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MORREU SOARES

20-01-2017 - José António Marques

Morreu Soares. Pompa e circunstância, intermináveis elogios públicos, olhos húmidos, choro convulsivo nalguns, emoções em flor de pele, gravatas pretas, histórias e historietas, nos notáveis e ocasionais humildes foi todo um mundo em bico de pés à espera de um salpico de holofote, trivialidades insignificantes tiveram auditório nacional, as TV,(s), competiram entre si pelo coração emocionado do espectador e revelaram tudo, num vale tudo. Uma procissão triste.

Morreu o pai da democracia Portuguesa, dizem alguns, confirmando assim a ausência de virtude democrática na I República.

A ocasião propiciava o debate sério sobre o estado da nação, seria um excelente momento para ''pensar'' a democrata que temos. Mas em vez da análise rigorosa do que de bem e mal se fez e faz no regime, ou do papel da figura discutível que foi Soares. O mundo político optou por um cenário de divinização. Esclarecedor as inúmeras vezes que repetida foi a expressão, ''o pai'' da democracia, ai... que diria Freud do tétrico exagero teatral na qual o socialista ''primeiro entre iguais'', foi velado com dignidade majestática!?

Entende-se; O poder político, enfraquecido, amedrontado pelo fantasma da onda de populismo que varre a Europa em particular, e o mundo ocidental em geral, viu no funeral de um dos seus grandes, a oportunidade espectáculo de reconciliação com as massas.

Na versão actualizada do rei que sabendo-se nu atira moedas ao povo e compra tempo à guilhotina, o estado laico republicano e falido, distribuiu no pórtico da igreja, abraços e beijos entre medalhados, canibalizando o prestigio dos seus maiores em proveito próprio. Ignorante da arte da manipulação e propaganda, o consumidor emocionado do ''big brother'' soltou a amarra do juízo crítico e deixou-se levar na corrente morfiniza da política dos afetos.

Amanhã, uma ou duas ruas mudam de nome, uma estátua animará uma praça, umas tantas lápides aqui e, alguns bustos futuras relíquias poeirentas ali, e eis que a república ganha um herói imaginado, beneficiando em proveito próprio da condescendência do fraternal espírito de concórdia que une o humano nos momentos de desgraça.

A morte do ''príncipe'', oxigenará de vitalidade a república nova, promessa velha de quarenta anos, malfeita que foi a descolonização dita exemplar, resta por concretizar dos ''3d'' a ''democracia esclarecida'' e o sempre adiado desenvolvimento.

No país do futebol, rock pimba, e política vedeta televisiva o essencial pode sempre esperar.

«The show must go on»

José António Marques

 

 

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