AGENTE LARANJA

13-01-2017 - Francisco Pereira

O conflito que devastou o Vietname, entre 1963 e 1975, que ficou conhecido por Guerra do Vietname, ainda hoje, quarenta e dois anos passados do fim do conflito, provoca vítimas.

Para além dos milhares de toneladas de munições, minas e outros artefactos explosivos, ainda escondidos pelos arrozais, florestas, caminhos e veredas, que segundo números oficiais, provocaram desde 1975 um total de quarenta mil óbitos entre a população, um inimigo ainda mais sinistro e de difícil detecção silenciosamente vai colhendo as suas vítimas, falo do herbicida desfolhante popularmente conhecido como “Agente Laranja”.

O “Agente Laranja” é um herbicida composto, feito da mistura do herbicida desfolhante «2,4,5 – ácido Triclorofenoxiacético» e o herbicida sistémico «2,4 D – Ácido diclorofenoxiacético». A combinação destas substâncias gerou uma dioxina conhecida pela sigla TCDD ou Tetraclorodibenzo-p-dioxina, um composto químico altamente tóxico, um estudo de 2002 indica que 80 gramas de TCDD em estado puro chegam para matar oito milhões de pessoas.

Foi com este tipo de agente químico que, através da operação “Ranch Hand” que decorreu entre os anos de 1962 e 1971, o comando americano de operações no Vietname, tentou desflorestar os matagais, bosques e florestas que serviam de protecção às deslocações, infiltrações e operações do Exército Norte-vietnamita bem como às unidades da guerrilha Vietcong.

Numa estimativa, de 2005, das autoridades sanitárias do Vietname, que efectuaram o recenseamento de casos, revela que 150 mil crianças sofrem de mal formações, provocadas pelos efeitos do “Agente Laranja”, estes números não reflectem porém, a realidade passada, que se desconhece em grande parte, sendo que a ordem de grandeza de pessoas afectadas se situa na ordem dos milhões.

Os americanos também sofreram com a utilização deste agente químico. Após a associação de Veteranos questionar os imensos casos de cancro que se viam aparecer nos seus associados, foi exigida uma investigação, sobre uma possível relação entre a dioxina TCDD e o cancro, vários relatórios científicos produzidos entre 1980 e 1984, concluíram que não existia relação entre a exposição à dioxina e o cancro. No entanto em 1990, ficou provado que os estudos foram falsificados.

As atenções viraram-se então, para a poderosa Monsanto, uma multinacional do sector agro químico, que fabricou e forneceu o exército americano com “Agente Laranja” apesar de não ser o único fornecedor do produto, esta empresa possuía teoricamente dados sobre o efeito a longo termo da toxina, dado que em 1949 numa das suas instalações industriais situada na cidade de Nitro na Virgínia Ocidental, um acidente expusera os funcionários da empresa aos efeitos nefastos da TCDD.

No entanto as batalhas legais decorrem, arrastando-se sem fim à vista, um exemplo desse tipo de luta é a da senhora Tran To Nga, hoje com 74 anos, padece dos efeitos de exposição à TCDD, jornalista de uma agência vietnamita, cobriu a guerra do Vietname nessa qualidade, viajou para as zonas de conflito, testemunhou as atrocidades e sem saber, foi contaminada.

A senhora Nga, é uma cidadã francesa de origem vietnamita, há vários anos que intenta uma acção contra a Monsanto por causa da TCDD, na última audiência em 2015 os advogados da multinacional solicitam à senhora Nga a entrega de um certificado passado pela entidade patronal da senhora onde se ateste que a mesma esteve nas zonas de conflito onde foi utilizado “Agente Laranja”, um pedido claramente absurdo.

Enquanto os lesados tentam lutar contra os poderosos grupos industriais e até contra os Estados implicados, a TCDD, mais de meio século depois de começar a ser utilizada continuará a fazer vítimas, sendo que o seu efeito real nas populações e nos sistemas ecológicos dos países adjacentes como o Laos, Tailândia e o Cambodja é largamente desconhecido, apesar de existirem informações fidedignas que apontam para outros tantos milhões de pessoas afectadas.

Francisco Pereira

 Voltar