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A PALMEIRA

14-10-2016 - Henrique Pratas

Muitos de nós conhecemos as Palmeiras há alguns anos e recentes com mais regularidade porque esta árvore passou a ser da “moda”, mas há uns anos atrás não existiam assim tantas, rareavam ao longo do País agora não.

Não vos vou escrever sobre a mesma ou fazer um tratado tentando fazer uma descrição exaustiva, não vou-me “servir” dela apenas para vos dar um exemplo.

Eu tinha num pedaço de tereno de meus pais uma Palmeira que era centenária, ela viu-me crescer, sim não fui eu que a vi crescer foi ela que o fez e fê-lo pelo menos durante 55 anos.

Mas voltando à linha condutora deste texto, sei que alguém a plantou e tratou dela até ter a consistência para poder crescer sozinha, eu esta fase não a vi porque já me lembro dela bem crescida, e ao longo do tempo que lhes escrevi ela foi crescendo passando por intempéries, por fases em que era mais querida, outras em era considerada mais incómoda, mas ela sempre se manteve firme no local onde a plantaram, estava confinada àquele espaço, nunca incomodava ninguém nem invadia o espaço de ninguém, estava estática, apesar disso, o ser humano que não tem a mesma firmeza, nem o mesmo conceito de espaço ou de saber estar, sempre que podia implicar sem motivos objetivos, dado que era normal que quando o vento soprasse com mais força as folhas abanassem e consequentemente fizessem um pouco mais de barulho, mas era apenas as folhas a baterem umas nas outras, mas como vos escrevi o ser humano é muito complicado e quando isto ocorria ficava incomodadas pelo ruído natural que causava e consequência do fator climatérico, não era uma intenção própria era provocado por fatores que lhe eram alheios, apesar disto tudo com maior ou menor vontade de a deitarem abaixo, coisa a que sempre me opus, ela foi crescendo.

Quem se recorda da existência nas aldeias mais pequenas do País, das Sociedades, assim designadas pura e simplesmente porque eram locais fechados onde se realizavam os bailaricos e os “engatatões” faziam jus à sua condição e muitas das vezes tendo que dançar primeiro com as mães para ver se estas aprovavam o que queriam, dançar com as filhas. As mães controlavam o comportamento e a forma de dançar das filhas não se podia ser arrojado ou podia-se mas tinha que se ser muito hábil, os pais, homens passavam a maior parte do tempo a beber uns copos. Como escrevi tudo isto se passava num espaço fechado, pois eram estas as regras impostas na altura, tempos tenebrosos onde se perversidade em tudo, mas o que recordo dessa época é o “jogo” da sedução, coisa que hoje em dia praticamente não existe. Esta sedução era e é para mim, não um jogo, mas a forma de nos aproximar-mos de alguém de quem gostávamos, para podermos simplesmente dar uma troca de palavras, mas era aqui que se viam os mais competentes, onde entra a capacidade de imaginação e a arte de saber ser e estar tinha que ser muita, porque com os seus olhos bem arregalados as mães punham defeito em todos os pretendentes. Sinais dos tempos, hoje praticamente esta fase não existe, é vamos tomar um café e possivelmente à tarde ou pouco tempo depois já estão na cama. Por aqui se vê que somos um Pais de extremos ou tudo ou nada. Nas Romarias faziam uma correria para que nós lhe déssemos folhas da Palmeira para enfeitar/alindar os eventos que se realizavam e ela apesar de saber o que pensavam sobre ela nunca disse que não e sempre quando solicitado lá se despia um pouco para satisfazer os desejos das pessoas sem reclamar ou demonstrar qualquer tipo de azedume.

A história desta Palmeira culmina com os insetos que vindos de Marrocos se foram instalando nas diferentes palmeiras no País, entraram pelo Algarve e há medida que foram secando de uma mudavam-se para outra e assim sucessivamente até chegar à minha palmeira. Ainda tive uma leve esperança que a mesma não fosse atingida devido à sua grandiosidade, enganei-me, a minha mulher só me deu a notícia mais tarde e eu já não a vi mais até ter secado por completo e ter sido cortada e queimada.

