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I NASCIMENTO E MORTE DAS «COMUNIDADES EUROPEIAS»
(Ontem, tal como hoje, salvo os devidos contextos)

02-12-2016 - Pedro Pereira

A ideia de unidade (ou união) europeia remonta à Antiguidade Clássica.

Assim, a primeira «comunidade europeia» teve origem em Roma. No seu apogeu, os territórios do Império Romano abarcavam toda a Europa, incluindo aqueles que são hoje países de Leste e ainda uma vasta região do norte de África, incluindo a atual Líbia, Síria…

O Império possuía como principais elementos unificadores o imperador, uma capital política e administrativa (todos os caminhos vão dar a Roma…), um corpo de leis fundamentais (Direito Romano), uma moeda única (sestércio – moeda de prata cunhada em Roma), uma língua oficial, unificadora (o latim), uma religião do Estado (cristã, a partir de Constantino), exército (composto por mercenários), organização administrativa urbana, milhares de quilómetros de estradas calcetadas entre as várias regiões do Império, e outros.

A partir de uma dada altura o Império cindiu-se em dois: o do Ocidente, com capital em Roma e o do Oriente com capital em Constantinopla, tendo esta resistido até ao ano de 1493.

Alguns dos fatores decisivos para a queda do Império Romano do Ocidente foram: a vastidão dos seus territórios e a pesada máquina burocrática, o que impossibilitava o controlo eficaz, atempado e total das suas fronteiras. 

Para sua desgraça, aconteceu que os povos oriundos de uma das franjas do Império (a Germânia), aproveitando as crescentes debilidades internas do mesmo decidiram migrar para os territórios de Roma e envolventes mais ricos e, portanto, bastante atrativos. 

A defesa dos ataques dos povos bárbaroscontra o Ocidente não teve como justa resposta uma ação coordenada diante de um inimigo comum. Agravando este dramático cenário, a parte oriental do Império Romano, com base em Constantinopla (na atual Turquia), usava meios diplomáticos e outros expedientes para encaminhar esses povos para o Ocidente...

Desde o tempo de Teodósio (378-395), que a pressão germânica sobre o Ocidente não parava de crescer. Naturalmente que para fazer face às ameaças externas Roma viu-se na contingência de aumentar a arrecadação de impostos (a chamada carga fiscal) para suportar as crescentes despesas com a sua defesa. 

As ondas migratórias dos povos bárbaros do norte da Europa e de regiões da Ásia em direção a Roma, provocadas por alterações climáticas e outros fatores associados, forçavam o Império a repelir os invasores e a mobilizar progressiva e exponencialmente cada vez mais contingentes do exército para a defesa do seu centro, que era a cidade de Roma.

A médio prazo, o peso crescente da situação tornou-se insustentável, minando paulatinamente a região ocidental do Império, com a consequente desagregação e desmantelamento dos setores produtivos e administrativos dos territórios. 

O processo de declínio do Império Romano do Ocidente começou em meados do século IV d.C., devido a problemas como as invasões bárbaras, à crise económica aliada a uma pesada máquina burocrática, à disputa e confrontos dos militares entre si pelo poder e outros contextos problemáticos que vinham minando as suas estruturas.

A desintegração interna do Império Romano do Ocidente contribuiu decisivamente para o êxito dos ataques e invasões dos povos germânicos. O primeiro ataque e saque ao coração do Império (Roma) foi efetuado pelo rei germânico Alarico em 410. 

Posteriormente, em 476, foi com relativa facilidade que Odoacro, rei da tribo germânica dos hérulos se apossou de Roma juntamente com um grupo de bárbaros godos que serviam como mercenários em Roma, depondo o imperador Rómulo Augusto, pondo assim fim ao Império Romano do Ocidente.

A partir desta data iniciou-se um novo período na história da Europa: a chamada Idade Média.

A segunda «Comunidade Europeia» nasceu com Carlos Magno, rei dos francos desde 768. Feito rei dos lombardos em 774, foi coroado Imperador do Ocidente (Imperator Augustus) em Roma pelo Papa Leão III em 25 de dezembro de 800, trono que deteve até à sua morte em 814. Com a sua coroação, a Igreja católica teve como objetivo fazer renascer o Império Romano do Ocidente e, ao mesmo tempo, unificar a Europa sob o comando de um monarca cristão.

Dadas as várias conquistas de territórios tendentes à unificação europeia (fixada a capital em Aix-la-Chapelle) e às reformas internas que empreendeu, Carlos Magno ajudou a definir o espaço da Europa Ocidental (região central e parte da atual Espanha) e fundou o Sacro Império Romano-Germânico, em cujo apogeu dominou um território com 1112000 km² e uma população que variou ao longo dos anos entre 10 a 20 milhões de pessoas.

Carlos Magno destacou-se pelas conquistas militares e pela organização administrativa implantada nos territórios sob o seu domínio.

Como marcas distintivas e fatores de unidade, este soberano promoveu as áreas cultural, educacional e administrativa. O Imperador preocupou-se sobretudo em preservar a cultura greco-romana, investiu na construção de escolas, criou um novo sistema monetário e estimulou o desenvolvimento das artes. Este período histórico é conhecido como «Renascimento Carolíngio». 

Após a morte do imperador, o seu filho não conseguiu consolidar a unidade e o Império Carolíngio desmoronou-se, transformando a Europa numa manta de retalhos lutando entre si, sem que de entre os seus territórios houvesse um soberano com força e prestígio suficientes para conseguir impor-se aos restantes.

Ao longo dos séculos e mesmo durante o Renascimento, vários príncipes encetaram sem sucesso formas hegemónicas de unificação do espaço europeu.

É neste contexto que em 1493, com a queda do Império Romano do Oriente, a herança irá ser reclamada pelo soberano da Rússia. Não obstante, sem sucesso.

De então e até ao século XVIII nenhum outro soberano da Europa tentará assumir-se como Imperador. No entanto, o Império não era mais do que uma miragem, pois na verdade a Europa continuava dividida e em constantes lutas fratricidas. 

Por este tempo a ideia de Império havia-se transmutado em moldes espirituais: a Respublica Cristiana, submetida à autoridade pontifícia, que viria a ser quebrada com a Revolução Francesa em finais desse século (1789). 

Robespierre, embora considerando o ateísmo antirrevolucionário, instituiu o culto do Supremo Arquiteto do Universo, substituindo-o em lugar do nome de Deus. A Igreja Católica deixava assim de constituir religião oficial do Estado.

Em consequência, Napoleão faz-se sagrar e proclamar imperador do Ocidente, obrigando Francisco II da Prússia a abdicar da coroa imperial alemã em 1806. Finava-se assim, o Sacro Império Romano da Nação Germânica que havia tido uma linha de continuidade desde Otão I, em 962.

Pedro Pereira

(continua no próximo número)

 

 

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