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SOCIALISMO ??

27-01-2017 - José António Marques

Moisei Ostrogorski foi o primeiro a identificar os políticos como uma classe e, Robert Michells caracterizou o aburguesamento classista e a tendência oligárquica nela latente. Os partidos Portugueses e o comportamento do governo prova que ambos tinham razão.

Na sociedade Portuguesa há uma classe política com origem nos partidos e a eles transversal, deste facto social decorre a uniformização dos partidos. Da direita à esquerda os partidos assemelham-se na ''macieza'' do politicamente correcto, da força ideológica original resta, quando resta, uma mão cheia de expressões formais, ou, actividade residual desarticulada de estratégia.

A degeneração é presente em todos os partidos, mais visível na esquerda por contraste entre o ''hoje'' e a vitalidade dos primeiros tempos revolucionários, que na direita clássica tradicionalmente apegada ao comodismo burguês.

Herdeiros de uma longa linhagem de pensadores, próximos dos sindicatos e associações operárias, os partidos socialistas foram os primeiros partidos modernos de massa, éticos e revolucionários com consciência de classe e luta. Estruturavam-se em secções locais reunidas frequentemente em assembleias de debate e nelas se financiavam. O operário e família eram valorados, o partido era ''parte'' da comunidade. Até ao advento do soldado socialista patriótico da I Grande Guerra, a solidariedade estendia-se ao estrangeiro.

Que há do quadro descrito no partido dito socialista que outrora se chamou Português, e que hoje é governo? Nada!

Um partido de quadros, de ilustres notáveis barões do partido, gravitando na influência centralizadora do chefe. Cuja influência se estende ao parlamentar, submisso obediente e disciplinado representante dos interesses do partido a cuja sorte está atado, mais que do eleitor, cujo círculo por vezes nem conhece.

Um partido fechado, cuja agitação popular se reduz à semi-sazonalidade das campanhas eleitorais e à hibernação fora dela.

Desenraizado, incapaz de sobreviver sem subvenção financeira ou recurso a crédito.

A esquerda que (des)governa Portugal diz-se socialista, mas nada nela resta nem do impulso nem do projecto revolucionário dos pioneiros, perdeu a chave da gaveta onde encerrou os princípios.

Quando, em raras ocasiões se ''sente'' ideologia no discurso, podemos estar certo de uma de duas coisas; ou se trata de verbo formal em pura propaganda demagógica, ou visa auditório internacional.

A Voz é socialista a práxis o mais conveniente liberalismo pró-capitalista.

Prova-o, a redução simplicista da economia à actividade financeira e banca, e os mil cuidados com que delas cuida, descuidando ou ignorando outras potencialidades sociais, e naturais marítimas ou continentais.

Prova-o, o corpo ministerial socialista, sem singular ministro de origem operária, inexpressivo na representação social da Nação; não há um comerciante, um artista, intelectual, nada! Senão economistas, advogados, dois engenheiros, um médico; As mesmas profissionais liberais, que vimos nos comités dos partidos arcaicos no velhinho tempo do sufrágio limitado. Burocratas e tecnocratas corporativos no mau sentido, ''chapados'' por anos de engajamento ao ''serviço'' da função pública.

O poder assemelha-se cada vez mais a uma elite institucional enrodilhada em promiscuidade confrangedora com as elites financeiras, dando razão a Marx e aos sociólogos da ''Escola'' das elites, que viam no estado um ''instrumento'' ao serviço da hegemonia das oligárquicas dominantes.

Sendo certo que nem sempre é assim, desgraçadamente é o nosso caso.

Os defensores do socialismo instalado argumentarão com o tempo ''diferente'', acrescentando que o operário se transformou no trabalhador a viver em condições nunca sonhadas por seu avô. Que a linguagem radical é desajustada ao morno mundo dos ajustes e consensos. Mesmo admitindo tudo isso, admitindo até o operário como ''extinto'', permanece a verdade sociológica da divisão do trabalho em partes e fardos desiguais, e se a utopia igualitária é indesejável, não é menos verdade que a justiça social e a dignificação do trabalho, é devido, é necessário, e falta.

Não haja equivoco, evoluir não é partir do parapeito de disparo da trincheira oposta, para acabar na do inimigo disputando com este na cantina à bofetadas de luva branca uma fatia de bolo.

José António Marques

 

 

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