro, provam que somos umas bestas e não os querubins assexuados, ou metro sexuais como está na moda, que nos querem fazer parecer, ainda não cheguemos, ao ponto de refinamento da Rússia onde morrem 14 mil mulheres por ano vítimas de agressões em contexto de violência doméstica, país onde o inteligente governo baixou as penas por esse crime.

Mas vamos aos números para dar uma imagem mais ou menos real da parvoíce que grassa neste nosso país. Os últimos dados oficiais da PSP, (faltam os dados da GNR), reportam-se ao ano de 2016, oriundos do Programa Escola Segura, estão então contabilizados 1787 casos de namorados que acham que são donos uns dos outros, conclusão lógica, estamos a criar bestas quadrúpedes, as criancinhas são uns imbecis completos, que em pleno século XXI se continuam a comportar como Neanderthais, daí se concluindo que a Escola, a Educação é uma farsa e que todos aquele projectos e projectinhos que tanta massa dão a ganhar a alguns, não servem para porra nenhuma.

No caso dos papás das criancinhas cretinas, os números da Associação de Apoio à Vitima (APAV), referentes a 2015, contabilizam 53 mil ocorrências em contexto de violência doméstica, com 12 homicídios. Perante estes números não admira que as crianças sejam umas bestas, tendo em conta que os papás são umas bostas.

Mais grave ainda, é verificar que as criancinhas, acham perfeitamente normal insultar, perseguir e maltratar as pessoas com que interagem numa relação, o que nos leva a concluir que estamos a criar verdadeiros monstros, não admira pois que a violência e o abandono de idosos sejam igualmente estatísticas negras deste nosso paraíso de hipócritas dilectos amantes de São Valentim.

De que adianta, esgotarem as rosas vermelhas e as lingeries com sabor a manga, (não sei se existe mas lanço a ideia), se mais dia, menos dia anda tudo ao sopapo, numa vergonhosa demonstração da mais fina imbecilidade colectiva.

Francisco Pereira

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