Coisas que não deviam acontecer
14-10-2016 - Henrique Pratas
Existem certos acontecimentos sobre os quais não gosto de escrever, porque pura e simplesmente não deviam acontecer, mas acontecem e mais vezes do que o que nós sabemos, e este é um deles.
Ontem a minha mulher que exerce funções na saúde é confrontada com a situação que vos descrevo, uma senhora acompanhada pelo pai dirigiu-se à Unidade de Saúde e num pranto que gela o coração das pessoas que o têm dirigiu-se à minha mulher, depois de a funcionária sem sensibilidade de espécie nenhuma, lhe ter informado que não tinha médico de família. Bem lá contar com bastante dificuldade a história, depois de a minha mulher ter dito à senhora para se aclamar e que vamos fazer tudo para resolver a sua situação. Então o grito de pedido de ajuda decorria do facto de o pais já há dois dias não aguentar nada no estomago e do facto de se ter dirigido primeiro nos dias anteriores ao Hospital e os médicos que atenderam o senhor lhe mandarem fazer um exame cá fora quando o Hospital o podia ter feito de imediato nas suas instalações, mas como não podem ter custos, a solução é mandar fazer cá fora e em clinicas que pertencem a outros médicos, a negociata está generalizada. Bem a senhora levou o pai, fez os exames, pagou do seu bolso e voltou de novo ao Hospital, com um envelope fechado. Foi rejeitada no Hospital informando-a que se devia dirigir a um Centro de Saúde, a senhora chorosa, acompanhada pelo pai lá se fez o que lhe disseram dirigiu-se ao Centro de Saúde e foi confrontada com o facto de às horas a que chegou já só estar uma médica de serviço, mas quando há boa vontade e sensibilidade para as situações de aflição tudo se resolve.
A minha mulher ouviu a história, como a filha que acompanhava o pai, ao contrário deste que demonstrava uma certeza de que não era nada de grave, chorava e estava completamente desorientada porque não sabia o que é que o envelope fechado temia o pior não parava de chorar e com razão, porque é uma atitude normal de quem gosta de um pai, lá lhe foi dizendo aquilo que nós costumamos dizer a senhora tenha calma porque assim não ajuda o seu pai e deixe-me ver que eu vou pedir à médica que veja os exames que traz nesse envelope. Por norma, quando os envelopes quando vêm fechados ninguém os abre a não ser a quem vai dirigido, mas como tinha sido escorraçada do Hospital, pensaram em abrir o envelope com o maior dos cuidados para depois o voltar a fechar, se melhor o pensaram mais rapidamente o fizeram, a médica assim que viu os exames, caiu na cadeira e só disse como é que é possível uma coisa destas, antes de explicar à minha mulher o que é que tinha visto e não era coisa boa. Lá lhe explicou que se tratava de carcinoma (cancro) com uma dimensão enorme no estômago, já com metástases e uma disseminação largada a outros órgãos.
Coloca-se então a questão quem é que vai dar a informação, a médica disse logo que não o ia fazer a minha mulher como não sendo médica não o podia fazer, mas como achava que o devia fazer apesar de ser duro contar a realidade, estava cheia de vontade de ser sincera e contar a verdade, foi proibida pela médica e combinaram que a informação a dar é que se devia dirigir de novo ao Hospital e não sair de lá enquanto nenhum médico tomasse conta da situação e assim foi, a minha mulher vem ter as pessoas e pela cara da minha mulher, a filha apercebeu-se logo que não era coisa boa e antes que a minha mulher, lavada em lágrimas, dissesse alguma coisa já a filha lhe estava a dizer o diagnóstico, “o meu pai tem um cancro”, a minha mulher teve que fazer o que lhe mandaram e dar a informação oficial, mas a oficiosa já lha tinha dado sem dizer nada, confortou-a como qualquer um de nós o faria, disse-lhe o que devia fazer e foi mais longe disse-lhe para ir ter o médico tal ao Hospital tal, porque já tinha falado com ele e que o mesmo se tinha comprometido em esperar pelo senhor para o ver.
Este, meus amigos é o estado ao que a saúde chegou, este é um exemplo que foi conhecido apesar de acontecerem muitos como estes que me escuso de vos contar, ainda há os outros que nós não conhecemos e as pessoas são deixados ao abandono.
Caros concidadãos, militares e outros intervenientes na cena politica, só me resta colocar-lhes uma questão foi para isto que fizeram o 25 de abril de 1974? Se a resposta for não como eu penso que seja o que é estamos à espera para mudar o atual estado de coisas, é que esta situação pode calhar a cada um de nós ou dos nossos familiares e não temos que andar por processos ínvios a tentar solucionar as questões todos os cidadão têm, devem, ser tratados com dignidade e mais não escrevo, porque não consigo calar a minha revolta.
Henrique Pratas
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