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O IMPÉRIO DA GUERRA

13-01-2017 - Pedro Pereira

A partir de finais da 2ª Grande Guerra Mundial, os Estados Unidos da América começaram-se a afirmar como uma potência imperial militar. O anúncio foi dado às restantes nações do planeta com a largada das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaqui. A partir de então os EUA não mais deixaram de se encontrar em permanente conflito político-militar, direta ou indiretamente em quase todas a regiões do planeta, a começar pelos Estados sul-americanos que hoje em dia, com excepção de Cuba, constituem uma espécie de seus latifúndios onde se abastecem de produção agrícola e frutícola (para além de outras atividades económicas).

Se é certo que a intervenção dos Estados Unidos na 2ª Grande Guerra Mundial, contribuiu decisivamente para a vitória dos aliados sobre os nazis e por tal sorte a Europa detém uma dívida de gratidão para com os americanos, por outro lado, destroçadas pela guerra as grandes potências europeias (Alemanha, França, Inglaterra…) e quebrada a sua influência e domínio político e económico sobre territórios do Médio Oriente, de África e por aí fora, os EUA ficaram com o «campo livre» para ditar as regras do jogo em territórios/colónias antes dominados por esses países europeus.

A máquina de guerra norte- americana que se desenvolveu extraordinariamente a partir do momento em que esse país interveio na 2ª GGM, não mais parou de crescer, porque a produção de material de guerra passou a ser desde então a primeira e mais florescente indústria norte-americana.

Eles são os aviões, os helicópteros, os navios, os submarinos, os veículos de todo o género, o armamento, as munições, as rações de combate, os fardamentos e equipamentos, os medicamentos, os combustíveis e, hoje, cada vez mais, também os componentes eletrónicos em dos equipamentos em terra, no mar, no ar, e aeroespacial.

O fim da 2ª GGM, originou um clima de tensão político-militar entre nações que haviam sido aliadas no combate contra as potências do Eixo: (Alemanha, Japão, Itália…), pelo facto de estes países virem a aderir à NATO, promovidos pelos EUA. Por seu torno e em contraponto à Aliança Atlântica, nasceu o Pacto de Varsóvia, promovido pela URSS, incorporando vários países de Leste.

Após a queda do Muro de Berlim em novembro de 1989 os países do Leste europeu, começando pela União Soviética, encetaram um processo de democratização. É evidente que sem esforço e até algum alívio, os restantes países da esfera soviética desligaram-se do Pacto de Varsóvia, deixando de gravitar em torno da URSS, ela própria fragmentando-se e entrando na via democrática pela batuta de Mikhail Gorbachev, transformando-se numa Federação de Estados, a atual Federação Russa.

Terminavam assim, quatro décadas de Guerra-fria capitaneada no confronto pelas duas maiores superpotências do planeta: os EUA e a URSS. Foi, portanto, nesta etapa da História, que os EUA entraram em crise económica durante poucos anos, porque a Guerra-fria implicava uma permanente corrida aos armamentos, por parte das superpotências. A crise instala-se e as indústrias de guerra americanas e suas associadas começam a perder biliões de dólares. Havia, portanto, que se «inventar» um novo inimigo para continuar a alimentar a indústria bélica, dado que os regimes comunistas se haviam finado. «Inventou-se» assim, o «Eixo do Mal» (Irão, Iraque, Coreia do Norte, China, etc.). Operação realizada numa primeira fase pelo presidente Bush pai e, posteriormente, numa segunda edição revista e aumentada, a partir da chegada ao poder, pelo Bush filho.

O pai escaqueirou o Iraque na primeira guerra do Golfo, a pretexto da defesa do regime feudal do Kuwait que tinha fugido após a invasão do seu território pelas tropas iraquianas de Sadam Hussein. A realidade subjacente era a defesa dos poços de petróleo americanos. O Bush filho, aproveitou a embalagem para escavacar o miserável Afeganistão, alegando que os Talibans eram uns tiranos e, por ultimo, acabou de vez o trabalho inacabado do pai, no Iraque, porque (segundo ele) existiam por lá « enormes arsenais de armas de destruição massiva», mais os rentáveis poços de petróleo que bem falta fazem para alimentar a indústria americana, dizemos nós, deixando esse país na mais absoluta miséria e desorganização política, económica e administrativa. O resultado está à vista.

Assim que chegou ao poder, em 2001, George W. Bush, talvez pelo facto de ser natural do Texas e ter visto muitos filmes de Cow Boys, realizou e protagonizou uma coboiada, traduzida pela implementação do projecto do escudo antimísseis denominado Guerra das Estrelas, à revelia dos tratados internacionais assinados entre os EUA e a desmantelada URSS durante a Guerra-fria e recusou-se a assinar o Protocolo de Quioto (relativo à redução das emissões de gazes que provocam efeito de estufa) dando assim o mote ao seu rumo de governação, vincando bem a sua posição de confronto com todos os países que não se acolheram à órbita norte-americana.