Uma explicação é devida eu escrevi a minha palmeira porque muitos dos meus companheiros de trabalho sabiam onde era o meu terreno e quando iam ter comigo ao Arripiado o ponto de referência era sempre a Palmeira, esta é a razão pela qual a tratei por minha Palmeira e não por qualquer sentimento de posse obsessivo, mas porque algumas das vezes, as árvores os pássaros e outro tipo de arvoredo ou plantas que encontro na natureza me dizem mais do que algumas pessoas e face a algumas atitudes destas começo a afastar-me ou evitá-las cada vez mais, porque não tenho paciência para as alarvidades que dizem ou para o que aparentam ser, gosto de ser genuíno e infelizmente, escrevo eu, não se pode ser assim com todas as pessoas, porque não merecem e algumas mesmo nada.

Tudo isto para vos escrever que connosco se passa precisamente a mesma coisa, nascemos os nossos pais tratam de nós, vamos crescendo, batendo aqui e acolá, mas lá temos os nossos pais para nos ampararem, aqueles que os têm, até que nos tornamos autossuficientes e a partir daí os anos correm sem darmos por isso e tal e qual como a palmeira, existem dias em que gostam mais de nós, outros em que nos fazem as maiores da safadezas possíveis e imagináveis e por fim chegará o dia em que desaparecemos muitas vezes com desgostos, outras mais satisfeitos por termos conseguido fazermos alguma coisa por este País.

Eu acho que cheguei a esta fase estou cansado de pessoas com mau caráter, não tenho paciência para aturar quem não usa a cabeça e muito menos aqueles que são a voz do dono e obedecem cegamente sem questionar o que quer que seja, obedecem e mais nada, passam por esta vida fazendo cópia e cola e ficam satisfeitos com isto, também não tolero que carimbem as pessoas como sendo de direita ou de esquerda sempre me foi mais importante saber o que as pessoas pensam, coerência, princípios e valores, o resto vem por acréscimo.

Comparando com o que os escrevi sobre a palmeira, estou disposto a partir, não idealizei nada disto para o País e nunca fui tão mal tratado pelo Estado que nos devia defender, que é o português, ao contrário de outros Estados para o qual tive o privilégio de trabalhar como o alemão e me trataram brilhantemente, é triste escrever o que escrevi, mas é a verdade o Estado Português trata muito mal os seus cidadãos, na generalidade.

Termino fazendo uma alusão ao último texto publicado no Noticias de Almeirim “ Cá por Coisas”, da autoria de Francisco Pereira para lhe manifestar o meu apreço pelo texto que escreveu e lhe escrever que também eu não tenho nada a ver com isto, escrevo o que sinto sem me rever nesta merda se sociedade, porque cheguei a uma fase em que já não entendo nada disto as pessoas queixam que não têm afetos, ou que têm carências de outra ordem, damos-lhe o que precisam quando é possível e feita a satisfação, já não conhecem o “dono”, não é que queira cobrar faturas, sempre ou quase sempre fiz o que achava que devia fazer de acordo com o que penso e como gostava de ver esta sociedade onde coabitamos, mas caramba o mínimo de gratidão sem qualquer tipo de subserviência. Mas umas vezes querem outras já não querem não entendo nada do que de facto querem, decidam-se de uma vez por todas o que é que querem. Depois reparo noutra atitude que é a desconfiança, as pessoas hoje em dia desconfia de qualquer gesto que alguém tome para ser agradável, prestável ou simpático, anda tudo a olhar para o seu umbigo, mesmo os que o têm mais pequenino.

Neste meu texto, que se poderia prolongar por várias páginas, com os exemplos de vida, vivida não de falsidade mas de carácter e princípios que assimilei dos meus avós e das gentes com quem fui crescendo, entrei numa fase em que não me importo de exceder os limites da razoabilidade, porque quem os define sou eu, e quem não gostar que ponha à borda do prato. Não escrevo para ser simpático ou para descrever atos e factos bonitos, de pompa e circunstância, mas para tentar que as pessoas abram os olhos e assumam a sua condição de seres humanos com vontades e opiniões próprias.

Uma outra das particularidades é escrever o que penso sem ficar a dever nada a ninguém, sem obediências de qualquer espécie a ninguém a não ser a mim próprio.

Henrique Pratas

NB – Utilizei a palavra merda, porque num parecer do Senhor Professor Marcelo Rebelo de Sousa, que sabem quem é, em tempos idos fez um parecer para ser presente ao Supremo Tribunal Administrativo, onde a referida palavra era considerada não como uma ofensa, mas sim considerada como fazendo parte vocabulário corrente, o que foi aceite pelo Supremo, ora se foi aceite é porque é e não há que haver melindres ao utilizá-la.

 

 

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