Protestos Absurdos
03-06-2016 - Henrique Pratas
Assistimos a uma manifestação sob a defesa do ensino privado em Portugal que considero pera e simplesmente de absurda e absurda porquê, porque na minha humilde opinião não faz sentido rigorosamente nenhum passo a explicar o meu ponto de vista.
Constitucionalmente está previsto que o acesso ao ensino será tendencialmente gratuito e o Estado encarrega-se de o tornar acessível a toda a população portuguesa., é certo que sempre existiram Colégios Privados e outros estabelecimentos de Ensino Privado, isto a mim não me choca rigorosamente nada, não entendo ou até posso entender pelas piores razões que os pais dos meninos que se vêm a braços com uma despesa suplementar, dado que os meninos podem continuar no Colégio o Estado é que não comparticipa a estadia dos meninos no Colégio existindo vagas na Escola Pública e muito bem acrescento eu.
Estou perfeitamente à vontade para escrever sobre esta matéria porque os meus dois filhos andaram num Colégio Privado, pelo simples facto de eu não ter condições para que andassem no público, já tinham pensado nisto. Então foi assim eu como pai e nos tempos em que as mães só podiam ficar 3 meses em cas com os filhos que era o tempo de parentalidade, consagrado em sede de Direito do Trabalho. Quando se passaram os 3 meses e dado que os dois trabalhávamos e queríamos estar minimamente descansados e não nos podíamos socorrer dos familiares, porque não os tínhamos, só tinha a minha mãe e não a quis sobrecarregar porque tinha chegado o tempo de ela poder usufruir do resto dos dias da sua vida como muito bem entendia e como queria e eu como filho e pai simultaneamente entendia que eram os pais que deviam tomar conta dos filhos, sim porque isto de ter filhos e coloca-los em casa dos avós para eles tomarem conta é muito fácil, mas eu não acho correto. Entendo que os avós são muito importantes no crescimento dos netos em todas as vertentes com liberdade e não por obrigação.
Como gosto muito de ser coerente criei os meus filhos dessa forma e não me dei mal, aos 3 meses ingressaram num Colégio Privado e só de lá saíram com o 12.º ano, escolheram as atividades de que gostava, a sua socialização iniciou-se mais cedo do que os outros mas nunca me demiti da minha função de pai e a minha mulher da sua função de mãe. Se um casal tem filhos é para o educar e não constituir um encargo para os avós ou outros parentes porque senão corremos o risco e considerando que os avós, normalmente quem toma conta dos netos, têm mais paciência para estes do que tiveram para os filhos e estão numa fase de condescendência deixam os “meninos” fazer tudo, cuidado isto é regra, existem honrosas exceções.
A educação dos filhos, são responsabilidade dos pais, portanto quando pensamos em sê-lo, temos que arcar com as consequências, que são muitas como se sabe.
Mas voltando ao tema como lhes escrevi os meus filhos andaram num Colégio Privado, porque os pais optaram por isso, ou melhor se quiserem, os pais não tinham condições para os ter no Ensino Público porque os horários de trabalho não eram compatíveis com os dos meninos e logo aí tínhamos o caldo entornado. Esta foi a nossa decisão, mas tivemos que fazer contas à vida e apertar o cinto e cortar no que não era essencial para que os meninos pudessem frequentar uma Escola que nos desse dar garantias que eles aprendessem e crescessem como gente que são hoje, a mim afigura-se-me como bem formados mas mais importante do que isso é a opinião das outras pessoas e a forma como eles estão em sociedade e verifico que não é diferente da minha, não têm nada a ver com isto como eu costumo dizer e agora escrevo, são solidários, amigos do seu amigo, profissionais e não abdicam da sua maneira de ser, de pensar e de estar para serem politicamente corretos, como hoje em dia acontece muito com esta juventude e não só vejo gente bem mais velhinha a vender-se por um prato de lentilhas. O caminho foi longo sim foi, foi caríssimo, sim foi, valeu a pena, valeu, não me arrependo rigorosamente de nada. Poderão dizer alguns de vocês mas assim gastou bastante dinheiro, pois gastei, mas para isso tive que trabalhar, dar aulas no ensino superior e aos fins de semana dar formação aos bancários, ganhei muito dinheiro é verdade, investi-o todo na educação dos meus filhos e sem subvenções, ou ajudas estatais ou familiares.