Não deixa de ser insólito notar que Bush foi eleito com menos votos expressos que o seu rival democrata Al Gore, num burocrático e complexo sistema eleitoral e jurídico, que nem numa república bananeira seria possível. Era inevitável a eleição de Bush, uma vez que a sua campanha política foi subsidiada por poderosas empresas de armamento, petroquímica e farmacêutica, entre outras, e essa gente não gosta de perder dinheiro…

Os atentados do 11 de setembro de 2001 foram o pretexto que lhe faltava para implementar um programa de supressão de muitas das liberdades individuais e de intervenções militares contra os terroristas. Estes atentados foram classificados por ele como uma acto de guerra, proclamando que, «esta é uma guerra do bem contra o mal, e o bem vai vencer», conseguindo para as operações militares a aprovação pelo Congresso de um orçamento suplementar de 40 biliões de dólares. E foi assim, empunhando a bandeira da guerra contra o terror que Bush levou o exército americano a países conflituosos como as Filipinas, Geórgia e Colômbia.

O apelidado programaGuerra das Estrelas, partiu de uma ideia lançada pelo presidente Ronald Reagan, em 1983, com o fim de proteger os Estados Unidos de alegados ataques nucleares a que chamou «Iniciativa de Defesa Estratégica».

Embora existam indícios de que Reagan e parte substancial do Pentágono acreditaram na viabilidade do escudo espacial para proteger os Estados Unidos, a verdade é que para muitos sectores do governo e da sociedade ele não foi pensado apenas como uma arma estratégica. Para o Pentágono e para a indústria bélica e aeroespacial, significava um substancial aumento de disponibilidade de verbas e um grande motor para imprimir mais força e velocidade produtiva à superioridade tecnológica americana no mundo, enquanto que para a linha dura do governo de Reagan era uma forma de pressionar a União Soviética, forçando-a a criar algo do género, o que pôs em pânico a cúpula do regime soviético com essa possibilidade, uma vez que a economia desse país encontrava-se em plena decadência e não tinha, portanto, capacidades de competir na corrida. Foi a visão dessa limitação que contribuiu para a ascensão de Mikhail Gorbachev e das suas propostas em 1985, para reformar o seu país.

Terminada a Perestroika e a União Soviética, as justificações para um escudo espacial daquela envergadura, cessaram. Mesmo assim, dezenas de milhões de dólares foram aplicados no desenvolvimento da tecnologia do tal escudo do Governo Bush, ideia que se foi desenvolvendo de forma mais ambiciosa, baseada em mísseis de terra, com o único objectivo de proteger algumas áreas-chave do território americano.

O governo de Clinton continuou a investir no projecto, mas com um objetivo mais abrangente: - uma rede de radares, satélites e mísseis antimísseis e por aí fora. No entanto, Clinton, apesar de autorizar o desenvolvimento da tecnologia, preferiu deixar para o seu sucessor a decisão de instalar ou não o sistema.

Em termos militares este projecto encaixa-se como uma perfeita luva na atual doutrina militar americana, ou seja, a guerra só pode ser feita desde que não existam riscos de civis ou militares americanos morrerem. Porém, este escudo não é simplesmente uma arma, representa uma forma de injectar rios de dinheiro na indústria aeroespacial, bélica e electrónica norte-americana, garantindo o predomínio americano nesses ramos por muitos anos. Cortar nos programas sociais e investir na indústria bélica, tornou-se uma tradição republicana encetada por George W. Bush.

Se o escudo espacial funcionar, consolidará ainda mais a supremacia militar americana e tem a virtualidade de reduzir a Rússia e a China à categoria de potências militares de segunda classe. Por seu turno, os europeus ocidentais também não se sentem tranquilos com essa demonstração de poder e da superioridade bélica dos EUA, no entanto, nem a China nem a Rússia tem condições de impedir os desejos de Washington e muito menos de criarem algo para contrapor aos norte-americanos. Posteriormente, a proposta de Vladimir Putin, convidando os europeus ocidentais a financiarem um escudo russo-europeu, demonstra (caso não tenha sido mais que uma operação de cosmética), a «ingenuidade» ou o aparente desespero dos russos.

O poderio militar americano é, incontestavelmente, dominante a nível planetário. Mais de 250 mil homens encontram-se permanentemente no activo, milhares de aviões, navios, porta-aviões e muita tecnologia suportam as ambições do executivo norte-americano. Uma palafrenália de armas secretas e semissecretas, como tanques e helicópteros cada vez mais sofisticados, projécteis de maior alcance, mais rápidos e capazes de produzir maiores danos ao inimigo, enquanto que a orientação por satélite aumentou a precisão dos mísseis. A bomba T, que cria uma parede de fogo, a secreta bomba E, que derrete circuitos eléctricos e as bombas Daisy Cutter, complementam este quadro de terror. No entanto, aparentam-se muito pouco eficazes na guerra urbana, como tem sido demonstrado todos os dias no Iraque e em outros teatros de guerra onde as tropas dos EUA continuam a atuar, a título de exemplo.

Pedro Pereira

 

 

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