PORTUGAL - IDENTIDADE E FUTURO
18-11-2016 - Pedro Pereira
A identidade portuguesa encontra-se em latência desde há séculos, numa forma de vida em perpétua busca da sua individualidade. Fernando Pessoa soube explicá-lo muito bem na sua obra: Mensagem.
O português é um militante da sua impossibilidade. Ser português constituiu, de facto, uma forma de heroísmo.
Num Ocidente laico e hedonista, a sociedade portuguesa tem dificuldade em aceitar o estranho sacrifício que conserva a identidade lusitana.
A última invasão estrangeira (pelas tropas napoleónicas) ocorreu em 1810 (terminou em abril de 1811) e a última guerra civil terminou em 1834, com um país mais dividido do que nunca entre liberais e miguelistas (estes últimos derrotados) após dois anos de guerra fratricida que deixou o país exaurido em termos económicos e demográficos.
Para além destes acontecimentos marcantes, todas as outras grandes catástrofes que assolaram o país em séculos passados, como a terremoto de 1755, constituem para os portugueses de hoje como que eventos ocorridos entre o sonho e a ficção, ocorrendo assim, por banda da maior parte dos cidadãos, um desconhecimento quase total desses acontecimentos. Não obstante a sociedade portuguesa continua grosso modo, profundamente dividida entre conservadores e progressistas, etapa marcada pela Convenção de Évoramonte (26 de maio de 1834), que pôs termo à guerra civil de 1832-1834.
Após a instauração da ditadura salazarista (Estado Novo – 1933), Portugal transfigurou-se num país como que da «5ª dimensão», uma vez que adormeceu para uma realidade não consentânea com a dinâmica que se exigia à nação portuguesa de molde a acompanhar a evolução das sociedades modernas. Foram mais de quatro décadas. Nesse meio tempo o povo foi alheado das grandes transformações que foram ocorrendo no resto do mundo. Os ecos desses acontecimentos chegavam nesses anos a este território muito tarde e a más horas, depois de filtrados numa rede de malha muito estreita.
Temos assim que um dos problemas de Portugal no último quartel do século XX foi o seu «excesso de felicidade», resultante da restauração do regime democrático a partir de 25 de abril de 1974.
Por tal facto, hoje, passadas quarenta e dois anos da restauração da democracia, o país continua sem saber para que lado se voltar em termos de estratégia de sustentação económica. Estranhamente tem dificuldade em despertar da letargia a que se deixou votar pelos sucessivos governos relapsos das últimas décadas, após a euforia da adesão à CEE - Comunidade Económica Europeia (atual UE).
O desencanto relativamente à Europa comunitária apoderou-se dos cidadãos. Este problema, que aparentava ser especificamente português, tem-se revelado com a crise económica que ocorre, ser afinal comum aos restantes países da UE.
Com o despoletar das fragilidades da economia global, Portugal foi acometido pelos sintomas (e agora doença) de uma crise que afinal é de todos. Efectivamente, a Península Ibérica constitui um lugar profético. Profética foi a sua relação com o mundo árabe a partir de 711: o anúncio da tensão que marca a atualidade, as relações entre as nações ocidentais e o islão. Profética foi também a expansão colonial ibérica: um bosquejo da actual globalização.
Na estrada de saída que é o tempo presente do Ocidente, Portugal sente-se de alguma forma no seu ambiente. O futuro que os ocidentais de um modo geral hoje não vislumbram, é o futuro que Portugal sempre teve. Por tal facto ocorre a capacidade inata dos portugueses de inventar e de reinventar-se.
Por tudo isto, constitui este povo, sem sombras de chauvinismos, uma das chaves do PORVIR do Ocidente.
Pedro Pereira
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