Para melhor ilustrar a minha decisão no Colégio onde os meus filhos andaram, trabalhava-se da maneira como eu fui educado, trabalhos, trabalhos e mais trabalhos e quando não conseguiam durante o ano escolar acabar os livros e os respetivos exercícios, sabiam que durante as férias grandes já tinham sarna para se coçar. Foi assim que fui educado, aprendi a que nada se consegue sem esforço e isto ou se aprende no ensino básico ou nunca mais se aprende, era isto que queria para os meus filhos consegui-o, como têm diferença de 4 anos de idade, quando ela terminou o 4.º ano com uma excelente professora que tinha métodos de trabalho, muito organizada e responsabilizando-os por aquilo que o faziam sem ideias pré-concebidas do que é que está certo ou errado, sabia ouvi-los e questionava-os quais as razões que os levavam a pensar dessa maneira, é assim que se abrem as mentes. Posso-lhes dizer que nunca mais me preocupei em saber se eles estudavam ou não sabiam a responsabilidade que tinham e já sabiam não tinham resultados e não tendo resultados não passavam e eles isso não queriam, logo tinham que se esforçar. Nem o pai nem a mãe, apesar de serem possuidores de cursos superiores tirados no ensino público, se substituíram ou entraram em facilitismos, sempre demos pistas, caminhos, fontes mas a procura não era nossa era deles e para trilharem este caminho do conhecimento tinham que ser eles.
Posso-vos escrever que o meu filho no 11.º ano quis sair do Colégio para ir para o ensino público onde tiraria melhores notas, que lhe permitissem um acesso mais fácil ao ensino superior, não aceitei a proposta dele e disse-lhe, “ meu caro a tua irmã fez o mesmo percurso e entrou no ensino superior e tu vais ter que percorrer o mesmo caminho, porque se der para o torto vens-me dizer que a tua irmã teve outras possibilidade que tu não tiveste”, nestas coisas não vacilo, independentemente de ser mais um ano a suportar os custos inerentes, mas é o que digo não há nada melhor do que ficarmos com a nossa consciência tranquila e estou, não sou dono da vida deles mas dei-lhes os instrumentos necessários e suficientes para terem uma vida digna com princípios, valores e nas áreas onde pretendiam, só gostava que fossem felizes, mas isso aí é muito mais difícil porque vivem numa sociedade que não é a deles nem a minha, porque nos pautamos por princípios valores e não gostamos de esquemas ou facilitismos.
Pegando nas razões, se é que as há eu ainda as não consegui descobrir, a não ser em negociatas estranhas, em facilitismos, de tal manifestação, entendo que se pretende subverter o que está consagrado na Constituição da República Portuguesa, o ensino será universal e tendencialmente público. Estes movimentos só podem surgir de grupos, mais ou menos organizados que em determinada viram no ensino uma fonte de negócio e agora estão-lhe a tocar no seu “negóciozinho” e lá vão ter que viver de uma forma menos abastada e uma das instituições que tem participado e tem tido um papel muito ativo é a Igreja, porque será?.
Nós costumamos dizer quem não tem dinheiro não tem vícios, mas à semelhança do que ocorre na banca ouve uns maduros que abriram uns Colégios, para fazer uns dinheiros, não foi para dar um ensino de qualidade, de rigor e de exigência e agora estão a ver-lhe escapar a árvore das sete pacatas entre os dedos.
Nunca ninguém se lembra da quantidade de pessoas que são analfabetas porque nunca lhes foi dada a possibilidade de ir à escola pública, porque os pais nunca tiveram dinheiro para tal e agora aparecem umas virgens ofendidas, porque os meninos têm que ir para a Escola Pública porque existem, vagas, espaço e professores qualificados, não lhes é negado direito nenhum a não ser se querem Colégios Privados paguem do seu bolso que o comum dos contribuintes já não aguenta mais e há que dar consistência a um desígnio da implantação da República que é a universalidade do ensino para todos.
Termino com uma opinião de Pedro Marques Lopes, que está longe de ser um perigoso, como agora dizem por tudo e por nada, esquerdista radical, que eu ainda não o que é, mas utilizo a expressão que está na moda, para não ser considerado cota.

Não faz sentido nenhum a manifestação que se realizou, a não ser que outros interesses supervenientes estejam na penumbra dos sábios.
Henrique Pratas
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