III NASCIMENTO E MORTE DAS «COMUNIDADES EUROPEIAS»
16-12-2016 - Pedro Pereira
(Ontem, tal como hoje, salvo os devidos contextos)
O plano Marshall assentou numa linha de crédito dos EUA e ajuda alimentar com a condição dos europeus criarem um organismo para gerir a crise. Dessa forma, em junho de 1947 nasce a OCDE, e tem início a «Guerra Fria» entre os países ocidentais e o Leste europeu.
Nesta sequência nascem movimentos federalistas europeus com expressão visível no Congresso Federal Europeu de Haia, realizado em 1948, dele saindo na União Europeia Ocidental (UEO), e em 1949 surge a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), também denominada, NATO. Posteriormente nasce o Conselho da Europa como movimento de solidariedade entre os Estados. Os ingleses recusam alinhar.
Este organismo com única competência no campo político procedeu em 1950 à publicação dos Direitos do Homem, a que Portugal só irá aderir em 1976.
Em 1950, os federalistas avançam pela via económica segundo o plano Schumann (ministro dos negócios estrangeiros francês), redigido por jean Monet, um comerciante, que será o promotor de arranque para a Comunidade Económica Europeia (CEE). O enunciado do plano propõe a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Organização relativa às matérias-primas fundamentais, que dessa forma passavam a ser controladas pelos países produtores aderentes, em especial a França e a Alemanha, nações historicamente rivais e beligerantes.
Assim, em 18 de abril de 1951 é assinado em Paris o tratado que institui a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Segue-se a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA), tratados assinados em Roma em 25 de março de 1957.
Finalmente, a 17 e a 28 de fevereiro de 1986, no Luxemburgo e em Haia respetivamente, foi assinado o Ato Único Europeu (AUE).
Seguem-se o Tratado de Maastricht ou da União Europeia (1992) que fundou a União Política e a União Económica e Monetária, ou seja, a Moeda Única (Euro), e outros tratados mais conducentes à consolidação da união política e monetária da CE, resultando na quarta «comunidade europeia».
Chegados a esta etapa da nossa história, voltamos ao início do tema, ou seja, à primeira «comunidade europeia».
Mau grado as distâncias cronológicas e contextos históricos, na verdade o conhecimento da História permite-nos entender o presente e perspetivar o futuro. Nesse sentido encontramos semelhanças entre os principais fatores que permitiram a coesão do Império Romano e os que conduziram ao seu desmembramento, com aspetos idênticos relativamente à coesão e aos inícios da desagregação da atual Comunidade Europeia.
Vejamos então.
FATORES DE UNIDADE DO IMPÉRIO ROMANO
. Capital política e administrativa – Roma;
. Corpo de leis fundamentais – Direito Romano;
. Moeda única – Sestércio;
. Rede de vias de comunicação entre todas as regiões do Império,
com estradas calcetadas;
. Regiões demarcadas por tipos de produção;
. Administração municipal descentralizada.
FATORES DE DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO
. Vastidão dos seus territórios, com línguas e culturas diversas;
. Incapacidade física das legiões de mercenários para defenderem
de forma eficaz as suas fronteiras;
. Pesada máquina burocrática;
. Permanentes focos de revoltas de escravos;
. Invasão dos seus territórios pelos povos bárbaros, ou seja, os que
não falavam latim nem eram cidadãos do Império;
. Grave e prolongada crise económica e social.
FATORES DE UNIDADE DA COMUNIDADE EUROPEIA
. Capital política e administrativa – Bruxelas;
. Corpo de leis fundamental – Direito Comunitário;
. Moeda única – Euro;
. Rede de vias de comunicação entre todos os Estados Comunitários,
com autoestradas;
. Regiões demarcadas por tipos de produção;
. Administração municipal descentralizada.
FATORES DE DESAGREGAÇÃO DA COMUNIDADE EUROPEIA
. Vastidão dos seus territórios, com línguas e culturas diversas;
. Incapacidade física dos seus exércitos (assalariados voluntários, tal
como os legionários romanos) para defenderem de forma eficaz
as suas fronteiras;
. Pesada máquina burocrática;
. Invasão dos seus territórios pelos povos de países de além das suas
fronteiras da CE;
. Grave e prolongada crise económica e social.
Os fatores de desagregação da Comunidade Europeia não se esgotam nos atrás enunciados. São mais vastos, complexos e em permanente atualização/acréscimo aos já existentes.
A crise económica ameaça tornar-se definitiva. Como autodefesa e à revelia dos tratados comunitários, alguns dos Estados da União Europeia veem tomando medidas de preservação identitária e dos seus territórios/fronteiras. O permanente confronto entre as diretivas comunitárias, o Direito Comunitário e as Constituições dos Estados membros, encontra-se numa contradição (aparentemente) insanável face aos objetivos últimos dos eurocratas, ou seja, a união política plena, dado que o primeiro objetivo já foi cumprido: a união monetária, a que poucos países não aderiram, como a Grã-Bretanha, que se encontra numa fase de saída a associação eurocrata por via do Brexit.
Entretanto o euro mantem amarrado entre si com grilhetas como se fossem escravos, os países onde vigora o uso desta moeda artificial, arrastando os povos para a instabilidade laboral e social, com o consequente aumento exponencial de legiões de desempregados e alastramento da mancha de miséria.
A Rússia, a China e os países do Mercosul, enleados em reordenamentos geoestratégicos/económicos, mais as hordas de refugiados provenientes do inferno em que o Ocidente transformou a Líbia, Síria, Afeganistão e outros, invadindo de forma incontrolável os países da UE, constituem fatores decisivos para o inexorável desmantelamento da quarta «comunidade europeia».
Pedro Pereira
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