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RECORDANDO
O MÊS DE MAIO QUE, HÀ POUCO, TERMINOU.

03-06-2016 - Matos Serra

MÊS DA LUTA E DO TRABALHO, MAS TAMBÉM DAS FLORES, DAS INVOCAÇÕES FESTIVAS, DA ALEGRIA E DA POESIA.

Na Grécia Antiga, muito antes da Grécia Clássica de Péricles, e muito mais antes ainda da Grécia amordaçada do FMI… talvez, mesmo, muito antes da Grécia de Hesíodo e da criação da sua TEOGONIA…quando a deusa Maia presidia, no apogeu da primavera, à invocação da fertilidade dos campos, das florestas, dos bosques, dos jardins floridos, das searas, das vinhas, dos pomares e dos olivais, e, também, às festas alegres onde não faltavam a música, a poesia e a dança, naturalmente, nas suas formas coevas, cuja informação não nos chega nítida… em calendários que, em parte, se perdem na noite escura dos tempos… o mês de maio figurava, em terceiro lugar, tomando, em honra dessa deusa grega antiga, o seu batismo que manteve, depois, bem como o lugar que lhe competia, também, no antigo calendário romano, quando Maia tomou, ali, a designação de Flora que, por acaso, figurava, também, na mitologia dos gregos, foi, essencialmente, uma deusa dos romanos e da sua cultura campestre, e se celebrava, também em “maius”, entre o dia um e o dia quinze, o apogeu da primavera.

Nesse tempo antigo e no antigo calendário, antes do juliano, o ano começava em março e a primavera era, efetivamente, a primeira das quatro estações.

O primeiro dia do mês de maio era celebrado como um dia festivo muito especial e destacada a importância de Flora, deusa dos campos férteis, da cultura, das artes e do labor humano… “talvez esteja aí a reminiscência primordial do nosso maio das forças do trabalho…

No nosso calendário atual, em que o mês de maio figura em quinto lugar, embora nos digam que a primavera é a primeira estação, o ano começa a um de janeiro, em que, o inverno tem começado poucos dias antes e vai durar quase três meses, até 21 de março, quando, realmente, começa a primavera… logo, a primeira estação é, efetivamente, o inverno… não sei porque razão se meteu, aqui, a máquina de baralhar.

Mas, deixemos essa confusão e voltemos ao mês de maio… Proponho que não voltemos ao mês de maio como era visto e chamado durante os quase cinquenta anos do chamado Estado Novo, com uma profusão exagerada de procissões, cruzes e peregrinações por tudo quanto eram caminhos e lugares… Dir-me-ão: Qual é a diferença para os tempos atuais? Dir-vos-ei: Quase nenhuma… O mês de Maria, como era dito, com muitas rezas e pagamentos de promessas… em que, cada um esperava um suave milagre que o viesse salvar… do meu ponto de vista, no mês de maio e no primeiro de maio, feriado e dia do trabalhador, teremos que ir redescobri-lo em datas muito marcantes que não devem ser esquecidas… No 1º de maio de 1886, aquando da primeira grande manifestação de mais de quinhentos mil trabalhadores nas ruas de Chicago reivindicando dignidade nas greves que se seguiram em todas as cidades dos EUA… Na organização do 1º Congresso Operário Internacional, em França, no ano de 1891… Na ratificação, pelo Senado Francês, em 23 de abril de 1919, das oito horas de trabalho para o comércio e a indústria, em resultado das lutas anteriores dos trabalhadores organizados nos seus sindicatos… No grande movimento do maio de mil novecentos e sessenta e oito, em França… Nas grandes jornadas que assinalaram o 1º de maio, no Portugal de 1890… Nas ousadas e grandes greves, ações e manifestações de uma grande parte dos trabalhadores portugueses, em 1962… Nas revoltas dos assalariados agrícolas dos campos do nosso Alentejo, também em 1962… No ousado 1º de maio de 1962… Nas greves que, nesse ano de 1962, desencadearam mais de 200.000 operários agrícolas do Alentejo!...

Claro que, jamais poderei deixar de referir o maior e mais extraordinário entre todos, de que guardo memória, o 1º de maio de 1974 que culmina no maior movimento de trabalhadores que o 25 de abril de 1974 impulsionou nas ruas de Portugal…

Já agora… como o mês de maio, além de ser tempo de luta é, também, tempo da assunção e elevação da dignidade pela cultura, pelo conhecimento, pela arte e pela convivialidade poética… não poderei deixar de referir marcos históricos como o 1º de maio de 1324, data dos Primeiros Jogos Florais da Idade Média, realizados em França… O 1º de maio de 1363, data em que, implementados por João I de Aragão, se realizaram os Jogos Florais de Barcelona e foi criado o Consistório da da Gaia Ciência (Poesia), com eleição de uma rainha dos jogos como musa inspiradora.

Tão pouco quero deixar de referir as primeiras três semanas do ano de 1953 em que, tendo apenas dezasseis anos de idade, convivi e acamaradei, enquanto lenhador, na Herdade da Torre, junta à Estação de Portalegre, com o lendário poeta popular rebelde e lutador antifascista, Jaime da Manta Branca ou, Jaime Velez, o “Manta Branca”… Como, também, não quero esquecer o dia 20 de maio de 1954, quando, com dezassete anos, integrado numa malta de ceifeiros, nos campos de Degolados, à sombra de uma azinheira que jamais sabia a idade, á hora do almoço, recebemos, por parte do pastor da herdade a notícia da morte da ceifeira nos campos de Baleizão, acontecida no dia anterior… o nome CATARINA EUFÉMIA não nos foi, na altura, referido… era uma ceifeira do Alentejo, entre muitas, o quanto bastou para que um dos meus camaradas da empreitada, o João Beijoco, que uns anos antes tinha estado, por seis meses, nas enxovias da PIDE, tivesse soltado as lágrimas em catadupas… Ela haveria de tornar-se um símbolo para nós…

E… para terminar, quero apenas referir e apresentar, à ACA, AMIGOS DO CONCELHO DE AVIS congratulações pelo dia vinte e um de maio próximo, passado data dos XIV Jogos Florais de Avis, porque, a luta pela cultura é uma vertente da luta geral pela dignificação humana e… é mais por isso e pela sadia convivialidade cultural que ali se viveu que refiro estes jogos… não pelos três prémios poéticos que ali me foram atribuídos.

Que o mês de maio viva e sobreviva a todos os calendários !

Matos Serra

 

 

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